Celebração

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Quando a noite caiu, a floresta se aquietou, o breu tomou conta daquilo que outrora era luz, os animais diurnos dormiam serenamente em seus abrigos e a quietude tomou conta daquele mundo que a pouco era preenchido pelo canto dos pássaros. Mas não ficou assim, quieto, por muito tempo, pois na selva nem mesmo a noite significa hora de descanso.

Aos poucos, os animais noturnos começaram a acordar. A noite ganhou pequenos pontos de luz quando vagalumes se acenderam, corujas caçavam seu café da manhã e morcegos poderiam ser ouvidos, porém não vistos. Os animais noturnos davam vida a floresta, mas o que a maioria dos humanos não sabia é que eles não estavam sozinhos. O movimento dos animais pela floresta, em seu oculto trabalho, ajudava a despertar as criaturas da natureza.

Aos poucos, os pequenos olhinhos multicoloridos das fadas se abriam e conforme elas saíam de seus abrigos, os vagalumes passavam a não ser mais o único brilho da noite, pequenas ninfas da água emergiam dos riachos e suas barbatanas davam lugar a pernas escamosas, elfos – as criaturas que mais se assemelhavam com os humanos – surgiam de seus abrigos diurnos com seus instrumentos de música rústicos. As criaturas da natureza eram seres mágicos de todas as formas e tamanhos, cada um tinha sua respectiva tarefa na floresta. Era uma terra em que a única lei era o amor. Fadas, ninfas, elfos, gnomos, sereias, dentre outros, viviam em harmonia e saudavam juntos o sagrado feminino e masculino, a natureza que os rodeava e dava vida.

Nessa noite em particular, as criaturas reuniam-se com os animais. Todos se encontraram numa clareira, perto do grande lago, à esquerda na terceira árvore, onde os humanos não poderiam encontra-los. Fogueiras foram acesas, sereias e ninfas do lago emergiram e juntaram-se a festa. Essa festa é uma celebração do Beltane. A chegada do verão. A celebração da plenitude do Deus.

A celebração dos animais diurnos já tinha acontecido e fora linda. Flores de diversas cores ainda enfeitavam o chão e o aroma cítrico dos rituais típicos ainda se propagava no ar. Mas a noite era uma diferente instância. Em volta das primeiras fogueiras, alguns elfos sentavam-se com seus instrumentos rústicos e começavam a tocar músicas suaves de início, as sereias e ninfas da água com suas pernas escamosas caminhavam sobre a terra de encontro a amigos e amantes, pequenos animais começavam a aparecer e se juntavam a festa. A harmonia e a paz que envolviam a clareira era quase palpável.

Fadas e ninfas da terra decoravam tudo o que podiam com flores, enquanto gnomos e anões acendiam mais fogueiras de diversos tamanhos para tudo se iluminar. O lugar tinha sido tomado pela paz, alegria e o cheiro intenso das flores. E para complementar, sátiros chegavam ao local com seus enormes tonéis de vinho e cerveja.

~x~

Mora emergiu da água com destreza e felicidade, sentiu com prazer sua amada cauda lilás com tons claros de rosa se dividir e transformar-se em pernas esguias e escamosas. Com um sorriso, caminhou desengonçadamente sobre a terra sentindo cócegas enquanto a grama roçava seus dedos e pensou quanto tinha saudade daquilo.

Sereias e ninfas apenas podiam caminhar sobre a terra em dias de celebrações – sabbats, esbats, etc. – e Mora contava os minutos e segundos para cada um chegasse, beltane era seu sabbat favorito, sentia-se excitada e agitada sempre que se aproximava. Claro que toda essa alegria era motivada e guiada por apenas um ser: o elfo Aeron. Ambos se conheceram cerca de 200 beltanes atrás e, desde então, amavam-se. A lei da natureza era dura, mas não havia nada que eles podiam fazer além de se encontrarem apenas nas celebrações.

Como em todas as celebrações, assim que Mora saiu da água, vestiu a delicada vestimenta de seda verde – cor proveniente da celebração – que as fadas deixavam disponibilizadas para as sereias e ninfas que quisessem se vestir. Mora podia ser considerada a mais bela das sereias, com curvas acentuadas e convidativas, a sexualidade mais do que evidente – apesar de ser uma sereia – os olhos de um lilás claro que era capaz de não somente hipnotizar marinheiros e pescadores, os lábios cheios, a pele num tom moreno, mulato, e os cabelos castanhos volumosos que caíam em cachos até a cintura.

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