Capitulo 5

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Desta vez sonhei e relembrei a minha vida. Tudo começou com 4 anos. O meu pai, por causa da morte da minha mãe em trabalho de parto, começou a usar-me como uma escrava. Era mal tratada e tinha de fazer tudo como ele queria.

Vivia na cave e dormia no chão.

Aos 6 anos perdi o meu olho. Não sei exatamente como, nunca fui ao médico. Acordei um dia cega de um olho. Tentei dizer ao meu "pai" mas ele apenas deu-me uma chapada na cara e disse para continuar a limpar. A partir desse dia a morte perseguiu-me para sempre.

Um ano depois, o meu pai foi atropelado. Fui entregue aos meus avós que eu adorava. Com eles descobri no médico que o meu olho não podia ser mais curado, por um problema cerebral.

Na escola era chamada de monstro e eu odiava esse nome, por isso comecei a usar um tapa-olho.

No verão dos meus 12 anos os meus avós morreram de uma doença, até hoje não sei bem o que aconteceu.

Fui levada para um orfanato, onde os maus tratos começaram novamente, não tão maus como antes, mas continuava a ser doloroso.

Na escola era vítima de bullying e ai começaram as perdas de memória. Comecei a adormecer e a acordar em locais diferentes, sem lembrança do que tinha acontecido.

As pessoas que me odiavam começaram a desaparecer sem rasto, nem razão. Acho que nunca os encontraram.

Toda a gente achava que eu tinha algo a ver mas nunca tiveram provas concretas.

Em toda a minha vida fui odiada. Nunca tive amigos e nunca fui amada, não aguento contacto físico, sou anti-social e tenho problemas em conectar com pessoal, pelo menos até agora.

Acordei a chorar e toda suada. Só quero esquecer e nunca mais lembrar da minha vida.

-Estás bem? – olho para a fonte de voz e encontro-me com o rapaz que estava magoado, agora acordado e a olhar para mm.

-Sim, não é nada. Só pesadelos. – Só estamos aqui nós os dois – Onde estão os irmãos?

Ele aponta para a porta.

-Eles disseram para te dizer quando acordares que eles tinham ido ver se encontravam mais comida.

-Como te chamas? – pergunto-lhe para quebrar o silêncio formado.

-Ryan. E tu?

-Chamo-me Aya.

Passado algum tempo ele pergunta-me:

-O que achas dos gémeos?

Porque é que toda a gente pergunta-me o que acho das pessoas?

Encolho os ombros.

- O Ichiro é um playboyzinho e a Mayu é uma rapariga quieta e justa. Porquê?

Ele também encolhe os ombros e apenas responde:

-Nada.

Há alguma coisa errada com este rapaz, mas pode apenas ser a minha imaginação. Vou ter precauções e ter cuidado.

Ichiro e Mayu entram e a primeira coisa que Ichiro diz é:

-Aya-chan~! – ele fala com uma voz infantil – Estava preocupado~! Queres bolachas? Encontramo-las numa máquina de comida.

-Pode ser, tenho fome.

-Mas primeiro... – ele pensa – beija-me!

Viro os olhos e cruzo os braços.

-Prefiro morrer do que fazer isso.

-Aya! Não sejas má!

A sua atitude infantil e o seu pedido só indica uma coisa: Ele esteve a beber álcool.

-Mayu, o que aconteceu com ele?

-Encontrou álcool... – ela suspira.

Bem me parecia. Ichiro vai à minha frente e põe uma bolacha perto da minha boca.

-Aya-chan! Diz AH! 

 Mordo a bolacha e como-a. Ele pega noutra bolacha e finge dizer "AH!!. Volto a morder a bolacha. 

-Tão fofa, Aya-chan! 

 Era só o que me faltava, um bêbado com uma obsessão por mim. O efeito do álcool acaba e ele literalmente desmaia no meu colo. Inconscientemente começo a mexer no cabelo dele. 

 -Aya... – ele suspira a dormir.

Suspiro também... Que criancinha...    

Memento Mori - Lembrem-se Que Somos MortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora