Capítulo 1 - Uma Década em uma Noite

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Nota da autora: Estou voltando a postar a história e devo postar até o final nas próximas semanas! Mesmo que você já tenha lido alguns capítulos antes e os reconheça, leia de novo, pois acrescentei cenas bem importantes no meio deles! Espero que gostem!

We were lying on your couch
I remember

Capítulo 1
Uma Década em uma Noite

Quatro anos. Esse é o tempo que nós, americanos, somos obrigados a passar no colegial. Quatro anos. Só isso. Uma pequena fase comparada ao resto da nossa vida. Aqueles que já sobreviveram a ela fazem pouco caso do que passaram enquanto ainda eram obrigados a ir à escola. Só uma fase, dizem. Nem é tão terrível quanto vocês, adolescentes, falam que é.

Talvez seja fácil mesmo pensar com descaso sobre o colegial quando você está faculdade. Mais fácil ainda se esquecer de cada momento de ansiedade quando já trabalha. Mas quatro anos são também mil, quatrocentos e sessenta dias. Excluindo feriados, férias e dias em que minha própria saúde me ofereceu repouso, são mais de mil dias andando pelos corredores frios da escola como se tentasse evitar acionar uma bomba. Todas as minhas palavras, minhas roupas e qualquer movimento em falso que eu desse poderiam ser usados contra mim. Todos.

E a maioria era.

Meu medo chegou a ser tão grande que eu ainda sonhava com ele. Sonhava que tinha encontrado uma saia incrível de tule em uma loja, mas que os garotos da escola a rasgavam quando eu tentava ir com ela à aula. Sonhava que caía no meio do corredor e tudo que conseguia escutar eram risadas ensurdecedoras. E os apelidos.

Talvez fosse só alguns anos, uma pequena fase na minha vida, mas não era insignificante. Depois de semanas tentando esquecer a minha humilhação no refeitório, depois de prometer nunca mais voltar a colocar os pés naquele lugar, fui convencida por Leanne a deixar tudo aquilo para trás. Nós duas escrevemos o que nos assombrava, tudo que odiávamos da escola, todas as pessoas e os acontecimentos que queríamos esquecer. Juntamos uma caixa com cartas, anotações, fotos e outros objetos, e a enterramos no seu quintal.

Aqui ficam nossos medos, nós juramos. Daqui para a frente, nada que eles falarem, nada que eles fizerem vai nos afetar. Não era tão fácil quanto parecia, e olha que parecia bastante difícil, mas foi só o primeiro passo. Juramos que seríamos sempre nós mesmas, independente do resto do mundo. Poderiam nos xingar, tentar nos humilhar, mas não nos atingiriam.

Porque nós éramos verdadeiras a nós mesmas, e isso era a única coisa que importava.

Essa frase foi repetida tantas vezes, que foi a primeira coisa na qual pensei quando abri os olhos.

Eu ainda sou eu mesma. Só isso importa.

Era meu único remédio ao sonho que tinha acabado de ter, mais um para a coleção dos traumas subconscientes. Mas eu só precisava repetir aquelas palavras mais algumas vezes na minha cabeça e estaria bem.

Estava tão concentrada em acalmar meu coração, acreditar que tinha sido só um sonho e que estava tudo bem, que só notei o teto um tempo depois.

Não haviam estrelas fluorescentes nele, nem pôsteres nas paredes ao meu redor. Aquela não era minha cama. Definitivamente, aquele não era meu quarto.

Passei as mãos pelos lençóis sobre minhas pernas, precisando de um pouco mais de certeza de que não estava ainda sonhando. Enquanto isso, tentava reconhecer pelo menos um dos móveis à minha volta.

Mas era praticamente impossível. Nada ali podia ser meu. O quarto em si já era bem maior do que a sala da minha casa, a poltrona no canto sozinha devia custar alguns mil dólares e aquela televisão só podia pertencer a alguém muito rico.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora