Capítulo III

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Mederi Cartter

Aquele milésimo de segundo causa uma descarga de endorfina no meu corpo. O poder de ter uma vida nas mãos. De ser a dona daquele destino.

Logo logo, será menos um na minha lista.
O gatilho chega a seu limite.

Um estalo.

E nada acontece.

Me sinto empalidecer.

Bernard arfa, incrédulo, e rapidamente volta a correr.

O quê? Estou sem munição? Mas há poucos minutos o pente estava completo!

Não tenho tempo de pensar nisso, assim, largo a arma no chão e sigo Bernard, que está novamente voando ao subir as escadas. Acelero o passo, mas acabo escorregando no mesmo lugar que ele e me seguro no corrimão, sendo obrigada a parar a corrida para não acabar caindo. Bernard olha por cima do ombro, para mim. Chegando no patamar, abre a porta, entrando no andar do prédio onde se encontram as Centrais de Controle de Medicamentos.

Recupero o equilíbrio, e continuo atrás dele. O sangue martela em meus ouvidos, e o meu rosto queima, de raiva e de frustração. Ele podia estar morto agora.
Passo pela porta também, e consigo avistá-lo um pouco mais a frente. Ele para diante de uma sala de alta segurança, identificada como “Central de Armazenamento de Medicamentos - CAM Núcleo XII”.

O cachorro se inquieta no seu colo, como se pressentisse algo assustador. O garoto lança um último olhar para mim e atravessa a parede da sala.

Corro até a porta e procuro meu cartão de acesso.

Ah, diabos!

Deixei-o no quarto do Akira.

Pego o rádio novamente, e grito:

— Andar da CCM! Rápido! Alguém com acesso!

Não vai adiantar. O garoto atravessa paredes. Ele nem estará mais lá.
Em dois segundos, Julius aparece, de arma em punho, e puxa o cartão do pescoço, me entregando.

Corro para o leitor, e abro a porta.
Invadimos a sala fria, que tem nas prateleiras centenas de fármacos em embalagens distintas e devidamente identificadas por etiquetas.

Passeio os olhos por toda a extensão da sala. Como eu esperava, a sala está vazia.
Encosto o corpo na parede. Ponho as mãos no rosto e escorrego o corpo para baixo, sentando no chão. Respiro fundo, sentindo um ataque de nervos se aproximar, e agarro meus próprios cabelos.

Julius se aproxima de mim, lentamente. Ele saca o rádio e comunica:

— O fugitivo evadiu. Repetindo, o fugitivo evadiu. — ele aperta o botão do comunicador, e se agacha à minha frente. — Mederi…

Olho com fúria para ele, entre as mechas vermelhas do meu cabelo.

Julius faz menção de dizer alguma coisa, mas se mantém calado.

— Não. — rosno, e ele entende o recado. Se levanta e sai da sala, me deixando sozinha no chão da Central.

Não é só o fato de ter perdido um fugitivo numa perseguição. É todo o conjunto. A festa, meu fiasco em chamar a atenção de quem eu queria, a fuga deles, a afronta do Stokes, o vestido preto pendurado atrás da porta do quarto de Akira.

Sinto minhas mãos tremerem, e me levanto rapidamente, antes que os frascos de remédios comecem a explodir. Seria algo difícil de explicar a Markus. Corro os olhos pela prateleira de medicações neurodepressoras, e elejo um frasco.

As pílulas verdes. Minhas amadas pílulas verdes.

Sinto os comprimidos escorregarem pela minha garganta, trazendo o torpor que eu gosto tanto de sentir.

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