Capítulo 07 (parte 02)

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*Acima tem nossa Lorena (mais conhecido como "a pedra no meio do caminho")


Por Thomaz

 _ ...

_ Você sabia disso, Thomaz? _ ela dizia mais alto, agora para si mesma e para mim. Suas lágrimas tremeluziam nos olhos, quando me encarou tão magoada com os lábios apertados tentando conter o choro. _ Todo mundo sabia?

_ Eu queria te contar...

_ Mas não contou. _ ela ainda falava baixo, sem me olhar, apenas me afastando com os braços esticados. Aquela distância começou a me desesperar. Eu andava e ela recuava. _ Eu sou boba. Todo mundo me acha boba. E todo mundo tem razão. _ então me olhou decepcionada, arrasada com tudo que descobria a cada minuto. Vi seu autoflagelo nas palavras que usava para se descrever, para constatar como se definia. _ Você conseguiram me enganar... Porque eu sou boba.

Virou e começou a andar. Obriguei meus pés a irem atrás dela, segurei seu braço e ela me empurrou, com a pouca força que parecia ter.

_ Me perdoa...

_ Acabou, Thomaz. _ela não gritava, não tentava fazer uma cena e despejar toda sua frustração em mim. O que me dava a certeza de que estava falando sério. Mariana estava partindo e me partindo. _ Eu não quero mais saber de nenhum de vocês. Por favor, me deixa em paz.

Deu dois passos para trás, falando isso e me encarando, depois se virou e continuou andando. Meus pés pareciam enterrados em placas de cimentos. Eu tentava obrigar meu corpo a se mexer, mas ele parecia petrificado com o golpe. Nunca imaginei que a reação seria essa. Eu sequer pensei que ela descobriria. Como Valentina foi idiota! Ela achou mesmo que eles nunca se cruzariam com Gustavo trabalhando na porta em frente a minha e Mariana trabalhando no mesmo lugar que ela? Inimaginável foi o tempo que demoraram para se cruzar! Se ela tivesse contado.. Se eu tivesse feito ela contar...

Agora Mariana pensava que tinha sido feito de boba? E o pior é que nem era mentira. Todos nós enganamos ela. Eu enganei minha melhor amiga e ainda por cima ela devia achar que eu estava acobertando Valentina com essa história de que tínhamos recaídas. Eu era tão errado quanto ela. Fui cumplíce e sabia que machucaria minha Pequena. E machuquei.

Meus olhos a acompanharam até que virasse a esquina. Tive que me controlar para não correr atrás dela. E virei caminhando de volta para o estúdio. Estava irritado e absorto em agonia. Valentina descia as escadas com um olhar tão trantornado, o rosto tão vermelho e inchado que minha raiva por ela se dissipou. O que acabou de acontecer me fez compreender todo seu receio.

_ Você viu o Gustavo?

_ Só quando ele desceu e foi embora.

_ Desceu? _ ela olhou pela escada e de volta para mim, num olhar de desespero.

_ Achei que vocês estavam conversando lá em cima. Ele desceu e foi embora. Eles mesmos se descobriram, não foi, Valentina? A Mariana saiu daqui furiosa. Fui atrás dela e... bem... _ apoiei os cotovelos no balcão, ao seu lado, imitando sua posição cansada.

_ Desculpa ter te metido nisso, Thomaz. _ enfiei o rosto entre as mãos e esfreguei tentando dissipar aquele bolo ruim no meio do peito. Tentei forçar um sorriso, mas só me sentia ridículo fazendo careta.

_ Ninguém tá melhor do que ninguém, nessa história toda. _ duas lágrimas desceram por suas bochechas e eu a puxei num abraço, dando um beijo no topo da cabeça. Não tinha mais o que ser dito. Fui embora, deixando Valentina do mesmo jeito que eu: sem um pedaço de si.

Os dias que se passavam eram os piores da minha vida. Se eu achava que era ruim com Mariana fugindo de mim, era muito pior com ela declaradamente me querendo fora de sua vida. Não fui buscá-la para levá-la ao teatro ou esperei após a sessão, olhava para o meu celular esperando uma mensagem ou ligação e nada acontecia. Tudo era vago e vazio. Para piorar, Gustavo não estava com um humor muito melhor que o meu e se ainda não tínhamos brigado é porque estávamos muito ocupados chafurdando no nosso inferno particular. O cara estava infeliz e cheguei a sentir um pouco de pena. Eu sabia que a distância feria. Ele estava pior que eu com a barba por fazer e ficando no escritório mesmo depois que todos tinham ido embora. Até poucos dias, ele era o primeiro a entregar todo o trabalho e se mandar dali para ficar com Valentina. Entendi que a coisa estava feia quando houve a necessidade que um de nós viajasse para vistoriar uma das obras atrasadas e ele se ofereceu.

Doce Surpresa, livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora