Capítulo 8

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Estava ficando louca de tanto tédio, comecei a revirar meu quarto a procura de algo que me salvasse, já que não iria sair com tanta neve caindo lá fora, falta dois meses para o natal e não estou com vontade nenhuma de comemorar. Comecei a fuçar numa coleção de CDs que haviam em uma prateleira na parede, pareciam bem antigos até porque não é todo mundo que usa CDs hoje em dia, depois que lançaram cartão de memória e pen drive ficou mais difícil. Ao remover alguns para ver mais de perto do que se tratava pude perceber um fundo falso na prateleira, coloquei os CDs na escrivaninha e fui analisar do que se tratava aquilo. Tentei empurrar para o fundo e nada, logo o deslizei para o lado e vi que era uma portinha de madeira que assimilava a cor da parede, havia um caderno nesse espaço, como a curiosidade falou mais alto o peguei e fui até a cama, me sentei bem no meio encostada na cabeceira e comecei a folhear o caderno.

"Tive o mesmo pesadelo essa noite, aqueles olhos de lobo faminto não paravam de me vigiar, podia sentir meu tornozelo latejar de dor por conta da corrente grossa que me prendia a esse lugar velho, mofado e cheio de bichos. Talvez Eu não aguente mais, mas junto o que me resta de forças para poder rever Mamãe, Papai, Yan e Valentina novamente. Só percebo que não passa de um pesadelo quando desperto assustada, até quando isso irá durar? Preciso encontrar uma forma de me livrar desse trauma. Tenho medo de que ele vá me infernizar pelo resto dos meus dias, sei que ele morreu naquele incêndio, mas é como se sua alma ainda continuasse comigo só para me enlouquecer de vez."

Quando terminei de ler o que estava escrito fiquei assustada ao imaginar tamanho sofrimento e ao mesmo tempo surpresa por saber que eu encontrei essa forma de desabafar como se fosse um diário. Não sabia da existência desse caderno, ao fechá-lo novamente pude ver escrito "O céu e o Inferno", as letras de cor vermelha destacavam num fundo preto, imaginei que quando bolei essa capa devia querer dizer que "O céu" seriam os momentos bons, "E o Inferno" momentos ruins. Encontrei meu próprio tesouro, isso pode me ajudar a lembrar de algumas coisas, aos poucos fui lendo outras coisas, fui sorteando as páginas para ler aleatóriamente. Quanto mais eu lia era impossível querer parar, mas sabia que tinha que manter isso em segredo, logo que ouvi alguém bater na porta do meu quarto corri para guardá-lo novamente e coloquei os CDs como estavam.

- Quem é? - Perguntei curiosa.

- É eu... - Pude ouvir a voz do Yan do outro lado da porta.

- Eu quem? - Sabia que era ele, mas adorava fazer isso, ele é tão fofo e educado.

- Eu Xoxôh, o seu chelinho. - Respondeu com uma voz tão fofa que quis mordê-lo assim que abri a porta.

- O meu Cherinho e meu Cebolinha. - Brinquei sorrindo. - Aconteceu algo?

- Não... Você quer blincar comigo? - Perguntou com uma carinha de cachorro que caiu da mudança.

- De quê, posso saber? - O olhava com cara de pensativa.

- De vídeo game. - Ele sorriu.

- Está bem, vamos! - Peguei a mãozinha dele e desci com ele para sala de TV.

Impossível negar com essa carinha de pidão, adorava ouvir ele falando, ele tem a língua presa então troca o "R" pelo "L", só quando é no final das palavras que ele fala normal. Tirei meu dia para me divertir com ele, jogamos todo tipo de jogo, até que ele cansou e acabou dormindo no sofá, então desliguei tudo e fui na cozinha comer algum doce. Tia Nahomi me serviu um generoso pedaço de pudim, sentei-me próxima do balcão e comecei a comer. Pude ouvir a campainha tocar, mas nem dei importância, ela quem foi atender, continuei saboreando meu pudim até que duas mãos taparam meus olhos me dando um leve susto. A pessoa não disse nada, mas pelas mãos macias já imaginava quem fosse.

A Carne é Fraca (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora