Capítulo Único

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Nick Wilde encarava o céu limpo e sem nuvens, franzindo o cenho petulantemente. Ao seu lado, Judy Hopps cantarolava alegremente, animada, enquanto remexia na cesta de guloseimas.

- Ainda não entendi como me convenceu a vir para este piquenique – a raposa resmungou, olhando a coelha lhe lançando um revirar de olhos, ainda sorrindo.

Judy nem sequer tirara o uniforme de policial, embora tivesse enchido a paciência de Nick sobre aquele piquenique a semana inteira, marcando-o no dia de folga dos dois.

- Ah, eu sei que você adorou as tortas de Gideon – ela falou, referindo-se á raposa que vivia em Burrowland, perto da fazenda onde crescera.

O que o deixava mais confuso ainda era a amiga ter-lhe pedido que viesse com sua costumeira roupa social, a mesma que usara quando haviam se conhecido, dois meses atrás.

- Mesmo assim – ele bateu a pata no canto da testa, num sinal de falsa exasperação – por que falou para que eu viesse com essa roupa?

Judy parou o que estava fazendo, sentindo as pequenas bochechas corarem sem seu consentimento.

Preferia enfiar a pata traseira em outra estátua pontiaguda, a confessar que achava que Nick ficava bonito com aquelas roupas.

O fato é que, há alguns dias, tinha percebido que gostava de Nick Wilde muito mais do que deveria. Suspeitava que talvez o quisesse como algo bem mais sério do que um simples amigo.

- Hum... você passaria calor com o uniforme da polícia – murmurou, baixando os olhos violeta de volta á cestinha, sentindo o rosto ainda mais quente.

A raposa ergueu as orelhas, reparando o nariz de Judy chacoalhando loucamente, coisa que só ocorria quando estava muito nervosa.

A lembrança não o agradava.

Da última vez que vira aquele movimento, haviam passado por uma situação ruim. Por algum tempo, Nick havia se convencido de que Judy tinha medo dele.

A relação entre predadores e presas havia quase ruído, devido á tudo que acontecera em Zootopia pouco tempo atrás. Todo aquele conceito de instintos primitivos... e, por um tempo, quase acreditara naquilo.

Tinha ficado feliz em saber que fora apenas efeito das uivantes orquestradas pela odiosa vice-prefeita Bellwether. Aliás, se segurara em definitivamente não despedaçar aquele algodão ambulante, quando ela e seus capangas haviam cercado a ele e Judy no Museu de História Natural.

Mas agora, que tudo voltara supostamente ao normal, e se convencera de que sua amiga não o temia mais, estava vendo novamente aquela demonstração de insegurança surgir de modo inusitado.

Mas por quê?

- Está tudo bem? – Nick indagou suavemente, envergando a cabeça.

Judy sentia um bolo se formando no minúsculo estômago, olhando Nick fitando-a de modo preocupado. Sacudiu a cabeça, sem entender por que o olhar dele sobre ela estava subitamente a desconcertando. O que estava acontecendo?

- Sim. Está tudo bem – a coelhinha piscou, passando as patinhas pelas longas orelhas – acho que esqueci minha caneta.

Não era mentira. Tinha revirado a cestinha em busca do objeto.

Nick sorriu, expondo os dentes afiados num esgar zombeteiro. Levantou o braço, sacudindo a cenoura de plástico.

- Está falando disso aqui? – esnobou, dando uma piscadela – é, como sempre. Raposa esperta, coelha boba.

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