As Crônicas de Ostara. Livro 1- UM CONTO DE BRUXAS (Em Revisão)

XXVII- Aliados

Já era meio dia quando Iolanda arrastava a barra da longa saia marrom pelo pasto.

Caminhava com a tranquilidade de quem está no controle e com a determinação de quem está próximo de conseguir o que quer.

Mazira Kalith já a aguardava na entrada da tenda, com os cabelos castanhos e crespos presos num coque sobre à cabeça, esfregando às mãos nervosas no vestido roxo que usava. - Desta vez tem que dar tudo certo. -Pensava, enquanto observava à idosa matriarca se aproximar austera.-

- Thie blagoilto o kham! Que o sol te abençoe! - Disse Iolanda ao chegar, estendendo a mão para que Mazira à beijasse.-

- Mishto hom me dikava tute... Devlesa avilan! Estou feliz em vê-la... Foi Deus quem à trouxe! - Respondeu Mazira, baixando os olhos ao beijar à mão direita de Iolanda.

- Me poupe de sua bajulação Mazira. Concentre-se em não falhar denovo. Agora vamos entrar que preciso falar com Samara. - Disparou a velha, sem paciência. -

- Certamente Bába. Entre! - Respondeu submissa, afastando o véu da entrada da tenda. -

Iolanda entrou e se acomodou no sofá de tecido brocado dourado que ficava no primeiro aposento.

- Agora vá chamá-la. Conversarei com às duas.

Sem hesitar, Mazira obedeceu, encaminhando-se até o cômodo onde Samara estava deitada...

- Recomponha-se Samara! Bába Iolanda está à sua espera. - Ordenou à filha. -

De um salto Samara pôs-se em pé e rapidamente trocou a comprida camisola branca por um belo vestido rosa chá com flores pintadas à mão. Escovou os cabelos e em pouco tempo estava na presença de Iolanda.

-Devlessa Araklam Tume Bába! É com Deus que te encontro Bába! Disse Samara à Iolanda, sem conseguir esconder a felicidade em vê-la.-

- Até o momento saiu tudo conforme o esperado. - Respondeu diretamente Iolanda, sem rodeios. - E Manolo, onde está? Gostaria que ele participasse desta reunião. - Complementou. -

- Foi hoje cedo até a cidade vizinha vender uma caminhonete. Deve voltar até o final do dia. Mas antes de sair deixou dito que, à maneira conforme a senhora decidir as coisas, assim será. - Explicou Mazira.-

- Muito bem! Igor disse que se casará com Samara. Exatamente como pensamos que faria. Já acertei com ele que será daqui há trinta dias, quando Samara completa dezessete anos. Ela será iniciada no mesmo dia, poucas horas antes de se casar uma vez que não podemos mais perder tempo. Não haverá dote e direi à Igor que é pelo fato de a noiva ter perdido a virgindade antes do casamento, mas ambas sabem a verdadeira razão. Temos uma dívida alta à ser quitada. Cuidaremos juntas dos preparativos da festa.- Despejou Iolanda, sem pausas, fazendo com que as duas ouvintes quase ficassem sem fôlego enquanto assentiam com a cabeça. -

Samara estava radiante ao ouvir os detalhes, porém algumas dúvidas ainda a atormentavam...

- E se ele nunca gostar de mim Bába? - Questionou, referindo-se à Igor. -

- Igor logo estará enfeitiçado. Caberá à você ter competência em fazer o resto. - Retrucou a idosa.-

E quanto à você Mazira, sem descuidos dessa vez. Não fosse por seu desleixo, Lolla não teria levado o que nos pertence, causando todo este transtorno.

Espero poder contar com sua plena atenção.

Estamos no caminho de concluir o que há muitos anos foi interrompido e não pretendo falhar novamente.

Vi nas cartas que a gadji já tem um pretendente e sei que logo surgirá a oportunidade que há tanto espero. - Informou Iolanda. -

- Desta vez você têm à mim Bába e eu não falharei com a senhora. - Prometeu Samara com um brilho maldoso no olhar, enquanto Mazira apenas concordava, com expressão servil.-

- Assim espero...
Ki shan i romani adoi san'i chov'hani. Aonde os ciganos vão, lá as feiticeiras estão. - Disse a anciã, ao retirar-se.-