Capítulo 3

29 2 0
                                    

É comum estarmos sempre reunidos na faculdade, estamos na mesma sala, no mesmo grupo de estudos... Enfim, estamos sempre juntos: Carol, Nara, Will e eu. Geralmente o segundo ano de faculdade é assim mesmo, as pessoas já descobriram com quem têm mais afinidade ou já escolheram qual grupo de trabalho querem fazer parte.

O curso de Biologia não foi uma opção e sim uma vocação; é tão natural pra mim que qualquer tema abordado em aula faz parecer muito fácil. Às vezes, parece que Carol escolheu este curso por minha causa. Ela não demonstra muito interesse, no entanto, nunca fica mal em nenhuma atividade.

Já Nara é muito esforçada e disciplinada com os estudos. Nós nos conhecemos na faculdade e a amizade foi quase instantânea, ela é divertida e muito sincera, às vezes um pouco demais, tanto que em muitas situações ela se arrepende imediatamente após ter dito alguma coisa. Mas, como palavra dita não tem volta, frequentemente ela fica sem graça e acaba tentando consertar de um jeito muito peculiar e engraçado.

Hoje mesmo estávamos falando sobre o professor Gerson, o que é um assunto recorrente entre as meninas, por que ele é bem jovem e bonitão. Falávamos sobre como sua aula era agradável em vários aspectos; eu disse que além da beleza ele é bastante charmoso e inteligente e Nara completou:

― Acho que é por isso que ainda não desisti do curso ― sentindo-se sem graça ela desviou os olhos e tentou consertar ― Quer dizer... Claro que não é por isso, mas isso também conta... Aff! Esquece o que eu disse.

Na sexta-feira após a aula eu estava entediada, cheguei em casa e me deitei apesar de ainda ser cedo, já que não tive todas as aulas. Logo senti uma brisa suave no meu quarto e o cheiro era muito bom; cheiro de brisa do mar. Que estranho, de onde vinha esse cheiro? ― pensei apreensiva.

Minha casa estava localizada há quilômetros de distância do mar. Tive uma sensação esquisita e levantei-me, andei até a porta do quarto e a abri, ficando imóvel ao ver bem na minha frente, há apenas um passo, o penhasco mais alto e assustador que já vi; talvez não só pela altura, mas porque ele estivesse bem no meio da minha casa. Olhei pra baixo e só vi um imenso mar, a água clara colidindo de encontro às pedras abaixo de mim. Tinha uns cinquenta metros de altura e o vento era forte, a paisagem era linda: o sol estava se pondo, me senti feliz com aquele lugar sem me preocupar que há alguns segundos eu estava dentro do meu quarto.

Uma calma irreprimível me envolveu, ouvi um som ao longe que parecia uma voz me chamando, mas não era uma voz qualquer. Era linda e eu a conhecia bem, era a voz de Santiago. Aquela voz doce e aquele cenário lindo... Era acolhedor e perfeito. Deixei-me envolver e dei uns passos em direção à voz e quando percebi já estava caindo em direção às ondas que rebentavam nas rochas. O frio no estômago foi imediato e num pulo quase cai da cama. Outro sonho esquisito! Mas desta vez não foi assustador, quer dizer, esquecendo que praticamente me joguei de um penhasco.

Eu sentei na cama e percebi que ainda era muito cedo e, eu só tinha dormido uns quinze minutos. Levantei e resolvi sair do quarto, não conseguiria mesmo dormir novamente, estava muito agitada.

— Alô. Nara? É Any, tudo bem? ― eu precisava sair e a Nara podia ser minha companhia.

— Oi Any, tudo bem sim e com você? Me ligando a essa hora deve ter acontecido alguma coisa. O que foi?

— Na verdade eu queria saber se você tem algum programa pra hoje?

— Não tenho nada de interessante pra fazer, estou até um pouco entediada. Em que está pensando? ― me devolveu interessada a pergunta.

— Eu queria ir até aquele bar da semana passada, não consegui pensar em nenhum outro lugar mais legal e pelo menos lá sabemos que é agradável. ― pronto. Acabou parte da angústia, falei o que realmente queria.

Sombras do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora