Doce Veneno

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Doce veneno

Valentim ajeitou seu belo terno de linho e entrou no restaurante. Estava um pouco confuso, para dizer o mínimo. Se melhor o amigo o chamará ali para uma "pequena surpresa". Em tantos anos de existência era pouco provável que algo o surpreendesse. Ele era um vampiro e nada de bom ou ruim o deixaria surpreso.

Ele sentou-se no bar, observando o que tivesse de acontecer.

Uma morena chamou imediatamente sua atenção, ela tamborilava os dedos sobre o balcão, e olhava para uma das mesas com casal sentado. Seu olhar era de pura fúria. Ela tinha um copo de Whisky intocado.

__Parece furiosa demais. – Valentim disse sorrindo de forma sedutora.

Ela o encarou com desdém, e fingiu não escutar o comentário. O vampiro olhou o copo intocado.

__Posso te pagar outra se não gostou dessa.

__Oferecer bebidas alcoólicas para menores é crime, sabia?

Ele sorriu e encarou a morena que usava um vestido provocante preto.

__Não parece menor de idade.

__Mas, sou – ela disse com raiva – Cai fora!

A linda morena voltou a encarar a mesa onde o casal estava. Isso despertou a atenção do vampiro, que seguiu seu olhar. Ele fez uma careta ao reconhecer o homem com a garota, que aparentemente deveria ter entre quinze e dezoito anos.

__Ciúmes? – ele tentou por uma ultima vez.

__Ciúmes? – a garota riu – Vocês são todos assim? Cretinos manipuladores? Não acredito que a Lívia caiu nesse papinho mole.

__Não faço ideia do que fala. – ela não fazia mesmo.

__Eu sei o que você é! – ela apontou para a mesa em que o casal estava – Eu sei o que aquele cara é... Vocês são monstros, e eu só quero proteger Liv, ela é tão cabeça de vento.

Valentim encarou a morena, ela era fascinante. Não tinha medo como a maioria dos humanos. Era corajosa, e isso só atiçou a curiosidade dele. Mesmo sabendo do perigo eminente ela não tinha corrido e se escondido, estava ali, olhando-o no fundo dos olhos com determinação e coragem.

__E mesmo sabendo, aqui esta você. – ele disse.

__Estou. – ela suspirou – Liv é minha melhor amiga, crescemos juntas e...

Ela encarou o estranho, e então olhou novamente para a mesa em que a amiga estava, que estava vazia.

__Você... – ela se levantou – Estava me distraindo para que seu amiguinho levasse Liv.

Ele encarou a mesa vazia, tão surpreso quanto a garota.

__Não, eu...

Ela jogou o whisky quente na cara dele, e saiu batendo os saltos contra o chão. Correndo para longe.

***

Ela correu sentindo seu coração palpitar. Se algo acontecesse a Liv, nunca se perdoaria. Derrapou ao tentar parar, finalmente avistando a amiga, que aquele ser que levara a loucura .

Livia estava com seu pescoço exposto para que o estranho a mordesse.

__Tire suas patas de cima dela!

Ela gritou, o estranho a encarou. Ele era loiro e seus olhos eram malignamente vermelhos, ele sorriu.

__Juntou-se a nós Anitta? Pensei que Valentim daria um jeito em você e na sua teimosia.

__Talvez Valentim tenha outros planos para si.

Anitta encarou o homem do bar. Ele caminhava feito uma pantera, cheio de graça. Seus cabelos negros eram bagunçados, mas, isso só o deixava ainda mais bonito.

__Eu lhe dei um doce presente, e você nega.

__Esta atacando meninas do ensino médio Luigi? Esse é seu plano, parece pouco arriscado.

__Quanto mais jovens mais doce.

Luigi fez menção de morder Livia, que não reagia a nada, como se estivesse sob algum encanto.

__Não! – Anitta gritou.

__Ela quer isso, esta pedindo por isso há semanas.

Anitta olhou para Valentim, como se lhe implorasse para fazer algo. O vampiro que já tinha visto muito, e feito também, sentiu-se compelido a fazer o que fosse por aquela jovem de olhos suplicantes.

Ele não pestanejou, partiu para cima de Luigi, seu amigo de séculos e tirou Livia de seus braços, segurando-o contra a parede.

__Corra, e leve-a com você! – disse Valentim a morena.

Anitta acenou, pegou a amiga que parecia uma bêbada cambaleando, e correu com ela para longe.

__Uma garota, e tudo o que precisa para uma traição? – disse Luigi.

__Não é uma traição. São crianças, não deveria usá-las como se...

__Fossem comida? Valentim, depois de tantos anos lutando contra sua sede você ainda os enxerga como algo além de comida?

Valentim suspirou, tentando não pensar muito sobre o que faria a seguir. Ele odiava aquele tipo de atitude, mas, Luigi não lhe dava muitas alternativas. Ele revirou os olhos e quebrou as pernas e os braços do amigo.

Luigi caiu no chão gemendo de dor. O vampiro ficaria daquele jeito por algum tempo. Provavelmente o tempo de aprender a não discordar de Valentim.

***

O vampiro não sabia exatamente o motivo, mas, queria muito ver a garota. Anitta, a morena de coragem admirável.

Valentim sabia que aquele não era o jeito mais educado de entrar na vida de alguém. Sabia que não era cavalheiresco de sua parte simplesmente invadir a casa dela, mas, ele não conhecia um jeito melhor de fazer aquilo.

Tudo estava silencioso, eram madrugada, e ali bem diante dele a garota repousava pacificamente em sua cama. Ela dormia tranquila.

Ele se aproximou, lentamente, não queria acordar a menina. Inclinou-se sentindo o cheiro inebriante que ela exalava. Em seus piores tempos por muito menos teria matado. Aquele cheiro delicioso era enlouquecedor. Como seu amigo ignorara aquele aroma.

A ideia o enfureceu. Se Luigi tivesse tocado aquela garota não teria somente os membros quebrados, mas, a cabeça arrancada.

O vampiro balançou a cabeça. O que estava pensando. Anitta não lhe pertencia, não estava nem mesmo perto disso. Era claro que a garota tinha aversão a seres como ele.

Lembrou-se da determinação com que ela o encarará, sorriu.

Tocou o rosto da menina adormecida, a pele macia feito a mais fina seda. Aquela menina tinha sorte de não ter encontrado outro vampiro em seu caminho, como podia?

Ela era linda, corajosa e tinha aquele cheiro.

Valentim despertou de seu torpor, lembrando-se que deveria estar muito longe dali. O sol logo chegaria, e não podia ficar ali, mesmo que fosse para admirar uma beldade como aquela.

Ele se levantou, se afastando de Anitta, com uma pequena pontada. Deixou a casa da jovem, e começou a andar tranquilamente pelas ruas desertas.

Por mais que tentasse afastar seus pensamentos da jovem , não conseguia. Ele sorriu.

__Doce veneno. – ele recitou para si.

Era assim que os outros falavam quando um deles se interessava demais por um humano. E era isso mesmo. Por mais que soubesse que seria fatal, que poderia resistir a algo tão doce? Ele riu-se. E desapareceu na escuridão.

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⏰ Última atualização: Jul 16, 2016 ⏰

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