Capítulo Um:

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Melina

Sabe, tem vezes que eu penso que Deus olha para baixo e fica pensando "Hm, será que pessoa eu vou rir da cara hoje?" e, claro, Ele me encontra. Uma criatura tão pequena, mas que Ele não podia deixar de enxergar. Ele estica o dedinho para mim e sorri sacana: "Uh, você foi a escolhida! Tcharam!"

E é nessa parte que eu chego em casa, o apartamento que, até hoje de manhã, eu pensava que iria criar meus filhos com o homem que dizia me amar todos os dias. E esse mesmo homem, nesse exato momento, estava enfiado dentro de uma loira ridícula, na nossa cama.

O mais estranho de tudo é que eu sempre pensei que se um dia isso chegasse a acontecer, meu mundo ia desmoronar, uma dor tão grande que me faria perder o chão. Mas eu não estava assim, o único sentimento que me atingia era a raiva. A raiva de ter perdido sete longos anos da minha vida para acabar tudo assim, da maneira mais escrota que eu podia imaginar.

  — Melina, por favor, volta aqui! — Bernardo começou, levantando-se da cama com o lençol enrolado na cintura.

— Obrigada, mas eu não curto a três. — respondi ríspida enquanto descia a escada sem nem olhar para trás. —  Não ouse me seguir, ou eu juro que corto isso daí com meu alicate de unhas!

Seus passos cessaram, deduzi que tinha realmente se assustado com a minha ameaça.

— Mel, eu juro que isso não significa nada para mim, por favor me escuta! — implorou.

Ah, enfia esse seu falso arrependimento no rabo!

— MEL, ME ESCUTA!

Não fiquei para escutar o resto daquela ladainha que eu sempre ouvia nos filmes ou lia em livros.

"Eu não vou fazer de novo!"

"Ela não é nada para mim!"

"Você é a mulher da minha vida!"

Antes de entrar no meu carro, avistei Bernardo na entrada da casa, a loira exibia um sorriso cínico atrás dele. O ódio subiu para a cabeça, e eu não pensei duas vezes antes de pegar uma pedra, daquelas enormes que enfeitam jardim e arremessar na parte onde eu sabia que mais doeria nele. Claro que se eu não corresse o risco de ser presa por assassinato seria na cabeça, mas eu não o daria esse gostinho.

O alarme do Audi começou a soar logo depois dos vidros se estraçalharem, e com um sorriso no rosto eu ergui o dedo do meio para eles, antes de sair dali acelerando feito louca.

Ouvi o celular tocar e olhei para o banco do passageiro, onde ele estava, encontrando a foto da Elena piscando no display. Ah, claro, a irmã dela é minha vizinha e nesse momento a ruivinha já devia saber de tudo. Malditas paredes com ouvidos!

Ignorei a ligação, acelerando para o único lugar que eu queria estar.

A casa da minha mãe.

Depois de estacionar o carro, e de quebra levar os canteiros com as margaridas (eu não tenho culpa se a vaga é estreita) eu corri para dentro da casa, indo direto para a cozinha, o lugar que tinha certeza que a encontraria.

Todo mundo que conhece Sonya de perto sabe que aquele era o horário sagrado de começar a preparar o jantar. Como uma cozinheira de mãos cheias, ela diz que fazer a comida sem pressa e com carinho é a chave para tudo. Por isso gastava longas horas para preparar o jantar, mas que o papai e meus irmãos, Lia e Nicholas, agradeciam eternamente, de tão bom que era.

  — Mãe... — apareci na porta, a voz fraca e os olhos marejados.

E seria agora que eu desmoronaria.

Meu amor é seuOnde histórias criam vida. Descubra agora