Primeira Parte

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"Despertar em Carcosa é renascer.

E os abençoados iniciam suas jornadas para se curvarem diante ao Rei."

E agora, enfim, tudo está pronto. Flutuando no ponto de não retorno, sinto-me extasiado. Talvez tenha sido insensato contá-la... mas isso também já está resolvido. Bem resolvido. Se é possível haver algum tipo de arrependimentos a esta altura, bom, é este. Mas, como um peixe que ancora nas areias da superfície, creio que, sinceramente, não importa.

A coroa pesa, posso afirmá-los isso.

O Amarelo efervesce ao meu lado com seu eloquente cheiro de ressurgência. Minha sombra se estende a minha frente. Em algum ponto deste dia ela tomará o mundo. Tomarei o mundo.

Àqueles que em algum momento riram de mim, seres patéticos, fétidos e desprezíveis, não dedicarei nem ao menos a pena. Estes poderão lamentar sob meus risos banhados em seu sangue que fertilizará o Novo Mundo como o esterco, o estrume que são. Como poderiam estes pobres vermes desconfiar que Ele me alcançaria? Como? Ao meu ódio isto não importa... será deleitoso vê-los se tornarem pó. Será satisfatório ouvi-los. Pedirão perdão. Sei que pedirão.

A ela dedico agora alguns pensamentos... a saudade. Apesar de sua audácia. Como pôde me chamar de louco? Como pôde profanar as palavras do Rei dos reis? Imperador dos imperadores! Mas o Amarelo a cobre com o véu, a despeito de tudo.

E é chegado o momento. Dois sóis emergem do horizonte e posso impelir a verdade e saborear o gosto do ar real descendo por minha garganta. O vento que agora bate em meu rosto é o Seu chamado.

Estou indo, meu Rei. Estou indo para tomar um lugar ao Seu lado, para ser guiado pela Sua sabedoria e receber o que é de meu direito. Espalharei Sua palavra e os milênios que seguirão este dia serão lembrados para todo o sempre.

Carcosa emerge! O Rei de Amarelo emerge!

Que o mundo seja lavado.

Sentindo-me vivo neste quarto tomado pelo escuro crescente, sei agora Seu verdadeiro nome. Tenho as respostas. Sei a verdade. Fluo junto ao infinito. Deitando a caneta em minhas últimas palavras como um mero homem, termino o luto pela minha própria vida. E tudo o que você quiser, tudo o que o universo tem a oferecer, Ele te dará. Basta apenas alcançá-Lo. Dar-Lhe a mão. Tudo o que a vida não pôde te proporcionar; o vazio que você sente em seu interior (e, oh, meu irmão ou irmã, eu sei que você sente) irá se esvair.

Basta apenas você querer...

Deixo-meir.    

O Retorno do Rei de AmareloOnde histórias criam vida. Descubra agora