Três.

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        Acordei parecendo que duas mamadas de elefantes tinham passado por cima de mim. Eu já sabia porque. Depois que acabei ontem esperei ele dormir e fui embora.  
     - Acorda Sel! - Ela gritou da porta. - Você tem escola.
   Levantei com muita dificuldade e abri a porta.
    - Eu sabia que não deveria deixar você trabalhar ontem, você tem escola. - Eu bufei e neguei com a cabeça, ainda estava dormindo por dentro. - Essa semana você não trabalha. - Ela deu um beijo na minha testa e saiu.
    Eu era uma das mais novas ali, tinha 17 anos, e fazia isso por escolha própria. Ainda estava no último ano da escola, e isso piorava tudo. Eu tinha que estudar, trabalhar pra ganhar dinheiro, e ter uma vida sem que ninguém da escola descobrisse que eu era assim, porque de descobrissem,  eu iria ser excluída até do time de vôlei.
   Coloquei meu uniforme e passei maquiagem nas minhas olheiras.
    Sai do quarto e peguei um trocado pra comprar um salgado. Dei tchau pras meninas que já estavam acordadas e não encontrei a Carla. Peguei um táxi também, e parei na lanchonete que era bem na frente da escola. Comprei um pão de queijo, ainda era cedo.
     - SELENA! - Ouvi o grito da Taylor de longe. Fazia uma semana que eu não via ela porque fiquei meio doente.
     - TAYLOR! - Gritei e dei um abraço nela. Nós não éramos as mais conhecidas da escola, muito menos as menos conhecidas. Éramos normais, mesmo que a maioria das pessoas nos achássemos muito bonitas e com lindos corpos. Não gostava disso de dividir a escola em grupos de pessoas.
       - Você não vai acreditar... - Ela disse sorrindo enquanto subíamos a escada e eu comia. - Tem um menino novo na sala, ele é MUITO GATO.
      - Então anda. - Puxei a mão dela correndo pra sala. Mas quando entrei lá, a surpresa não foi boa. Era o garoto que eu recusei a trabalhar naquela noite. Era o garoto que sabia que eu era prostituta. E era o mesmo garoto que estava vindo em nossa direção.
    Eu não tinha vergonha do trabalho de prostituição, afinal, era um trabalho. Mas ninguém aceitava direito esse trabalho, e se soubessem que eu era, minha vida acabaria. Nem a Taylor sabia, mas eu também sabia que se eu contasse pra ela, seria natural, nada mudaria, mas eu estava tão insegura.
    Meu corpo gelou naquele momento, tenho certeza que fiquei mais branca que um defunto.
    Ele chegou até nós e sorriu.
      - Selena, oi! - Ele me deu um abraço curto, quis esmagar ele até a morte. Sorri falso e puxei ele pra minha mesa, deixando a Taylor lá sem explicações.
     - Que porra você tá fazendo aqui? - Disse brava. - Aliás, você já não deveria ter acabado a escola? Você não é rico? Você.... Não importa, sai daqui agora.
     Ele soltou um sorriso. - Não vou contar a ninguém que você é prostituta. - Ele riu de novo e olhou pras garotas. - Vim me divertir. - Já sabia qual era a diversão dele.
     - E sim, já era pra eu ter acabado a escola, mas resolvi voltar um ano. - Ele pegou as coisas dele da mesa ao lado e colocou na que estava atrás de mim.
    - Se você ousar falar alguma coisa... Você.... - Não consegui terminar.
    - Você não tinha orgulho do seu emprego? Não foi por isso que me largou lá?
    - Não é bem assim aqui na escola! Você não entende! - Eu gritei, a sala me olhou, mas eu nem liguei. - Eu estou falando sério, eu nem sei como você me achou, mas não vou jogar esse jogo. Vou deixar bem claro: fez algo que eu não goste, irá se arrepender de ter nascido.
     Ele riu e saiu de onde eu estava me deixando sozinha. Taylor veio até mim e me perguntou de onde eu conhecia ele. Eu disse que já vi ele numa festa e se embebedamos juntos, nada mais.
   Esse menino, Justin, pelo que eu sei, era estranho. Num momento tão reservado e no outro tão... Animado.
   Resolvi ignorar a existência dele o dia inteiro pra ver se meu humor ficava bom.

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