Capítulo vinte.

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Um perfume de rosas inundava aquele lugar, era um quarto escuro, com uma janela pequena no teto, sempre que tentava sair dali, Victor não conseguia, a janela estava muito longe. Escutava a voz de sua feiticeira, ela estava chorando ele tinha certeza disso, faria de tudo para ir ao encontro dela e dessa vez estava determinado a não falhar, com toda a certeza. Escalou as paredes lisas e se agarrou aquela janela com toda a sua força...

Uma dor de cabeça horrível, era tudo o que Victor estava sentindo, piscou os olhos lentamente e a luz baixa do quarto fazia seus olhos lacrimejarem.

- Victor, Victor - a voz doce de sua feiticeira o fez sorrir, então reconheceu o cheiro de rosas e pode sentir seu coração se acelerar.

- Renata você está aqui.

- Sim meu amor, estou e jamais sairei do seu lado. - a voz dela era quase um sussurro entre os soluços.

Victor sentiu o toque suave de sua mão, e aos poucos abriu os olhos novamente, Renata estava chorando com um sorriso meigo no rosto.

- Ele acordou. - a enfermeira entrou no quarto e apertou a campainha para chamar o doutor.

- Senti tanta sua falta meu amor. Que bom que você voltou para mim.

- O doutor vai precisar examiná-lo, você precisa sair.

- Mas ele acabou de acordar! Eu quero ficar com ele.

- Depois você volta. Vamos eu a acompanho.

- Eu estarei do outro lado da porta. Eu te amo. - a voz saiu mais baixa do que queria Renata.

Ela deixou o quarto arrastada, não queria sair do lado de Victor, justo agora que ele tinha acordado. Bem agora ela tinha de deixá-lo, aquilo não era justo, sentou-se no banco do outro lado do corredor e começou a agradecer a todos os Deuses para os quais tinha rezado.

- Você sente isso? - a mesma pergunta se repetia e Victor respondia a mesma coisa.

- Sim! - a única coisa que queria era ver sua feiticeira e aquele doutor ali mexendo em suas pernas, seus braços, seus pés, até na sua virilha ele já havia tocado fazendo a mesma pergunta. Você sente isso? Que droga é claro que ele estava sentindo.

- Muito bem então aparentemente o acidente não deixou nenhuma sequela, mas precisaremos fazer mais exames.

- Obrigado doutor! Será que agora posso ver minha namorada?

- Pode sim mas vá com calma meu jovem, precisamos saber como está este coração.

Depois do que pareceram horas de espera, finalmente Renata pode ficar com Victor.

- Ele precisa descansar para os exames tente fazer com que ele durma um pouco.

- Dormir? Mas ele acabou de acordar, ele dormiu por quase uma semana!

- Ele não estava dormindo, estava em coma. - o doutor passou por ela e foi para o próximo quarto onde se encontrava uma senhora que tinha sofrido um derrame e agora se recuperava.

Fazia quase uma semana que estava praticamente morando naquele hospital, já conhecia a maioria dos pacientes do andar e seus familiares.

- Oi! Como você está? - disse assim que entrou no quarto. Victor estava branco e tinha olheiras profundas realmente não parecia descansado, mas estava lindo e acordado. Isso que importava agora.

- Melhor agora. - disse Victor sorrindo - Sonhei com você sabia? Na verdade você estava lá o tempo todo.

Renata sentiu as lágrimas começarem a escorrer por seu rosto, ela sentou na cama ao lado de Victor e segurou sua mão, estava tão feliz por ele ter acordado que sentia seu coração dar pulos dentro do peito, muito diferente do que sentiu a semana toda, aquela dor que tinha invadido sua alma enquanto Victor estava desacordado. Aquela dor era quase insuportável e agora o que sentia era exatamente o oposto de tudo o que vinha sentindo nos últimos dias, ver aqueles olhos verdes como musgo a encararem novamente como se sua vida dependesse disso, dependesse dela, era a sensação mais maravilhosa que podia sentir.

- Por que está chorando? - Victor enxugou uma lágrima que escorria agora por seu rosto encharcado.

- Estou feliz só isso.

- Então não deveria estar chorando.

- Eu não consigo parar.

- Eu te amo. Não quero vê-la chorar.

Depois de enxugar as lágrimas, Renata deitou com cuidado ao lado de Victor e colocou a cabeça em seu ombro não iria mais chorar, pelo menos não na frente dele. Sentiu os dedos dele em seus cabelos e fechou os olhos.

Ela estava tão linda, mesmo com os olhos inchados de tanto chorar, esse pensamento foi o primeiro que passou por sua cabeça, no momento em que ela cruzou aquela porta ele teve certeza de ter se libertado de todo medo e de toda angústia que sentia sempre que pensava no amor. Achou que jamais voltaria a amar alguém. Depois da morte de Jasmine esse era o único medo que o assombrava, e agora ali estava ela, a sua feiticeira, a sua heroína, chorando por ele, chorando de felicidade por ele estar com ela novamente.

Victor tinha certeza que amava essa mulher, e mais que isso tinha certeza que ela o amava. Enquanto estava com Renata aninhada em seus braços, sentia uma forte sensação de que esse era o motivo pelo qual tinha acordado, era sua obrigação cuidar dela, protegê-la e não deixar mais que nenhuma lágrima escorresse por esse rosto lindo que tanto admirava. Jamais se cansaria de admirá-la, sentiu uma forte vontade de fazer amor com ela ali mesmo naquela cama de hospital.

- Olha só quem acordou!

- E quem finalmente dormiu também.

Rodolfo e Melissa adentraram no quarto e tiraram Victor de seu devaneio.

- Que bom ver vocês também.

- E aí como está essa força? Pensei que não iria acordar para o casamento.

- Não perderia isso por nada. - Victor tentou dar uma gargalhada mas não conseguiu, a dor foi maior.

- Eu pedi para você descansar e você resolve dar uma festa? - a voz do doutor ecoou pelo quarto, olhou na direção dele e percebeu que nem sabia o nome de seu médico.

- Na verdade meus convidados resolveram dar uma festa surpresa.

- A que ótimo, alguém pode por favor tirar a moça da cama precisamos levar o paciente para fazer os enxames.

Melissa acordou Renata delicadamente, ela se sentiu envergonhada por ter dormido ali na cama quando quem precisava estar dormindo era Victor. Quando viu o olhar gelado do doutor Geraldo em cima dela viu que tinha pisado na bola, ele disse que Victor precisava descansar e não ela. Desceu da cama e sorriu timidamente querendo que um buraco se abrisse bem em baixo de seus pés. Melissa a abraçou e tirou ela do quarto.

- Venha, vamos para casa, você precisa de um banho e também precisa dormir. Victor vai passar por alguns exames agora.

- Mas eu não quero deixar ele sozinho. Ele precisa de mim.

- Renata amanhã você volta, hoje você não vai vê-lo mais. Amanhã pela manhã os exames estarão prontos e você poderá ficar com ele de novo.

Renata olhou para Victor e ele sorriu piscando o olho esquerdo para ela. Ela sentiu uma sensação de paz invadir seu peito e se pôs a andar ao lado de Melissa e Rodolfo.



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