Prólogo

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A noite já havia caído, quase não dava para ver nada. Usando as mãos e pés como seus guias na escuridão, tudo que Julliet queria era ver aqueles olhos azuis de novo.

Seu coração apertou com as lembranças que a bombardearam, sem nem pedir licença para vir. Julliet estava mais uma vez abandonada, esquecida e deixada sozinha. Ela já deveria estar acostumada com essa sensação, mas a verdade era que não estava. O pouco tempo que havia passado com ele, a fizera se sentir segura, completa e importante.

Ao longe, Julliet viu uma luz amarelada guiar seu destino. Quanto mais se aproximava da luz, mais ela sentia seu coração apertar. Desde a última vez que o viu, havia a pedido para ir embora e nunca mais voltar. Com seu coração em pedaços ela foi, correndo e chorando, com o coração doendo e humilhado, mas foi. A sensação de que tudo o que ele disserá fosse mentira, vinha a todo o momento em sua cabeça. Como ele poderia fazer isso depois de tudo o que viveram? Como ele se esqueceu de tudo?

E quando Julliet viu, seus pés já há guiavam para onde ele estava. Porém ao chegar no lugar que passou parte de sua vida, seu coração desmoronou, os joelhos falharam e as lágrimas já escorriam desenfreadas em seu rosto.

O lugar onde viveram coisas inesquecíveis, onde um ensinou ao outro coisas para a vida toda, onde trocaram juras de amor, o lugar onde tudo começou, estava mergulhado em chamas, não havia um só pedaço de madeira onde o fogo não estivesse o consumindo.

Mais ao longe caído, machucado e desacordado estava o amor de sua vida, a pessoa que a incentivou a dar os primeiros passos para uma vida normal. Julliet começou a engatinhar para perto dele, suas pernas já não a obedeciam mais, os batimentos de seu coração davam para ser ouvidos de longe e as lágrimas embaçavam sua visão.

O amor de sua vida...

Ela sentou-se ao lado do rapaz, observando cada detalhe e cada traço bem marcado. Daria tudo para ver aqueles olhos azuis novamente, aquele sorriso de tirar o fôlego, daria tudo para poder ouvir sua voz rouca, para poder ser protegida em seu abraço, mas tudo sumiu de sua cabeça, quando seus olhos alcançaram a espada cravada em seu peito. O grito veio fino e agudo, no momento que reverberou, o fogo que consumia a cabana apagou-se, as folhas e árvores sacudiram e os animais esconderam-se assustados. As mãos trêmulas seguiram caminho até seu peito, apertando a maldita chave... Seus cabelos esvoaçavam e as lágrimas caíam no corpo frio do rapaz. A raiva misturada a dor estavam presentes no ar, queria quebrar quem fez aquilo ao meio, arrancar cada membro de seu corpo lentamente, seja humano ou animal.

Ao longe ouviu passos se aproximarem, mas não dava para ver nada, pois a escuridão não ajudava.

- Julliet. Julliet. - Aquela voz ela conhecia bem, conhecia muito bem. - Você achou mesmo que eu não viria atrás de você?

- O que está fazendo aqui? - Rosnava para o homem.

- O que você acha? - Sorriu sarcástico. - Não é óbvio? Vim pegar o que é meu.

- Não tem nada seu aqui. Vá embora. - Tentou se levantar, mas suas pernas ainda não há obedeciam.

- Julliet, acha mesmo que depois de ter tirado ele do meu caminho, eu vou deixar você sumir de novo? - gargalhou.

- Foi você que fez isso? - Se levantou em um impulso, sem ligar para a reclamação de suas pernas sobre o esforço. - VOCÊ FEZ ISSO? - Caminhou a passos determinados para o homem. - SEU QUADRÚPEDE NOJENTO. VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO. - Esmurrava seu peito com toda força que ainda restava. O homem deu um passo pra trás e segurou os braços da garota com força, a fazendo arregalar os olhos ao sentir a pressão em sua pele aumentar, as mãos ensanguentadas foram de encontro com o rosto dele, enfiando as unhas longas e afiadas em suas bochechas.

JullietOnde histórias criam vida. Descubra agora