Capítulo 5- World War Three

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-Você ainda está apaixonada!- Clarissa, minha "colega de quarto" recém chegada de sua viagem exclamou de repente durante uma conversa nossa. Antes que eu tivesse chance de acabar com as saudades dela, ela já me enchia com suposições perturbantes. 

-Ainda?!- Defendi-me. –Eu nunca estive, não estou nem pretendo estar!

-Anos dividindo o apartamento são o suficiente para eu saber dessas coisas. Anda, Sam, posso ver nos seus olhos que ainda sente algo, não minta pra mim!- Ela sorriu, lançando-me um olhar malicioso. Seu cabelo loiro e cacheado balançava com o vento.  

Respirei fundo e me encolhi no sofá, sentindo o ar frio entrando pela janela.

-A verdade é que eu nem sei ao certo se alguma vez senti algo concreto por ele. E por não saber que eu também não sei se realmente deixei de sentir, entende? Mas o beijo dele não me sai da cabeça, só isso!- Declarei com algum receio.

-Viu? É porque está apaixonada por ele, essa tal conversa dos dois foi pura mentira por parte dele também, tenho certeza!- Ela disse como se tivesse desvendado meus sentimentos confusos que, aparentemente, só ela sabia entender.

Tentei argumentar que só sentia aquilo por ter sido justamente com ele, num momento inesperado.

-Sente porque quer! Tem um cara lindo, de bom gosto e que te adora a disposição e ainda ignora isso!

-E é verdade, sinto porque quero, porque não quero me envolver com ninguém, não me imagino num relacionamento sério, essa coisa estúpida nem faz sentido!- Falei fazendo uma careta engraçada.

-Isso é que é estúpido, Samantha, você tem que parar de se proibir de algo tão bom. Já pensou o tanto de experiências e oportunidades na sua vida que perdeu por causa dessa besteira de não querer um relacionamento? – Ela falou séria, pela primeira vez desde que voltou de viagem. –E não me venha com essa de que se for a pessoa certa ela vai te esperar, pois não vai!

Revirei os olhos e joguei a almofada nela, que estava sentada no chão da sala. Já estava cansada daquela conversa, e ela sabia mais do ninguém de todos os meus motivos para pensar daquela forma. Levantei-me e fui para o quarto sem ao menos dar Boa Noite á ela, eu amava minha amiga, mas naquele momento ansiava por paz.

Droga, por parte ela estava certa, mas eu não queria admitir.

Era incrível como às vezes aquela garota conseguia me conhecer mais do que eu mesma, todos os sentimentos entalados em minha garganta que eram simplesmente inexplicáveis ela arrumava uma palavra que os descrevesse, e mesmo que não houvesse uma, ela sabia explicar os seus motivos. Mas não, eu não estava apaixonada, e sim, confusa.

Confusa porque o rosto dele não saia da minha cabeça e só de lembrar daquela noite eu já tremia-me até os pés. Confusa porque sempre que o via minhas mãos suavam e as pernas perdiam as forças. O que raios ele estava fazendo comigo há tanto tempo que eu nunca havia percebido? Aquele sentimento estava sempre ali, mas eu nunca havia dado atenção a ele, e justamente agora, ele resolveu se manifestar por completo. Que grande desastre.

O celular ao meu lado alertou que havia alguma nova mensagem, e não me surpreendi ao ver de quem era. Claro que tinha de ser do Diego, justamente naquele momento. Já fazia dias que eu não mantinha nenhum tipo de contato com ele, então pensei em ignorar pela centésima vez ou até em jogar o aparelho pela janela do quarto ,mas não resultaria, decidi então ver do que se tratava.

"Boa noite, maninha, tá tudo bem com você? Faz tempo que nãos nos falamos e já estou sentindo a sua falta, podemos sair amanhã?"

Sair? Só se alguém me desse alguma boa dose de uma droga qualquer para que eu olhasse na cara dele.

