IV

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Depois do ocorrido eu me sentia inseguro, não me sentia protegido em ficar em casa. Eu tentei me distrair, e pensar em outras coisas que não envolvesse morte, sangue, violência e nem facas de cozinha, só por um tempo. Peguei meu celular e fui escutar algo que me tiraria do mundo um pouco, comecei escutando Melanie Martinez, e terminei escutando Marina and the Diamonds.

Depois do ocorrido fui fazer os deveres de casa, preparei algo para comer e fui tentar dormir. Foi difícil dormir. Não conseguia. Ficava imaginando sobre o dia. Foi o dia mais bizarro na minha vida. Primeiro conheço uma garota popular e linda que me pede se posso acompanhar ela até sua casa, depois sou atacado e encurralado em um beco, depois desmaio por umas cinco horas, e então eu vejo um completo louco em minha casa me dizendo coisas estranhas, depois ainda acordo coberto de sangue em uma avenida, e após tudo isso, eu tinha um maníaco em meu porão rindo como se fosse o dia mais feliz de sua vida. É muita coisa pra um dia só.

Depois de vários minutos refletindo na cama eu acabei pegando no sono. Não me lembro se sonhei com algo, mas me lembro que no meio da noite escutei a porta do meu quarto abrindo. Olhei e não tinha ninguém, saindo e nem entrando, fiquei olhando para ela quando eu notei algo. Logo a frente da minha cama havia uma cadeira de balanço, e ela estava se mexendo para frente e para trás, bem devagar, mas de um modo que alguém tinha acabado de se levantar. Enquando eu pensava, algo saiu das sombras e me disse:

- Neeeeerooooo, eu estou aqui. Nero, Nero, Neroooo...

Ele apareceu mas ainda não enxergava seu rosto. Ele ainda estava sorridente, mas dessa vez ele não estava dando gargalhadas e nem estava nervoso. Seu tom de voz era mais suave mas ainda dava um frio na espinha.

- Nero - Disse o maníaco - Está chegando pertooooo, o nosso grande dia. Será perfeito, só preciso fazer umas coisinhas antes disso. Em quanto isso não acontece, não se desespere. Siga o que sua mente te sugerir. Bons pesadelos Nero...

Eu adormeci como se as palavras dele fossem mágicas.

No outro dia acordei e não me lembrava muito do que havia acontecido, pra mim aquilo não passava de um sonho. Minha mãe desta vez estava acordada. Eu achei tudo bem diferente, e ela ainda havia preparado o café da manhã!

- Bom dia, filho - Disse minha mãe.

Eu achei estranho toda a situação mas respondi:

- Bom dia... mãe.

- Eu queria conversar com você. Posso?

- Ah, pode sim.

- Dois policiais disseram para mim que você havia trancado um maníaco no porão, e que ele conseguiu escapar pela nossa janela. É verdade?

- É sim.

- Você tem certeza que era uma pessoa mesmo? Por que a vizinhança disse não ter visto nada de diferente.

- Eu vi, era um completo estranho e louco por sinal. Mas você acordou de manhã cedo só para fazer perguntas?

- Não. É que eu queria passar mais tempo com você. E eu parei de beber.

- Você o que? Sério? Que fantástico.

- É sim. Eu percebi que não estava sendo uma boa mãe, e que a bebida estava acabando comigo.

- Sim, isso é verdade, tenho que admitir. Bom, obrigado pelo café, já vou indo para a escola, até mais.

- Até mais. Beijos, mamãe te ama.

"Mamãe te ama" eu pensei que nunca ouviria isso dela, ela disse que me ama, minha mãe. Eu fiquei muito feliz por isso. Sempre quis que minha mãe parasse de beber. Já foi dois passos bem longos na nossa relação.

PSYKHÉ PATHOS (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora