O Assovio da Matintaperera

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Todo mundo tinha medo da última casa no final da rua, ela dava certo para o matagal. Sempre fechada de dia, e com uma luz bem fraquinha pela noite, movimentos contínuos de uma velha lamparina, a casa sempre era rodeada com cheiro forte de tabaco misturado a maconha, principalmente nas noites sem lua, com chuva e frio.

Caleb era um viciado em pasta de cocaína, só fumava pela noite depois do trabalho, ele tinha que fumar escondido de sua família porque todos eram evangélicos, ele sempre convidava seu parceiro Tavinho, um jovem iniciante na arte de fumar pasta de cocaína.

- Porra Caleb, tu sempre vem fumar pra cá, pra porra desse matagal, e logo aqui perto da casa da velha que vira porco e matintaperera.

- Deixa de ser medroso, todo mundo fala dessa mulher, que ela vira porco, que vira matintaperera.

- Merda nenhuma, essa mulher nem mora mais aí. Me passa logo a maconha!

Caleb e Tavinho passavam horas no matagal fumando pasta de cocaína com maconha. Certa vez numa dessas noites, ele viu uma mulher nua com cabelos negros no rosto vindo em sua direção, com uma voz rouca dizia:

- Ei moleque me dá uma tapinha aí dessa tua maconha!

- Porra, que mulher gostosa!

- Cadê ela? Ela desapareceu num vôo e com um assobio estrondoso!

Sorrindo Caleb sempre se lembra desse fato como se fosse uma liga da maconha boa e da pasta de cocaína que era vendida na boca de fumo do Wagner, ele sempre ia comprar lá no fim do canal, na última rua da baixada. Wagner sempre foi temido na baixada, já tinha sido preso por dois homicídios e por vários assaltos á bancos, ele comandava a boca que mais dava dinheiro naquela quebrada, ali vinham viciados de todos os bairros da cidade, ficou famoso por matar e destruir várias bocas de fumos de seus rivais ali da baixada. Tem como parceiro Benezinho e Aline.

Benezinho era o cara que ficava responsável por sua segurança, já Aline era a mina que fazia as finanças, Aline sempre foi apaixonada por Wagner, mas ele só consegue está com ela em seus momentos de solidão. Ela tinha uma cisma, e muita raiva de uma suposta amante misteriosa de Wagner e sempre ficava furiosa porque toda sexta-feira ele mandava todo mundo ir embora de sua casa, todos sabiam que lá ficava trancada uma mulher misteriosa, o mistério persistia porque ele não gostava de tocar no assunto e nunca ninguém tinha visto a tal mulher.

- Wagner você vai receber aquela mulher misteriosa amanhã?

- Porra Aline, eu já te falei que não quero que tu fales nesse assunto.

- Porra, eu tô aqui todo preocupado com o puto do Tonhão.

- Aquele safado, tá aprontando alguma pra me ferrar.

- Porra Wagner, então porque você não me deixa ver ela?

- Égua Aline, deixa esse assunto quieto, você já fez a contabilidade da semana? Amanhã é dia de recolhimento, porra!

Toda sexta-feira em noites de céu negro, sem lua, era o mesmo ritual, quando dava meia-noite em ponto, Wagner, mandava todo mundo sair da sua casa, apagava a luz e deixava sozinha a mulher misteriosa no escuro. Quem passava ali por perto sempre sentia um cheiro muito forte de tabaco e maconha, certo dia numa sexta-feira Caleb tinha ido á uma festa na casa de seu primo, já se passava mais de uma hora da madrugada, Caleb entrou na rua do canal, era uma noite sem lua, estava com neblina muito forte, de repente lhe bateu uma fissura.

- Porra, tô com uma fissura de fumar uma pasta.

- Mas já tá tarde, será que o Wagner ainda tá aí?

Caleb sempre assobiava antes de bater na porta de Wagner. Ao se aproximar da casa dele, ouviu um assovio forte perto do seu ouvido, olhou para trás, mas não viu ninguém, então ele ficou arrepiado e sentiu um forte cheiro de maconha, misturado com pasta de cocaína.

- Porra, o Wagner tá se matando na pasta se der sorte ele vai me dá uma de graça.

- Wagner... Wagner abre a porta aí, é o Caleb... Porra, cara me dá uma de 10!

Caleb abriu a porta que estava só encostada e viu a casa toda escura, mas lá no cantinho tinha uma mulher de costa com vestido negro e cabelos bem longos no rosto. Ela estava perto de uma vela, não falava nada, só fumava um tarugo bem grande de maconha, no mesmo momento lhe baixou um calafrio, mas mesmo assim ele perguntou por Wagner:

- Oi moça, cadê o Wagner?

- Ei moleque, ele não ta, mas agora que você falou comigo vai ter que pagar um preço por isso.

- Amanhã às seis horas da manhã, vou passar na sua casa, vou bater na tua porta e você vai ter que me dá um maço de maconha e pasta de cocaína.

A voz daquela mulher fez Caleb ficar paralisado, porque ele viu um rosto e uma imagem que fez ele se apavorar e lembrar de seus piores medos. Então ele saiu correndo com olhos arregalados soando frio, correu, correu e só parou quando ouviu uma sirene, era o carro da polícia, o policial gritando:

- Mão na cabeça, vagabundo!

- Para aí, se não eu atiro!

- Socorro! Tem uma mulher estranha naquela casa.

- Cala aboca vagabundo, cadê o Wagner?

- Fala cadê o Vagner?

Depois de dar uma surra em Caleb, os policiais decidem invadir a casa de Wagner.

- Ei sargento, vi um vulto dentro casa, deve ser ele.

- Vamos invadir, se ele resistir atira pra matar.

Os policiais cercaram a casa de Wagner e todos viram um vulto preto passar como um vôo de um pássaro e com um cheiro forte de maconha, o vulto preto sumiu no final da rua desaparecendo dentro do matagal. Wagner por ter enganado os policiais e não ter mais pago sua parte no final de semana, acabou sumindo da baixada, ninguém sabe se ele está morto ou se mudou de cidade.

Benezinho acabou morrendo na mão da polícia, Aline esta amigada com um traficante que era rival de Wagner, ela continua com a função de contadora do tráfico, Tavinho ficou ainda mais fissurado pelas drogas e trabalha só pra consumir seu vício, Caleb jura até hoje que viu uma matintaperera, mas agora deu a ela o nome de “coisa do demônio”, ele prega atualmente em uma igreja Quadrangular, e em suas pregações diz que lutou com o demônio revestido de mulher porco: a matintaperera e  que saiu vitorioso, largou as drogas e sempre anda com uma bíblia na mão.

A casa velha no final da rua continua lá, a mulher misteriosa vira e mexe em noites sem lua, com chuvas e fazendo muito frio, sempre aparece próximo a uma boca de fumo, muitos dizem que ela está mais viciada, outros dizem que ela está mais louca, mas ninguém se atreve prometer um baseado de maconha, principalmente em noites de sexta-feira, beirando a meia-noite.          

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⏰ Última atualização: Sep 04, 2013 ⏰

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