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Depois de ter notado de fato o que eu tinha acabado de fazer, me desesperei. Nunca tinha pensado em fazer uma coisa dessas. Mas agora é tarde de mais para arrependimentos. Na minha frente havia o corpo de um estudante da minha escola, o corpo de Marcos. Ele estava sem o dedo mindinho, e com o pescoço cortado. O sangue ainda saia de sua artéria. Envolta de seu pescoço já havia uma pequena poça, e eu não tinha a mínima ideia do que fazer. Foi então que pensei em pegar o corpo dele, amarrar pedras nele e jogar no lago que havia perto da avenida, era uma ótima ideia, a avenida ficava perto da casa de Dominique, e o lago era em baixo da ponte que ligava a avenida a outra. E o sangue no chão. Eu tinha que lavar rápido para não secar e ser quase impossível de se remover. E foi o que eu fiz.

A voz havia desaparecido. Mas eu não me preocupei sobre isso agora. Tinha que limpar o sangue antes de jogar o cadáver no lago. Eu então fui até a casa de Dominique pedir uns produtos de limpeza.

- Dominique. Está aí?

- Oi Nero - respondeu Dominique - O que faz aqui ainda?

- Eu estava fazendo compras. - Eu menti - Mas acabei esquecendo de comprar uma bucha de cozinha, uma escova de chão, sacola de lixo grande e sabão. Você poderia me emprestar os seus, se não for um incômodo, se não tiver problemas? Te devolvo amanhã na escola.

- Ah, mas é claro. Espere um pouco vou lá pegar.

- Okay, obrigado.

Não demorou muito, cinco minutos depois ela veio até o portão e me entregou os materiais.

- Se precisar se mais alguma coisa pode pedir para mim, não será nenhum incômodo.

- Obrigado. Tchau, até mais.

- Tchau.

Então eu corri para o beco. A minha sorte foi grande nesse dia. Não passou nenhum mendigo perto do beco, ou nenhum gari para recolher o lixo que ficava ali perto. Eu então comecei a limpar. O sangue tinha começado a secar em algumas partes, mas eu consegui. O chão ficou mais limpo em algumas partes, mas ficaria menos estranho do que um poça seca. Eu então abri o saco de lixo. Coloquei o Marcos lá dentro, mas o saco ficou com forma de um corpo, óbvio, então eu tinha que carregar o cadáver até o lago sem ser percebido. Verifiquei a rua, não estava movimentando muito. Esperei uns carros passarem, então tomei coragem para ir. Tentei carregar o corpo, porém ele era pesado de mais para mim. Ele tinha um corpo robusto de mais, e eu era fraco, sempre fui magro. Então eu tive que arrastar, puxei ele pelos pés, seria mais fácil se ele não fosse aquele peso todo. Não demorou muito para chegar no lago, foram uns cinco minutos carregando o corpo. Chegando lá, em cima na avenida, eu decidi arrastar o corpo dele para baixo, mas acabou dando errado, e o corpo começou a rolar no meio do caminho, chegou em baixo da avenida mais rápido do que eu correndo. Verifiquei se o saco tinha se rasgado, mas só havia um arranhão e não chegou a rasgar o saco. Eu abri o saco e coloquei várias pedras que encontrei ao redor do lago. Estava pesado até para eu arrastar. Mas foi o que eu fiz. Arrastei o corpo até a margem, e ao lado havia uma pequena ponte para as pessoas que gostam de pescar ficarem lá. Isso era um problema, uma pessoa ao pescar o saco saberia que tinha algo no fundo e poderiam verificar, mas eu não pensei nisso na hora. Só queria me livrar do corpo rapidamente. Subi com o corpo na pequena ponte de pescaria, e joguei ele de lá. Era muito fundo pelo o que eu sabia. Por isso não tinha muito com o que me preocupar. Então eu voltei caminhando de lá, indo até a minha casa como se nada tivesse acontecido.

E a bucha de cozinha e a escova de chão, estavam imundas de sangue, mas já havia secado junto com o sabão. Eu não poderia devolver a ela assim. Então eu iria ao super mercado amanhã, antes da escola.

Chegando em casa notei que minha mãe estava lá. Eu então entrei e vi ela na cozinha, tinha feito um bolo. Ela me viu e disse:

- Oi filho, por que demorou tanto? Preparei o almoço para você mas como você demorou voltar eu o coloquei no microondas.

- Ah, me desculpe mas eu não sabia que faria o almoço hoje. Vou comer agora, estou com fome mesmo.

- Okay. Vou esquentá-lo para você. E depois coma o bolo que preparei, está com uma ótima cara.

- Está bem, eu como depois.

- E filho, os professores da sua escola estão pensando em contratar um psicólogo para a escola. Eu queria participar do que acontece por lá e com você, então eu peguei o cartão dele. Ele começa amanhã, se você quiser ou tiver problemas pode ir lá falar com ele.

- Mas assim do nada? E o seu trabalho o que aconteceu? E por que quer que eu vá até um psicólogo?

- É, quero ser uma mãe mais presente e melhor, como eu tinha dito antes. E sobre o meu trabalho eu saí de lá. Mais um motivo que me fez ir até sua escola. Preciso achar algum lugar que eu possa trabalhar, e lá parece ser bom para mim. Se eu for mesmo ficar lá vou trabalhar como professora de inglês. Estava com saudades de dar aula de inglês mesmo. E eu quero que você vá para ele te aconselhar e ajudar nos seus problemas, sei que você fica a maior parte do seu tempo triste, e eu era a maior parte disso. Então eu quero muito que você vá. Faria isso por mim?

- Ah, claro. Vou ir até ele amanhã. Qual o nome mesmo?

- O nome é Sr.Frank Romero. Está aqui o cartão dele, pegue.

- Okay, vou comer e ir tomar banho. Tenho muito dever de casa pra fazer.

Ótimo, agora tenho um psicólogo, e pelo nome parece ser um velho que entende de toda a vida. Mas estou muito feliz por minha mãe, ela saiu do seu antigo trabalho que era servente de bar, e agora vai me dar aulas de inglês, está muito melhor contando que ela não beba.

Depois de algumas horas, eu finalmente fui descansar, foi um dia muito longo, pesado, e sangrento. Eu tenho que admitir, adorei ver todo aquele sangue saindo do corpo de Marcos. Mas não era bem eu que fiz aquilo, fui influenciado pela voz, e eu fiz por puro impulso, eu não queria matá-lo com a faca, apenas intimidá-lo e fazer ele correr de mim. Mas não foi como eu pensei.

E mais tarde quando estava deitado, acordei com uma pequena voz sussurrando em meu ouvido:

- Ótimo trabalho, Nero.

PSYKHÉ PATHOS (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora