Capítulo Único

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"Com grandes poderes, surgem grandiosas responsabilidades". Não exatamente falada dessa maneira, porém, esta frase sempre martelou em minha mente. Eu poderia ser responsável, mesmo que tivesse um grande poder nas mãos? 

Qual o limite de um poder? Devo lutar por todos igualmente? Até pelas pessoas que são más?

Bem, estou encrencada no momento. Eu tenho um poder, da qual não posso sequer imaginar em usufruir. A sociedade atual, tornou-se rígida e preconceituosa, a medida que os "anormais" cresceram, e juntamente ao crescimento dessa comunidade, a repreensão e o extermínio.

Eu sou uma anormal. E hoje, direi aos meus pais que tenho um dom. Não sei ao certo como chamá-lo. Das minhas mãos, irrompem faíscas vermelhas, e algumas vezes com um pouco de sorte, consigo dar forma à elas. Basta imaginar: pode ser uma flor, uma estrela, mas gosto bastante, quando minhas faíscas assumem formas de borboletas de pura eletricidade. 

Escondo que o possuo, desde os meus nove anos. Começou com leve tremores nas minhas mãos, e inicialmente não dei importância, pois achei que logo passaria. Engano meu. Quando me dei conta, o meu poder estava ficando cada vez mais forte.

Eu até arriscava-me com pequenos truques, lançando faíscas para o alto na escuridão de meu quarto, quando meus pais não estavam presentes, projetando figuras. . E enchia os meus olhos.

Na minha escola, ninguém sabe sobre isso. Eu escondi muito bem o poder que carrego, treinando escondida no sótão da minha mansão. Não me considero habilidosa, contudo, sei fingir muito bem.

Paro perante o salão de devoções do meu pai. Tudo nessa parte da mansão, é decorado com arquitetura oriental, e isso dá uma certa tranquilidade no peito. É a parte da mansão que ele mais gosta, além do escritório. Meu pai, sr. Takeshida, é dono de uma das maiores indústrias farmacêuticas do país, e obviamente, ele deseja que eu seja como ele. Ao me ver, parada na porta, seu cenho franze, voltando-se ao deus de pedra de seis braços. Mamãe está junto à ele, e sorrir ao me ver. Ambos estão trajando kimonos.  Acho que ela compreenderá.

— O que deseja, Cassandra? Espero que seja importante. — Fala em uma voz firme, que me faz estremecer por dentro.

— Pai, o que o senhor acha dos "anormais"? — A mídia sempre os descrevia como monstros e delinquentes. Temia que a opinião do meu pai, fosse essa.

  — Para mim, não passam de monstros, que devem ser exterminados!

Engulo em seco, sentindo um arrepio na espinha. Tenho que dizer agora, ou será tarde demais.

 — Pai... Eu sou uma... — Me interrompi, segurando na barra do meu short, puxando-o para baixo.

  — Uma o quê, Cassandra? Espero que não estejas falando de mais uma nota vermelha em Física!

Junto minhas mãos, formando uma borboleta vermelha de pura energia. Minha mãe, ao ver, fica pasma, como se tivesse visto o diabo em pessoa. Meu pai olha incrédulo para mim. Não consigo decifrar a sua expressão. Talvez, seja raiva. Talvez, seja decepção.

A borboleta dissipa-se, conforme voa para longe. Fiquei feliz com o que fiz. Queria falar o mesmo dos meus pais.

  — Aberração. — Meu pai levantou-se furioso, olhando em minha direção. — Minha filha é uma aberração! 

— Papai...  — Sentia meu coração pulsar desesperado. Não queria ser rejeitada pela minha própria família. Em minha visão periférica, pude ver minha mãe, com o rosto vencido pelas lágrimas, lamentando-se.

— Aberração! — Repetiu, dessa vez, magoando-me.

— Mas, pai, este é o meu poder. É isso que eu sou. É esse o meu poder, e eu gosto do que faço! — Mostro as minhas mãos das quais, pequenas faíscas vermelhas brotam, dançando por entre os meus dedos finos.

Sangue e LágrimasOnde histórias criam vida. Descubra agora