Capitulo 4

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Finalmente o corpo dela acorda novamente mas desta vez eu controlo. Há tanto tempo que eu não me mexo. Pobre Ayazinha, foi apanhada de surpresa.

O humano que a pôs inconsciente e raptou-a não é burro, prendeu-a, mas sou mais esperta e mais inteligente por isso consigo desprender-me facilmente.

Estamos no que parece uma arrecadação mas mais vazia que o normal. Antes sequer que o humano entre, eu tinha um plano. Ainda bem que Aya guardou aquela tesoura, nem sabe o jeito que me vai dar.

Volto à posição que estava e finjo que ainda estou inconsciente. A porta abre e um homem entra e começa a mexer em algumas coisas.

-Coitadinha de ti... foste apanhada por mim... - ele risse - mas não te preocupes, eu vou tratar bem de ti!

Ótima oportunidade, levanto-me sem ele perceber espeto-lhe a tesoura no pescoço, ele dá-me um forte pontapé mas nem sequer me dói, este corpo está habituado a males tratos.

Ele tenta gritar assustado mas a única coisa que sai desse movimento é sangue a correr do corte:

-Quem sou eu? Sou o teu pior pesadelo! – sorrio malvadamente e ele fecha os olhos. – Que chato, já morreu... Que pena, gastei a tesoura, agora tenho de ir buscar outro material. Bom, é melhor ir de volta ao corredor antes que ela acorde.



Quando acordo encontro-me no mesmo sitio, mas dói-me a perna, eu não me lembro de ter batido com ela em algum lugar. Nem vale a pena tentar lembrar-me.

Será que algum dos gémeos está preocupado? Tenho a certeza que não, a Mayu não quer saber de mim e o Ichiro, esse é difícil de prever.

Puxo as leggings para cima para ver o estado da minha perna, negra, mas também o que posso fazer? Ponho as leggings bem, levanto-me e ando em direção ao quarto. Demora-me algum tempo pois estou a coxear.

Chego à porta do quarto e abro a porta sem quer saber se acordava alguém.

Tive sorte, estavam os dois acordados e a falar. Quando entrei começaram a olhar para mim. Ichiro abre a boca como se fosse dizer alguma coisa mas eu rapidamente digo:

-Não digas nada e cala-te! – Mayu faz um pequeno sorriso ao ver o irmão calado.

Tiro o casaco e atiro-o para a cadeira onde Ichiro tinha dormido antes.

-Se quiserem comer, trouxe barritas e duas garrafas de água. Estão nos bolsos.

Coxeio até à minha cama, deito-me e faço como a Mayu, tapo a cabeça com o lençol. Oiço atentamente a conversa:

-O que aconteceu com a Aya-chan? – Ichiro pergunta à irmã.

-Não sei, mas ela conseguiu fazer uma coisa espantosa, calar-te... – Mayu risse.

-...não foi nada disso... eu apenas perdi as palavras... – Ichiro responde depois de algum tempo.

-O quê? – Mayu diz admiradamente – Tu estás a corar?

-Não! – Ichiro grita.

-Estás mais vermelho que um tomate! – Mayu exclama.

-Como queiras... – diz Ichiro com desprezo.

Não quero mais ouvir fofoca. Forço-me a dormir e esqueço de tudo o resto.

No dia seguinte, acordo fria e sozinha.

Olho em volta e há uma nota na minha mesa de cabeceira. Pego-a e leio-a:

"Aya-chan se vires esta nota é porque ainda não voltamos. Devem ser mais ou menos 6h e ouvimos gritos. Estou a escrever à presa, nós vamos à procura de quem necessita de ajuda. O teu querido Ichiro <3 ."

Rasgo a nota, ele é tão irritante. Deveria ir à procura deles? Ou será melhor ficar aqui?

As possibilidades de eu os encontrar se sair do quarto são mínimas, é melhor ficar aqui. Olho para o meu casaco, eles devem ter comido algumas barras de cereais.

Levanto-me e vou pegar numa. Parto-a ao meio e como essa parte. Guardo o resto para uma outra vez. Ainda tenho sono, bocejo e vou-me deitar virada para a parede.

Acordo desta vez quente e sinto logo um braço à volta da minha cintura, tento-me virar mas não consigo.

-Bom-dia Aya-chan! – oiço perto de mim e percebo que é Ichiro que me está a agarras.

- O que estás a fazer aqui? – questiono quase a gritar, não aguento ter contacto físico durante muito tempo.

-Não me digas que não gostas... – ele agarra-me com mais força contra ele.

Ele começa a brincar com o meu cabelo com o polegar e o indicador, fazendo com que o meu cabelo ondulado se enrole no dedo dele.

-Podes largar-me? – pergunto com uma certa ansiedade.

-Não, és demasiado confortável. – ele responde-me sem notar o meu tom desesperado.

-Por favor... – tento suplicar.

-Porquê? – Ichiro pergunta-me.

Nesse momento, Mayu salva-me dizendo:

-Não percebes que estás a incomoda-la?

Ichiro larga-me e sai da minha cama e sem mais nada sai do quarto.

Acalmo-me e sento-me virada para Mayu, para lhe agradecer, mas percebo que há mais alguém no quarto, um rapaz, deitado na outra cama.

-Quem é? – pergunto a ela.

-Foi quem gritou de manhã, encontramo-lo espancando. Tive de tratar das feridas

-Trataste dele sozinha?

-Claro, sou estudante de medicina– ela sorri – E para além disso o meu irmão estava colado a ti, por isso não foi de grande ajuda.

Sinto a cara a arder-me, devo estar a corar, detesto a maneira como ela disse aquilo.

-Achas que ele voltará? – pergunto-lhe para mudar de assunto.

Mayu volta para a sua cara séria.

-Talvez, não tenho a certeza. Acho que ficou chateado com o que disse.

-Vou procurá-lo. Não queremos que ele fique como esse rapaz. – aponto para o rapaz espancado.

-Boa sorte, Aya.

Ela pronunciou o meu nome. Deve ter significado algo, mas o quê?

Sem pensar muito mais no assunto saio do quarto e encontro Ichiro sentado ao lado da porta no chão a olhar para a outra parede. Ao ouvir os meus passos ele diz:

-Vai-te embora, Mayu!

-Sou eu... – digo-lhe.

Sento-me do outro lado da porta e olho para ele.

-Ah... Aya-chan... – ele continua a olhar para a parede, sem olhar para mim.

-O que aconteceu contigo, playboy? – pergunto-lhe sarcasticamente.

Ele sorri e finalmente olha para mim.

-Conheci-te...

Uma das minhas sobrancelhas sobe.

-Estás a gozar, não é Ichiro-chan?

Ele sorri ainda mais com a minha pergunta e responde:

-Nunca.

A minha cara volta a arder, não pelo que ele disse, mas porque ele parece sincero.

-És tão fofa, Aya-chan~! – ele risse – Especialmente quando coras~!

Sinto-me mal, não por nada do que aconteceu, mas porque de repente começo a ter dor de cabeça. Sinto a minha visão à roda.

-Aya? – oiço Ichiro a perguntar preocupado.

Não consigo responder e a única coisa que faço é por a mão na cabeça e cair para o lado.


Memento Mori - Lembrem-se Que Somos MortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora