Capítulo Dois:

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POV's Melina

— Eu tinha mesmo que estar aqui? — suspirei, colocando os cotovelos na mesa e apoiando a cabeça nas mãos, igual uma criança chateada.

— Sim, você tinha. — disse Elena, sem nem mesmo desviar os olhos do cardápio. — Acho que vou querer camarão rosa com risoto de trufas negras, e você?

— Isso daí também.

Eu nem era fã de camarão, mas a minha preguiça de analisar os cardápios chatos com nomes indecifráveis decidiu por mim. Peguei o celular de dentro da bolsa de mão que eu havia levado e fui observando as fotos do instagram, o garçom chegou para anotar os pedidos mas eu nem fiz questão de olhá-lo.

— Vinho Mel?

— É, pode ser. — concordei mantendo minha atenção no celular.

O garçom se despediu e vi Elena quase se deitar em cima da mesa para cochichar comigo.

— Melina do céu, você não sabe o espetáculo que acabou de perceber.

— Uhum. — fiz descaso.

— Eu 'tô falando sério sua ogra! — arrancou o celular das minhas mão, me fazendo soltar um gemido de desaprovação. — O garçom que nos atendeu é o mais lindo que eu já vi na vida!

— Sério Lena, mal chegou e já vai flertar com o coitado? — ergui uma sobrancelha, debochada.

— Vou. — fez uma careta, voltando a se sentar direito e levando o meu celular. Droga! — E você devia fazer o mesmo, olha esse lugar só tem garçom gato. Dá uma olhada naquele loiro ali. — indicou o loiro aparentemente malhado que passava do lado da nossa mesa.

— Eu to correndo de homem Elena, pelo amor de Deus!

— Sério? Tudo bem,seja feliz com seus milhares de gatos e uma barriga de chocolate.

Revirei os olhos, mostrando o dedo mais educado que eu tinha para ela.

Eu não teria gatos e nem barriga de chocolate. Quer dizer, gatos são tão dóceis e carinhosos, por que não ter um, ou sei lá, dois?

Sem minha maior distração, eu passei a observar as pessoas do lugar. A maioria ali eram casais ou pessoas mais velhas, nada de jovens animados e cheios de vida; provavelmente as mais jovens dali, se não contar com os trabalhadores, éramos eu e Elena, com nossos humildes vinte e três e vinte um anos, respectivamente. Era um lugar mais sério, onde as pessoas iam para comer e apreciar música boa.

Um rapaz cantava num palco no canto direito, perto do bar. Sua voz rouca deixava o ambiente mais calmo e me agradava, principalmente por estar cantando um clássico dos Engenheiros do Hawaii, crime perfeito.

— Lena, será que aqui eles têm tequila?

Perguntei, vendo minha amiga franzir o cenho ao me encarar.

— Que foi?

— Tequila Mel? Você por acaso se lembra da última vez que se empolgou com tequila?

Ah, claro, aquela vez!

Era o casamento da minha prima Júlia e a principal atração, pelo menos para mim, eram os shots de tequila. Eu me joguei de cabeça e perdi as contas de quantas tomei. Os garçons até decoraram meu nome, de tantas vezes que ia atrás dele para perguntar se a tequila tinha acabado – detalhe: eu sempre fazia uma beicinho, temendo que a resposta fosse sim. No fim eu já estava chamando Jesus de Genésio, e mal me aguentava em pé. Peguei o microfone com o cantor contratado para animar a festa e fiz um discurso ridículo, envergonhando meus pais e o resto da família. Meu irmão tentou me tirar de lá mas eu me recusei a sair, terminando o meu discurso chorando igual uma criança. Bernardo nem ficou do meu lado, de tanta vergonha.

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⏰ Última atualização: May 30, 2016 ⏰

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