"Quinze anos, finalmente estava chegando à data tão esperada por Gabriela. Enfim faria quinze anos. Gabi, como a chamavam, era uma doce menina, longos cabelos loiros encaracolados, olhos verdes, e um jeito angelical que só ela tinha.
Gabi vivia com Dona Maria, e passava o dia no orfanato onde Maria trabalhava, brincando com outras crianças, ela crescerá ali com eles. Durante a gravidez a mãe de Gabi teve sérias complicações, contrariando as expectativas dos médicos, ela nascera, porém com um sério problema no coração. A mãe de Gabi, senhora Joana, sempre manteve a fé, mesmo sendo mãe solteira, sendo deixada pelo pai da criança quando revelara a esse que estava grávida, Joana enfrentou uma forte depressão e sentia-se culpada por sua filha não ter nascido com a saúde perfeita. Ela queria a filha, a amava desde que descobrira que a carregava em seu ventre.
Tomada pela fé, e sem conseguir recorrer a mais ninguém, em uma oração Joana fez uma promessa, se seu bebê sobrevivesse à cirurgia, ela só colocaria roupas brancas em Gabi, ela não vestiria outra cor até completar quinze anos. Se por ironia do destino, ou por fé, a bebê passou pela cirurgia e crescia a cada dia, mais linda, e sempre vestindo branco.
Mas aos oito anos Gabi perdera a mãe, a mesma fora assaltada no trabalho no qual trabalhava como caixa, reagindo ao assalto foi atingida por tiro por um dos bandidos e não sobrevivera. Não havia parentes com quem a menina pudesse ficar após essa grande perda, mas a vizinha Maria, a qual também era amiga de Joana, ficou com ela, passando a cuidar como se fosse sua própria filha.
Gabi passava os dias no orfanato com outras crianças, brincando, correndo, e ficando cada vez mais linda e esperta. Porém às vezes quando sozinha, no balanço próximo ao muro debaixo das árvores, a moça deixava lágrimas silenciosas de saudade lhe percorrer a face. Ela precisa se lembrar da mãe, pois enquanto pensasse nela e sentisse sua perda, Joana permaneceria viva em seu coração.
Ela nunca se recusou a usar branco, entendia que estava ali por um milagre. Porém não conseguia esconder que tinha vontade de usar outras cores. Certo dia em frente a uma loja de vestidos de festa viu um lindo vestido rosa e desejou com todas as suas forças poder usá-lo, invejava às vezes as moças que usavam outra cor.
A data de seu aniversário estava muito próxima e nesse dia sabia que estaria livre da promessa que sua mãe fizera. O pessoal do orfanato decidiu fazer uma festa para Gabi, pois quinze anos é a idade mais aguardada por qualquer menina. Ela estava feliz, estaria ali com as outras crianças, que também teriam enfim uma diversão além das rotineiras brincadeiras, e também o mais aguardado o baile.
Mas com quem ia dançar? Quem a conduziria ao centro do palco tocaria suas mãos no momento da valsa? Ela nutria uma paixão pelo filho da cozinheira, um moço bonito, simpático e simples, assim como ela. Eram amigos, apenas amigos.
Olhando para o céu Gabi percebeu que algumas gotas de chuva caiam, adiantou-se e correu para dentro do orfanato, chegando ao salão onde ficavam vários pufes e a televisão percebeu que algumas crianças estavam cochichando, e dando risinhos enquanto olhavam para ela. Então Lilian, uma garotinha fofa de sete anos, lhe pegou pela mão e disse:
- Gabi, a tia Maria está chamando você lá no quarto!
-Hum, não é mais uma das suas pegadinhas né mocinha? Olha se forem me dar susto, juro que pego você e te encho de cosquinhas bem assim – Gabi ergueu a pequena menina e lhe fez várias cosquinhas, não há som mais gostoso de ouvir que uma risada infantil.
Gabi foi até o quarto, ao abrir a porta com o sorriso ainda no rosto, olhou para sua cama e viu o vestido mais lindo que já vira. Era o vestido rosa que vira aquele dia na vitrine da loja. Dona Maria, e outras funcionárias estavam ali, com olhares felizes e esperando sua reação.