Finalmente o corpo dela acorda novamente mas desta vez eu controlo. Há tanto tempo que eu não me mexo. Pobre Ayazinha, foi apanhada de surpresa.
O humano que a pôs inconsciente e raptou-a não é burro, prendeu-a, mas sou mais esperta e mais inteligente por isso consigo desprender-me facilmente.
Estamos no que parece uma arrecadação mas mais vazia que o normal. Antes sequer que o humano entre, eu tinha um plano. Ainda bem que Aya guardou aquela tesoura, nem sabe o jeito que me vai dar.
Volto à posição que estava e finjo que ainda estou inconsciente. A porta abre e um homem entra e começa a mexer em algumas coisas.
-Coitadinha de ti... foste apanhada por mim... - ele risse - mas não te preocupes, eu vou tratar bem de ti!
Ótima oportunidade, levanto-me sem ele perceber espeto-lhe a tesoura no pescoço, ele dá-me um forte pontapé mas nem sequer me dói, este corpo está habituado a males tratos.
Ele tenta gritar assustado mas a única coisa que sai desse movimento é sangue a correr do corte:
-Quem sou eu? Sou o teu pior pesadelo! – sorrio malvadamente e ele fecha os olhos. – Que chato, já morreu... Que pena, gastei a tesoura, agora tenho de ir buscar outro material. Bom, é melhor ir de volta ao corredor antes que ela acorde.
Quando acordo encontro-me no mesmo sitio, mas dói-me a perna, eu não me lembro de ter batido com ela em algum lugar. Nem vale a pena tentar lembrar-me.
Será que algum dos gémeos está preocupado? Tenho a certeza que não, a Mayu não quer saber de mim e o Ichiro, esse é difícil de prever.
Puxo as leggings para cima para ver o estado da minha perna, negra, mas também o que posso fazer? Ponho as leggings bem, levanto-me e ando em direção ao quarto. Demora-me algum tempo pois estou a coxear.
Chego à porta do quarto e abro a porta sem quer saber se acordava alguém.
Tive sorte, estavam os dois acordados e a falar. Quando entrei começaram a olhar para mim. Ichiro abre a boca como se fosse dizer alguma coisa mas eu rapidamente digo:
-Não digas nada e cala-te! – Mayu faz um pequeno sorriso ao ver o irmão calado.
Tiro o casaco e atiro-o para a cadeira onde Ichiro tinha dormido antes.
-Se quiserem comer, trouxe barritas e duas garrafas de água. Estão nos bolsos.
Coxeio até à minha cama, deito-me e faço como a Mayu, tapo a cabeça com o lençol. Oiço atentamente a conversa:
-O que aconteceu com a Aya-chan? – Ichiro pergunta à irmã.
-Não sei, mas ela conseguiu fazer uma coisa espantosa, calar-te... – Mayu risse.
-...não foi nada disso... eu apenas perdi as palavras... – Ichiro responde depois de algum tempo.
-O quê? – Mayu diz admiradamente – Tu estás a corar?
-Não! – Ichiro grita.
-Estás mais vermelho que um tomate! – Mayu exclama.
-Como queiras... – diz Ichiro com desprezo.
Não quero mais ouvir fofoca. Forço-me a dormir e esqueço de tudo o resto.
No dia seguinte, acordo fria e sozinha.
Olho em volta e há uma nota na minha mesa de cabeceira. Pego-a e leio-a:
"Aya-chan se vires esta nota é porque ainda não voltamos. Devem ser mais ou menos 6h e ouvimos gritos. Estou a escrever à presa, nós vamos à procura de quem necessita de ajuda. O teu querido Ichiro <3 ."
Rasgo a nota, ele é tão irritante. Deveria ir à procura deles? Ou será melhor ficar aqui?
As possibilidades de eu os encontrar se sair do quarto são mínimas, é melhor ficar aqui. Olho para o meu casaco, eles devem ter comido algumas barras de cereais.
Levanto-me e vou pegar numa. Parto-a ao meio e como essa parte. Guardo o resto para uma outra vez. Ainda tenho sono, bocejo e vou-me deitar virada para a parede.
Acordo desta vez quente e sinto logo um braço à volta da minha cintura, tento-me virar mas não consigo.
-Bom-dia Aya-chan! – oiço perto de mim e percebo que é Ichiro que me está a agarras.
- O que estás a fazer aqui? – questiono quase a gritar, não aguento ter contacto físico durante muito tempo.
-Não me digas que não gostas... – ele agarra-me com mais força contra ele.
Ele começa a brincar com o meu cabelo com o polegar e o indicador, fazendo com que o meu cabelo ondulado se enrole no dedo dele.
-Podes largar-me? – pergunto com uma certa ansiedade.
-Não, és demasiado confortável. – ele responde-me sem notar o meu tom desesperado.
-Por favor... – tento suplicar.
-Porquê? – Ichiro pergunta-me.
Nesse momento, Mayu salva-me dizendo:
-Não percebes que estás a incomoda-la?
Ichiro larga-me e sai da minha cama e sem mais nada sai do quarto.
Acalmo-me e sento-me virada para Mayu, para lhe agradecer, mas percebo que há mais alguém no quarto, um rapaz, deitado na outra cama.
-Quem é? – pergunto a ela.
-Foi quem gritou de manhã, encontramo-lo espancando. Tive de tratar das feridas
-Trataste dele sozinha?
-Claro, sou estudante de medicina– ela sorri – E para além disso o meu irmão estava colado a ti, por isso não foi de grande ajuda.
Sinto a cara a arder-me, devo estar a corar, detesto a maneira como ela disse aquilo.
-Achas que ele voltará? – pergunto-lhe para mudar de assunto.
Mayu volta para a sua cara séria.
-Talvez, não tenho a certeza. Acho que ficou chateado com o que disse.
-Vou procurá-lo. Não queremos que ele fique como esse rapaz. – aponto para o rapaz espancado.
-Boa sorte, Aya.
Ela pronunciou o meu nome. Deve ter significado algo, mas o quê?
Sem pensar muito mais no assunto saio do quarto e encontro Ichiro sentado ao lado da porta no chão a olhar para a outra parede. Ao ouvir os meus passos ele diz:
-Vai-te embora, Mayu!
-Sou eu... – digo-lhe.
Sento-me do outro lado da porta e olho para ele.
-Ah... Aya-chan... – ele continua a olhar para a parede, sem olhar para mim.
-O que aconteceu contigo, playboy? – pergunto-lhe sarcasticamente.
Ele sorri e finalmente olha para mim.
-Conheci-te...
Uma das minhas sobrancelhas sobe.
-Estás a gozar, não é Ichiro-chan?
Ele sorri ainda mais com a minha pergunta e responde:
-Nunca.
A minha cara volta a arder, não pelo que ele disse, mas porque ele parece sincero.
-És tão fofa, Aya-chan~! – ele risse – Especialmente quando coras~!
Sinto-me mal, não por nada do que aconteceu, mas porque de repente começo a ter dor de cabeça. Sinto a minha visão à roda.
-Aya? – oiço Ichiro a perguntar preocupado.
Não consigo responder e a única coisa que faço é por a mão na cabeça e cair para o lado.
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Memento Mori - Lembrem-se Que Somos Mortais
Mystery / ThrillerAya era uma rapariga normal de 17, até que um dia acorda num quarto de hospital. Encontrando o lugar abandonado, a rapariga tenta encontrar o motivo de isto tudo estar a acontecer. A partir desse momento a sua vida parece dar uma reviravolta, que...