1 - um estranho bate a porta

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Lá estava eu, de pouca fala, rodeada de tudo, mas por dentro algo chamava para fora. Era inverno no Rio, o frio já beijava minha pele. Mas eu sentia que algo dentro de mim pedia uma coisa para me completar, mas não sabia o que. Quem sabe o amor? O sucesso? Ninguém está aqui para nos responder.

Sempre andei os mesmos passos do dia que já foi e nenhuma mudança cruzava com as ruas que me sorriam todos os dias. Minha vida poderia ser emoldurada na vitrine de qualquer atacado nas cidades, - e vendida como tantas outras - pois não fugia da normalidade que me era cotidiana. Ela talvez era produto dos hábitos que tive: boas notas, prestativa em casa, sempre ajudava os mais velhos na rua. O possível diagnóstico de mim mesma apontaria para uma garota sorridente, boba e feliz. Mas algo estava fora do lugar.

Não posso dizer, porém, que o vazio que tomava lugar em meu peito era algo estranho. Eu não fazia questão de expulsá-lo de minha morada. Talvez tivéssemos uma relação? Que ideia idiota. Ninguém deseja ter algo em si que só puxa para baixo. Preciso ressaltar, amigos não me eram escassos. Os poucos que me faziam companhia eram de grande valor. Mas você sabe, nosso interior ninguém pode preencher. Ou era o que eu achava. Nunca fui das que acreditavam que a bebida poderia curar essa ferida narcísica que mora dentro de nós. Então tentei nublar a dor dessa angústia saindo com meus amigos sempre que eu podia. Mesmo assim, algo estava faltando.

Veio a onda tecnológica, e, com certo receio, mergulhei. Minha família era humilde, vivíamos nós quatro, mas consolo e amor nunca faltaram. Com certo sacrifício, ganhei de meus pais meu primeiro celular. É... até hoje acho que nunca agradeci o suficiente por tudo o que eles me deram. Eu nunca tive um daqueles antes, mas eu dei uma chance para aquele novo elemento. No começo senti o que hoje meus avôs sentem, mas não titubiei e continuei minha missão de dominar aquilo. Era 2010, as redes sociais começavam a se espalhar de forma acelerada, e como tantas outras, fui uma das que criou um perfil online. Novas janelas de possibilidade para o que eu nunca tinha visto se abriram. Como poderia haver tanta gente em um só lugar? - pensei. Havia a possibilidade de se conectar com todos os que me conheciam instantaneamente, meus amigos, família, e, pessoas que nunca teria visto se não por ali.

Depois de alguns dias, quando aquilo já não era mais um desafio, uma notificação: "Erick Anderson da Silva deseja ser seu amigo!". Chequei o perfil dele, aparentemente morava na mesma região que eu. Mas um estranho? As fotos não me pareciam dizer muita coisa... E se fosse falso? Não respondi aquilo, naquele dia. Deixei para lá. Mas as fotos dele... Uma beleza inocente. Uma pele negra, cabelos crespos. Bem, eu não deveria me arriscar.

E alguns meses se passaram, decidi limpar meu perfil de coisas inúteis. Conversas, fotos, posts. E depois de tanto esforço, aquela notificação torna aparecer. O mesmo Erick, que não tinha cancelado a solicitação. Porém agora, eu já estava calejada. Nenhum homem me enganaria, então decidi aceitar o convite de amizade. No big deal.

Todavia, o que eu não pensei que aconteceria tomou forma: ele mandou uma mensagem. Que dizia algo mais ou menos assim:

-- Bom dia! Tudo certinho?

-- Bom dia, tudo.. - Respondi desconfiada.

-- Depois de tantos meses, finalmente estamos conversando hahaha!

-- É... bastante tempo.

-- Você está ocupada?

-- Não estou.

-- Certo...

-- De onde nos conhecemos? - Perguntei.

-- Boa pergunta.

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⏰ Última atualização: Feb 12, 2020 ⏰

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