Capítulo único.

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Taeyang já estava farto. Não, ele já estava mais do que farto. O seu relacionamento com Jiho estava por um fio, o garoto não conseguia aguentar mais as consequências de cuidar do outro quando este estava embriagado, drogado, ou quando apenas o tratava mal. Taeyang não precisava passar por tal coisa e ele sabia, porém não conseguia deixar Jiho sozinho. Um medo enorme habitava seu coração de deixá-lo só, sabia que o outro poderia cometer algo idiota ou até se acidentar mesmo não querendo.

Mas Taeyang não enganava a ninguém, não era apenas por isso que ele não o deixava. Taeyang amava Jiho, e não era um amor "amigável", como sua família sempre dizia. Era um amor intenso, um amor que nunca imaginaria ter.

Por tradição de sua religião, Taeyang sempre acreditou que se apaixonaria por uma mulher, porém após Shin Jiho aparecer em sua vida, esta ideia se contorceu completamente. Em apenas alguns dias, Taeyang já se via completamente apaixonado por Jiho. Com muitas falhas de tentar se afastar de Jiho, Taeyang finalmente cedeu e se entregou de corpo e alma para o outro.

Já para o outro lado, Shin Jiho não se importava com quem ficava. Homem, mulher, cis, entre outros, não fazia diferença para Jiho. E isso ajudou Taeyang a aceitar-se.

Tudo no começo eram flores, o relacionamento escondido da família de Kim Taeyang que os dois tinham estava funcionando. Claro, Taeyang não iria de jeito nenhum contar a sua família tradicional que estava namorando um garoto, sabia que não iriam aceitá-lo, e que até iriam expulsá-lo de casa se soubessem. Já por Jiho, este não havia ninguém para que pudesse contar a 'novidade'.

Porém, nada é perfeito, e um descuido de Taeyang fez sua vida mudar completamente. Deixando seu celular destrancado na sala de estar, sua mãe encontrou sua conversa em um bate-papo, onde os dois trocavam carícias por texto e por mensagem de voz. Seu pai se enfureceu ao saber disso, e como típico homofóbico, deu-lhe uma surra e o xingou de várias coisas possíveis. Taeyang, que rapidamente avisou o acontecido para Jiho, já estava se arrumando.

"Shin Jiho (00:56): Você não precisa sofrer assim. Estou indo aí."

"You (00:57): Fazer o quê? Não quero que você me veja. Eu estou horrível."

"Shin Jiho (00:59): Não é óbvio? Estou indo te buscar. Saia pela janela, pois eu já estou na estrada."

"You (00:59): ...Não escreva no celular enquanto dirige, idiota."

E foi daí que a vida de Taeyang começou a se contorcer mais ainda. Shin Jiho, que era um príncipe para si, começou a sair tarde de casa para beber com seus amigos e não o convidava. Voltava de madrugada ou até mesmo no dia seguinte. Taeyang, que ia tirar satisfação com seu namorado por causa de suas saídas, só o tornou agressivo. Numa de suas piores discussões, os dois fizeram algo que nunca acharam que ia acontecer. Jiho levou uma de suas mãos ao rosto de Taeyang para um tapa que foi desferido com força, e o outro não deixou barato. Acertando um soco no canto da boca de Jiho, os dois começaram uma briga que quase resultou em um acidente grave.

Depois do acontecido, Taeyang não conseguia mais pensar em nada. Sua cabeça estava lotada de pensamentos. Jiho estava lhe fazendo um mal, mas Tae não conseguia se livrar nem se quisesse desse mal.

A porta estava aberta, a imagem de Jiho saindo desnorteado e furioso de sua própria casa estava gravada em sua mente, seu rosto era coberto por milhares de lágrimas que não hesitavam em sair desesperadamente de seus olhos. Taeyang estava com frio. Estava com medo. Ajoelhado no chão, o garoto apoiou seus cotovelos no chão e começou a orar. Pedia a Deus para que a grande santidade pudesse guiá-lo para o caminho certo, para que tirasse Jiho de sua vida, para que eles não sofressem mais. Pedia libertação.

Decidido a voltar para a casa de seus pais e explicar-se para eles, Taeyang pegou seu casaco peludo que cobria sua face com o capuz e pôs-se para fora da casa.

