Eu estava do lado oposto à porta da casa e Letícia vinha em minha direção. Não sabia o que ela tinha ido fazer ali. Quem a convidou? Mas a pergunta que eu tive mais medo de formular era: será que ela e André estavam juntos? Se sim, foi bem rápido, né?
Letícia vestia uma blusa preta tão colada, que fazia seus peitos quase saltarem para fora. O short era azul, adornado com umas pedrinhas na frente e ele combinava perfeitamente com o azul clarinho do seu casaco. Por fim, olhei de relance para aqueles all stars que completavam o look estilo vou-ali-na-festa-da-Helena-mostrar-que-estou-com-o-homem-dela.
Não havia vento nenhum na sala, mas os cabelos loiros da nossa querida Letinha balançavam de forma tão sobrenatural que me deu enjoo instantâneo. Falando assim parece que eu estava com inveja dela, não é? É, eu estava. Não de sua aparência, mas do fato da relação dela com André estar melhor que a minha.
— Oi – a garota cumprimentou e eu fiquei esperando ela continuar. Minha mãe se afastou e as pessoas da sala voltaram a não prestar atenção em nós. — Feliz aniversário! Ahn, eu te trouxe isso – ela estendeu uma sacola bonitinha e eu a peguei com receio.
— Você me trouxe um presente!?
— Sim. Bom, é seu aniversário.
Ainda poderia haver a chance de ter algum bicho venenoso ali dentro, então eu já estava preparada. Eu nem sou de esperar o pior das pessoas nem nada, mas achei que era melhor prevenir. Abri o presente e havia uma caixa de perfume dentro.
— Obrigada! – respondi e fechei a sacola. Então decidi falar logo. — Letícia, nós não somos amigas...
— Nós não somos. Eu só vim aqui mesmo por dois motivos. Primeiro: André quer falar alguma coisa com você e eu pedi pra vir junto... Pra fazer companhia, sabe?
Procurei o garoto e o vi parado a uns cinco passos de nós conversando com Bia e Pedro. Ele me olhou nesse mesmo momento e eu desviei o olhar.
— E o segundo motivo? – perguntei, me concentrando apenas no que Letícia dizia.
— Eu te devo uma. Pelo lance da festa do clube, lembra? Você foi muito legal.
— Você não me deve nada.
— Eu devo. Então se precisar de qualquer coisa, seja hoje ou daqui a vinte anos, pode contar comigo. Vai que um dia você precise enterrar algum cadáver, né?
— É!? – abri um pouco mais os olhos.
— Então... Tô indo nessa. Boa festa.
— Quer bolo? – me digam que isso não pareceu estúpido.
— Não, obrigada – ela sorriu e fez um sinal para André vir até mim. Ele quase correu. — Vou conversar com os meninos, até daqui a pouco. – Letícia falou para o garoto e se afastou.
Ficamos um de frente para o outro em silêncio por vários segundos, talvez minutos, a real é que perdi um pouco a noção do tempo. Até que ele coloca as mãos nos bolsos do casaco que usava e se pronuncia.
— Você está tão linda! Eu... Achei que não fosse possível ficar mais do que já era e isso é bem desconcertante. Bom, na verdade eu não vim falar sobre isso – ele coçou a nuca e olhou para minhas pernas. — Será que podemos conversar rapidinho em um lugar mais reservado? – não devo ter reagido à pergunta, pois ele fez outro comentário em seguida. — Você parada me olhando desse jeito, hm, digamos que me deixa com uma timidez que eu nem sabia que tinha.
— Ah! Ahn... Tá – eu ri, talvez de nervoso, e assenti. — Vamos lá no quarto.
Olhei uma última vez para a sala e vi meus pais e o Toni nos observando com curiosidade. Coloquei o presente de Letícia na mesa, enchi as mãos de doces e saí dali com André logo atrás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Verão de HELENA
Teen Fiction"Essa pode parecer só mais uma daquelas histórias clichês, onde a mocinha aparece pela primeira vez na cozinha, conversando com sua mãe e comendo uma maçã. Mas cada história segue um rumo e a minha, que seguia em linha reta, passou a fazer curvas be...