A Professora

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"Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender."

Paulo Freire


Sou professora. A escola onde trabalho é localizada em uma grande cidade do Brasil. Amo a minha profissão e amo os meus alunos. Sempre inicio minhas aulas com uma frase. Hoje escolhi as palavras de Martin Luther King:

"Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos."

Disse aos meus queridos alunos que Martin Luther King foi um pastor protestante que lutou pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Enfatizei que ele não se calou diante das injustiças. Luther King promoveu a paz e a igualdade.

Ontem não tivemos aula, mas estivemos juntos. Fomos todos ao enterro de um garoto. Meu aluno. Um garoto alegre, obediente aos pais, gostava de estudar e sempre tirava boas notas. Um garoto que cometeu um erro. Um erro? Um garoto que tinha um defeito. Um defeito? Um erro e um defeito? Bom, pelo menos para os três monstros que o meu querido aluno infelizmente encontrou em uma rua a poucos metros de sua casa.

Qual foi o erro de meu querido aluno? Usar uma camiseta de um time. Qual o defeito de meu querido aluno? Não torcer para o mesmo time daqueles três monstros.

Meu querido aluno foi espancado sem piedade só porque usava a camiseta de seu time do coração!

Durante o velório, vários alunos formaram um grande círculo em volta do caixão. Cada aluno usava a camiseta de seu time, por isso o círculo estava bem colorido. Os meus olhos inundaram de lágrimas...

Minutos antes do velório terminar, alguns garotos tiraram a camiseta e a colocaram em cima do caixão lacrado. Por que foi lacrado? Porque aqueles três monstros deixaram o rosto de meu querido aluno irreconhecível. Quanta violência!

Hoje estou diante de meus queridos alunos novamente, mas falta um, um querido não está mais entre nós. Olhar para o lugar onde ele se sentava dói muito. A classe está silenciosa. Hoje os meus queridos alunos não estão brincando uns com os outros e sorrindo. Hoje não precisei chamar a atenção deles. Hoje não! Ah, como eu gostaria de chamar a atenção deles hoje! Ah, como gostaria de olhar para aquela cadeira e vê-lo todo concentrado em seus livros.

Hoje falei sobre preconceito, intolerância e violência. Falei sobre amor, paz e união.

Semana passada o meu assunto foi bem diferente. Falei sobre o tempo.Falei sobre as fases da vida. Destaquei a necessidade de se dedicar aos estudos. Por que tal assunto? Ainda não mencionei, mas há outra cadeira sem aluno. Ou melhor, sem uma aluna. Ela não quer mais estudar porque está grávida. A vergonha a impede de aparecer entrenós porque a barriga já está aparecendo. Conversei com ela, mas infelizmente não a convenci. Fiquei triste, mas depois ela me disse algo que me fez sorrir. "Professora, eu pensei em tirar o meu bebê,pensei sim. O meu namorado me disse que era a melhor solução. Ele disse que eu tinha que aproveitar enquanto ninguém sabia que havia um bebê dentro de mim, mas e eu? Eu sei que um bebê está crescendo dentro de mim! Sabe, professora, ele quase me convenceu, mas um dia você usou uma frase que falava sobre aborto. Pensei que você fosse vidente porque ninguém sabia de nada. Só eu e o meu namorado! Naquele dia eu tomei a minha decisão. O meu bebê tinha que nascer!"

Qual foi a frase? Naquele dia usei as palavras de Madre Tereza de Calcutá:


"Eis porque o aborto é um pecado tão grave. Não somente se mata a vida, mas nos colocamos mais alto do que Deus; os homens decidem quem deve viver e quem deve morrer. "

A minha querida aluna disse que voltará a estudar. Um dia ela voltará!

Ah, não tenho só histórias tristes não! Uma aluna me deixou comum enorme sorriso. Um dia ela se aproximou logo após o intervalo e disse:

" Professora, adoro as frases. É a minha parte favorita da aula!Quero ser professora. Posso pedir uma coisinha?"

Eu meneei a cabeça afirmativamente. Estava curiosa.

" Também quero usar frases para iniciar as minhas aulas. Posso?Acho tão legal!"

Eu sorri e a abracei.

Sou uma professora dedicada. Ensino matemática, mas todos os dias falo sobre a vida. Um dia fui questionada. Não por causa das frases.Um aluno perguntou se todas aquelas fórmulas seriam úteis para a sua vida. Ele comentou que questionara o pai.

" Pai, sabe aquelas equações de matemática e outras coisas chatas? Em seu trabalho serve para alguma coisa?"

Meu curioso aluno me disse que a resposta de seu pai foi negativa.

" Professora, "tá" vendo como não tem nada a ver? Fala sério, para que estudar essas coisas chatas e sem sentido? Não fique triste, gosto de suas aulas, mas sei lá, bem que podia mudar um pouco. Deixe as equações chatas com suas fórmulas bem longe de mim! Não quero ser matemático, físico, astrônomo..."

Sorri e depois o questionei se era necessário paciência para estudar aquelas coisas chatas e sem sentido(usei as suas palavras porque eu amo matemática, que isso fique bem claro!) Ele respondeu que era preciso muita paciência. Então sorri novamente. No dia seguinte, o mesmo aluno se aproximou todo animado.

"Professora, posso escrever uma frase na lousa?"

É claro que a minha resposta foi positiva. Qual foi a frase que o meu querido aluno compartilhou? Uma frase de William Shakespeare:

" Deixei de gostar da matemática, depois que x deixou de ser sinal de multiplicação."

O que eu fiz? Sorri.

Sempre direi frases impactantes. Alguns minutos sempre serão usados para regar, sim, porque plantei a semente e devo regá-la todos os dias. Espero uma colheita para o futuro. Talvez eu mesma não veja os frutos, mas tenho certeza de que existirão. Sim, acredito porque já vejo algumas folhas, sim, já posso enxergar algumas folhinhas verdes...

Ah, como estou distraída, ainda não me apresentei! O meu nome é...


Esperança!


Fim!


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