Era inverno, a neve cobria todos os lugares possíveis, quase não haviam lugares que não estivessem cobertos pelos flocos brancos que lentamente caíam do céu. Passando por perto de um lago, Taeyang parou de caminhar em sua beirada, observando a água quase imóvel. Sorriu. Aquela água o lembrava de Shin Jiho. Frio e misterioso, porém caloroso quando se acostuma. O que havia debaixo daquela água toda? Terra, talvez. Mas o que havia debaixo da terra? O garoto se enchia de perguntas repetitivas e, no final, não encontrava resposta nenhuma.

Foi em questão de segundos. Seu corpo empurrado avançou abruptamente contra a água congelada, e um choque térmico se espalhou pelo seu corpo de uma forma rápida. O garoto não conseguia se mover, sua consciência estava apagando. Ele não aguentaria nem segundos, sabia disso. Como um último pedido, Taeyang fechou os olhos enquanto seu corpo afundava e um filme se passou rapidamente pela sua cabeça. De quando conheceu Jiho num café na companhia de alguns amigos, de Jiho o beijando, o tocando, deixando sua marca em si, de sua proteção.

Agora Taeyang sabia, não tinha como escapar de Shin Jiho. Ele era o único, e o último.

"Senhor... Proteja o meu anjo... Amém"

Tudo o que Taeyang pôde ver antes de perder totalmente sua consciência foi a água se espalhando.

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...Yang, Taeyang! — O garoto não conseguia enxergar, estava tudo embaçado. Ao conseguir abrir seu olho um pouco, notou uma imagem embaçada a sua frente, e não sobrava dúvidas de quem era.

—Jih... — Um abraço forte o interrompeu. Jiho segurava fortemente na cintura de Taeyang, sua cabeça encaixada no pescoço do outro, enquanto com outra mão acariciava seu cabelo. O choro era necessário para os dois, não precisavam de um orgulho maior que a necessidade de se aproximarem um do outro mais ainda.

—Você está bem? — Se separou e acariciou as bochechas de Taeyang. Sem esperar uma resposta, Jiho o agarrou para outro abraço para logo selarem seus lábios de uma forma calorosa e demorada.

—Bem, eu não 'tô morto. — Taeyang riu ao contrário de Jiho, que o olhou sério e tristonho.

—Desculpa por ser um idiota. Eu sei que fui totalmente babaca com você, mas, você sabe, eu não estou acostumado com relacionamentos. Pode não parecer, mas você é o único namorado que eu tive de verdade, como relacionamento sério. No começo, eu pensei que você não iria aturar e iria me largar, te testei de todas as formas e você não me abandonou. As saídas com meus amigos também era um desses testes. Era para ver se você realmente iria me aturar como eu verdadeiramente sou, e você não desistiu nenhuma vez. Eu fiquei tão intrigado, porque ninguém tinha feito algo assim por mim, eu me revoltei e levei esses testes como uma vida realística minha, e então não sei o que deu em mim, mas eu descontei em você. Jeni, me desculpa, por favor. — Ajoelhando-se no chão e curvando sua cabeça, Jiho engoliu o seco. Era quase imperdoável o que ele havia feito, sabia disso. Porém, Taeyang sentou-se na cama e levantou a cabeça do outro, fixando seus olhos nos seus.

—Eu nunca te abandonaria, Jiho, eu prometi, lembra? Prometi que não te abandonaria em circunstância alguma e aqui estou eu. Você não tinha que ter feito isso, mas eu vou deixar passar. — Um sorriso amarelo se mostrou no rosto de Jiho, e não demorou para que eles pudessem novamente se abraçar e se beijarem até caírem novamente na cama. —Hey. — Jiho murmurou enquanto estava acariciando o cabelo de Taeyang. ­—Só me promete que vai parar de se drogar, ok? — Jiho sorriu.

—Eu já parei faz tempo. — Tae lhe lançou um olhar raivoso e contente.

—E por que não me contou?

—Você não perguntou, ué. — Revirando os olhos, Taeyang bufou e encostou sua cabeça no peitoral do outro. —Jeni... ­— O garoto inclinou sua cabeça para poder alcançar os lábios do outro, lhe dando vários selinhos. —Eu te amo. — Taeyang riu.

—Eu também me amo.

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