1

29 2 0
                                    

Morrer aos 16 anos não deve ser uma coisa comum por aí. Meus pais tentam me motivar, dizem que vou progredir, avançar, dizem que vou vencer essa, mas sei que é apenas para me consolar e convencer a eles mesmos.
Muita gente acreditou em mim, os médicos sempre me encorajavam, diziam já terem casos parecidos - parecidos, não iguais - mas eu nunca coloquei muita fé desde que tudo piorou de vez.
Meu nome é Aurora, e eu tenho uma história para contar.

***

- Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida!! Vivaaa!! - acordei com uma avalanche de gente berrando pelo meu quarto adentro.
Achei que fosse um ataque rebelde, mas era só a minha família.

- Ah, oi gente... - falei meio dormindo e já me levantando - Quem esta de aniversário? - disse abrindo um sorriso.

Eles todos se entreolharam, pude ver como estavam excitantes em falar.

- Então? Que caras são essas? - meu sorriso estava diminuindo.

- Aurora querida - era o meu pai quem falava - É o seu aniversário!

Por isso eu não esperava, todos ali, alegres, com sorrisos na cara e batendo palmas... Pelo meu aniversário??

- Meu aniversário? Serio? - as palmas cessaram - Vocês tem noção de que faço 17 anos só daqui a três meses!?

- Sim querida - tia Caroline, a minha digamos segunda mãe, tomou a palavra - Mas pensamos que iria gostar.

- Não. Não pensaram. Vocês acham que vou morrer é isso! Pior! Vocês tem certeza!!

- Claro que não Aurora! Que ideia é essa? - minha mãe estava tão vermelha que parecia ser feita de fogo - Quer parar com essa história?

- Quer parar, eu? Olha o que vocês estão fazendo comigo!!

- Bom gente, acho melhor descermos para a sala, Aurora, Mary e Tom precisam ficar às sós. - tia Caroline estava quase chorando. Ouvi ela gritar nas escadas "Quem quer torta de morango?" e meus primos menores brigando para ver quem chegaria primeiro.
Depois que todos desceram minha mãe falou:

- Precisava Aurora? Estão todos preocupados com você! Não percebe...

- Calma Mary. - meu pai parecia o mais afetado com toda a situação.

- Calma nada Tom! Olhe para ela - minha mãe apontou o dedo para a minha cara como se eu fosse uma criminosa - É uma ingrata, egoísta! Ela acha que é a única que esta sofrendo com tudo isso, mas não! Todos nós estamos! Eu - agora ela falava com os olhos cravados nos meus cheios de lágrimas - o seu pai, seus irmãos, primos, tios, sua avó, acha que ela não esta sofrendo? Ela me liga toda noite Aurora só para ver se você esta bem! Então porque não tenta fingir estar satisfeita? Pelo menos para eles? Por que quer saber de uma coisa? Não se pode fazer mais nada! Nada! - ela saiu do meu quarto em prantos sem saber para onde ir.

- P-pai... Isso é v-verdade? - todo pingo ou vestígio que eu tinha de esperança, evaporaram depois do que ouvi.

Ele veio até mim e se sentou comigo na cama. Me deu um longo abraço e beijou minha testa.

- Não de ouvidos a ela querida. Claro que não é verdade, você é uma guerreira, e eu te amo.

- Eu tenho tanto medo. Tanto.

Senti mais lágrimas em minhas bochechas. Toquei os meus olhos, mas elas não vinham de mim, sua fonte estava mais acima.

- Esta chorando? - perguntei sem me desfazer do abraço, mas ele não respondeu. - Pai. Eu também te amo.

- Sim querida. Mas agora vamos, vamos logo. - ele levantou da cama num pulo. - Temos que descer. Tia Caroline e seus primos merecem uma recepção melhor, não acha?

- Claro, me troco e vou em dois minutos.

- Te espero na porta. - ele já estava saindo quando eu o chamei - O que é?

- Me desculpe.

- Não é a mim que você deve desculpas. - ele disse com uma voz serena, deu uma piscadinha pra mim, aquele sorriso torto e saiu.

Não estava com a mínima vontade de descer, mas eu não podia deixar todos lá em baixo aflitos. Escolhi um vestido creme, o qual meu primo Tobias dizia vir das mãos de uma fada, porque caia perfeitamente em mim, acabava um palmo acima do joelho, era rodado e por cima do tecido da saia havia uma camada de renda. É, eu realmente havia me superado. Já o cabelo... Que cabelo? Não havia mais cabelo. Mas não me deixei abalar, peguei um laço pequeno também de renda e dei o toque final.
Fui até a porta, e lá estava ele.

- Vamos?

- Uow! Filha, você esta linda!

- Serio? Obrigada.

- Serio Aurora. Sabe - ele enlaçou no meu braço para descermos as escadas - Você sempre foi e sempre vai ser minha princesinha.

- Vai parando, porque, além de eu já estar beeem crescidinha, tem a Anna, ela é sua princesinha.

- É. Você cresceu, e sim, Anna. Mas eu estou falando de você filha. Você. - ele me parou no meio do caminho e olhou fundo nos meus olhos - Sabe bem do que estou falando, não sabe?

Eu não entendi muito bem a conversa. E também nem queria entender. Se era sobre o que eu estava pensando era melhor me ver longe. Já me basta o que estou passando. Então apenas concordei e seguimos.

Quando cheguei na sala todos estavam com alguma função, dava para ver tia Caroline e mamãe na cozinha. Meus primos Louis, Kate e Tobias estavam no sofá junto com meus irmãos, Anna e Lucas, jogando algo no videogame. Havia uma coisa muito boa no ar, e não era a comida, era muito melhor que isso. Amor. Família. Alegria. Isso era melhor que comida. E olha que faltavam mais da metade da turma.

Comecei pela cozinha. Abracei tia Caroline e mamãe. Depois Louis, Kate. Meus irmãos, e claro, não podia faltar, o Tobias, o qual me desafiou para uma partida de videogame.

Ele tem a minha idade, se não me engano, nasceu alguns dias antes de mim, sempre foi tomado como meu irmão mais velho. Tobias é filho adotado de tia Caroline a qual é separada, por isso vive aqui em casa, ajudando minha mãe como pode, isso porque esta de ferias da sua agência. Tobias é digamos, o seu rabo, porque sempre vem atrás dela. Louis e Kate são seus irmãos mais novos, tem quase a mesma idade de Anna e Lucas, a única diferença é que os meus anjinhos são gêmeos ( anjinhos, aham sei ). Mas eles estão aqui só em finais de semana. No restante estudam e em quartas e quintas ficam com o pai.

Tobias nunca foi com a cara do "pai", no caso, tio Harry, desde que ele largou minha tia, mas não gosta muito de tocar no assunto.
Ele já esta quase terminando o ensino médio, e já disse que depois disso larga os estudos pra cuidar de mim. E eu já cansei de falar que não preciso de mais um no meu pé, e se ele largasse os estudos por essa bobagem eu me mataria de uma vez. Não tenho absoluta certeza, mas acho que ele pode ter levado a sério, já que não toca mais no assunto desde então.

Sobre o videogame...

...ganhei de lavada.

Fim do capítulo

_______________________________________

Como primeiro capítulo eu achei esse um pouco pequeno, mas enfim, espero que tenham se interessado pela história. Agradeço desde já!!

AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora