CAPÍTULO 1

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Nova York- 25/05/2013

Eu devia festejar, mas não sinto vontade. Não entendo como um dia que marca e expõe sua idade, avançando em ritmo indesejado, pode ser um dia a se comemorar. Meu palpite é que o glamour e a expectativa que cercam esse dia se devem aos presentes e também ao forte apelo sobre o reencontro com pessoas que você gosta, e até com aquelas de quem você nem gosta tanto. Além de um bom motivo para colocar em prática a maior convenção social de todas: festa.

Não vejo muitos motivos para pensar que essa fase da vida seja tão especial. Para mim, as pessoas supervalorizam a chegada dos dezoito anos. Estou ficando mais velha e é apenas isso. Na verdade, eu até sinto alguma coisa diferente como se algo fosse de fato mudar. Mas acredito que seja apenas reflexo de uma inerente pressão social, como se efetivamente houvesse diferença significativa em ter dezessete ou dezenove anos de idade. A não ser pelas implicações legais às quais me sujeito ao atingir esta idade.

Não queria festa nem comemorações de qualquer natureza, mas sei que algum dos meus amigos aparecerá com um bolo ou uma garrafa de qualquer coisa alcoólica, querendo me deixar animada e disposta o suficiente para celebrar. Eles vivem tentando me arrastar para qualquer lugar, praticamente toda semana.

No dia do meu aniversário a coisa só se agrava, pois para eles, o importante é fazer algo diferente. Não compreendem que este é só mais um dia; um dia um pouco mais atribulado e com mais telefonemas e sorrisos do que o habitual. Mas é só isso! Não representa alegria ou motivo pra festa; pelo contrário, é um período traumático e doloroso pra mim.

Amigos são importantes e são legais na maioria das vezes. No entanto, quando resolvem que querem te ver feliz, baseados nas suas próprias expectativas de felicidade, pode ser um saco.

Geralmente não estou na mesma sintonia apesar de serem bons amigos. Realmente tenho bastante afeição por eles, mesmo quando me chamam de "Carrie". Sinto certo carinho no apelido, pois é como se minhas esquisitices os divertissem.

Exceção justa feita à Carol. Ela é a minha melhor amiga e eu a tenho como uma irmã. Está sempre comigo em todos os momentos desde quando nos conhecemos, há quatro anos. Pode não ser muito tempo, mas sinto como se fosse uma amizade de infância.

Carol está sempre por perto, se preocupa comigo de verdade e eu com ela, mesmo que ela pareça não precisar de nenhuma ajuda nunca. Tão segura, destemida e tão bonita. Will costuma nos chamar de dupla dinâmica. Ele é um amigo legal também, porém, muito distante no que diz respeito a si mesmo, às vezes ele some por dias e ninguém sabe por onde ele andou e quando retorna não comenta absolutamente nada sobre a sua ausência. Sua característica mais marcante é adorar fazer piadas e tirar sarro de tudo e de todos; pra variar, eu sou seu alvo preferido. Ele é muito amigo de Carol. Já eram amigos quando o conheci na faculdade e então se tornou meu amigo também. Apesar de meio misterioso, até que é gente boa.

Carol tem uma ligação especial com Will; quando ela não está comigo com certeza está com ele. Eu sou caseira, gosto de ficar com a minha avó e com as minhas plantas, prefiro ouvir uma boa música em casa do que ficar saindo na noite pra lugares que na maioria das vezes, explora exatamente o oposto do que eu entendo por boa música. Já esses dois são os maiores baladeiros que eu já vi, não sossegam nem em dias de tempestade.

É bem verdade que às vezes ficamos na minha casa só conversando e aproveitando as guloseimas que a vovó prepara e, quase sempre, passamos a noite toda falando de coisas engraçadas ou assistindo filmes. No começo eu achava que eles faziam isso porque se sentiam mal em me ver sozinha. Eles nunca entenderam bem o meu jeito mais reservado, mas sempre o respeitaram. Com o tempo percebi que esses momentos também se tornaram importantes pra eles e especiais pra mim.

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