A Corrida dos Sentimentos

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Quando a Dúvida olhou para o céu, e contemplou mais uma vez suas belas estrelas, lembrou que ainda carregava consigo a pergunta mais difícil de sua vida. Qual delas era a mais preciosa?

O Ciúmes, que não a deixava só em nenhum momento, e sem a Maldade por perto, aproveitou para questionar qual o sentimento mais precioso do mundo.

A Incerteza ouviu tudo com atenção, e propôs a criação de um desafio: uma corrida dos sentimentos. O vencedor seria coroado como o mais importante entre eles.

Com a ajuda não muito precisa da Afobação, no dia seguinte estavam todos os sentimentos e estados alinhados para dar início a maior competição já vista. Guerras não seriam comparadas em tamanho e importância a este evento, dizia um certo Exagero.

Instantes após a largada, a Inconsequência já imprimia um ritmo forte e liderava com facilidade. O Cansaço não demorou muito a alcança-la, e o rendimento de ambos, com o tempo, já não estava de acordo com os concorrentes mais fortes. Atrás deles, apenas a Preguiça.

Em certo momento, a Confiança e a Fidelidade, dividindo as primeiras posições, foram deixadas para trás pela Futilidade que, apesar do bom ritmo, perdeu o foco na prova quando fotógrafos e a imensa torcida, percebendo a histórica disputa, começaram a saudar e aplaudir os participantes.

A Timidez assumiu a liderança, mas os flashes direcionados a ela a afastaram da Convicção. Estavam unidas, e agora separadas pela Ausência. Quando a Ansiedade chegou perto, logo pensaram que o primeiro lugar novamente trocaria de mãos. Não aconteceu, foi apenas uma rápida Percepção que passou por alguns.

Ninguém percebeu quando a Passividade brecou boa parte dos concorrentes, principalmente o Entusiasmo, já sem a Confiança de sempre. Nem a Conciliação pôde fazer alguma coisa, a Hostilidade estava demais.

Na reta final, com tantas mudanças, nem a Sabedoria, atual líder da prova, conseguia prever o resultado final. E para surpresa de todos abandonou a corrida. Não viu sentido algum em dar continuidade à disputa, o que deixou a Previsão boquiaberta, mas compreensiva e nesse momento com a Experiência ao lado.

Deixaram, então, a vitória nas mãos do Ego, que atropelou e ludibriou todos que estavam à sua frente. Ele cruzou a linha de chegada batendo a mão no peito. Colado nele, quase como se fossem apenas um, a Ambição, o Descontrole, a Irresponsabilidade, o Egoísmo, a Alienação e a Injustiça fizeram a festa.

Após a contemplação dos vitoriosos, muito tempo depois, a Felicidade cruzou a linha de chegada. Praticamente ao lado dela, a Falsidade. A Tristeza surgiu logo atrás de ambas, escondida, despercebida pelo grande público, mas saudada como uma irmã pela Profundidade.

Alguém pode ter perguntado, afinal, o que aconteceu com o Amor. Ele desistiu quando percebeu que a Reciprocidade não estava lá. E nem a Esperança o conteve.

A Corrida dos SentimentosOnde histórias criam vida. Descubra agora