"Boa noite. Estou bem e você? Não posso, estarei ocupada."

Senti-me mal, mas tive de inventar alguma mentira para fugir de um possível encontro. Certamente não acabaria bem.

"Wow, quanta seriedade, está bem mesmo?"

"Estou ótima. É que estou bem ocupada mesmo. Não me respondeu se está bem"

"Estou bem sim... Eu entendo que esteja ocupada mas eu queria de te ver, não pode ser durante a semana, a noite, ou no almoço?"

"Não posso. Pode me ajudar com um trabalho de faculdade? Preciso tratar de algumas coisas no computador e você é melhor que eu nisso"

É bom que ele esqueça isso, então vamos juntar o útil ao agradável.

"Não vou poder, estou bem ocupado para falar a verdade. Peça ao Samuel, ele cursa Publicidade, saberá ajudar melhor do que eu. Na verdade eu devia estar dormindo já. Boa Noite e boa sorte, pois pelo visto você tem compromissos demais."

Dessa vez, quase joguei o celular pela janela, mas aquela estava fechada, infelizmente. Se existia alguém mais teimoso e insuportável que eu em momentos de estresse, era o Diego. E o fato de ele ser exatamente igual a mim nisso e em outras muitas coisas me irritava profundamente.

Era como discutir com um maldito espelho.

"Pode ter certeza que tenho compromissos o suficiente por um bom tempo! Não preciso da ajuda dele, podes deixar que eu dou um jeito. Eu sempre soube me virar sozinha e não será problema algum voltar a isso. Tenha uma ótima noite, Diego."

Teclei as palavras com tanta força nos dedos que pensei que iria quebrar a tela , mas aparentemente o pobre guerreiro já estava acostumado com as minhas crises de raiva. Como esperado, ele apenas leu a nem-um-pouco-gentil mensagem e não respondeu, mas ficou off-line no mesmo instante.

Fiz o mesmo e mais uma vez maltratei o pobre aparelho jogando-o no chão. Chegava a ser cômico como nos últimos tempos aquela merda só servia para irritar-me, sempre que eu passava mais de 15 minutos com ele em minhas mãos ligado a internet acaba por ter um surto.

E esse surto continuou quando cobri o rosto com as mãos e as senti molhadas. Lágrimas. Centenas delas, que pareciam aumentar a cada segundo. Eu estava fazendo o que menos queria naquele momento, e isso doía. O fato de estar magoando uma das pessoas que eu mais amava e o medo de perde-la encheu a minha cabeça com coisas terríveis. 

-Sam?- Entre a porta semiaberta do quarto, lá estava ela, me vendo naquele estado deplorável. –O que aconteceu? Ele de novo?

Assenti sentindo minha cabeça doer de tanto chorar. Clarissa veio até mim e sentou ao meu lado.

-Se eu te ver chorar por ele mais uma vez sequer, juro que pego a faca mais afiada que houver nessa casa e corto fora o que ele tem de mais precioso. – Ela murmurou enquanto me abraçava, não consegui evitar rir. –E depois vou te bater para nunca mais se deixar abalar por ele.

-Tem razão.- Levantei-me sentindo como uma criança que precisava do colo de sua mãe. –Eu só não quero estragar as coisas e, não sei, perder a amizade dele. Mas nem estou me reconhecendo mais ultimamente.

-O Diego seria burro demais em se afastar. – Sorrindo, ela abraçou-me uma última vez antes de ir para o seu quarto, com um desejo de boa noite que aqueceu meu peito.

Tirei da cabeça a ideia de que iria perder tudo que importava para mim, e tentei me convencer de que aquilo era só uma fase ruim e eu não iria mais deixar-me ser atingida por besteiras. Peguei meu celular desmontado no chão e remontei-o, uma mensagem nova clareou a tela e me encheu de esperanças, sem nexo, talvez. Mas lá estavam elas fazendo-me tremer. 

SamanthaWhere stories live. Discover now