Baile das Desilusões

845 30 14
                                    


Ela é tempestuosa. Em um lugar incomum,

quando você está se sentindo distante,

ela fez o que a noite faz com o dia

— Arctic Monkeys

Alicante - Idris, 1720

O sol brilhando no céu indicava para a menina de cabelos negros que a manhã estava quase no fim e a tarde não demoraria a chegar. Para Isabelle, aquela definitivamente era a melhor hora do dia, quando seu pai estava ensinando Maxwell na biblioteca e sua mãe gritava com os empregados por tempo suficiente para que ela saísse sem ser notada. Eram quinze minutos da casa até as baias, onde os cocheiros, com meios sorrisos no rosto, fingiam não vê-la. Hunter, seu cavalo, já estava pronto para sair e cinco minutos mais tarde já estavam longe do alcance dos gritos de Maryse Lightwood.

Não era normal que uma dama cavalgasse em um cavalo, ainda mais um cavalo tão arredio e instável como Hunter. Isso desconsiderando a vestimenta da amazona em questão, calças roubadas - logo depois duas ou três camisas, todas peças claras que hoje já mostravam as marcas de tempo e uso -, que, por sorte da pequena ladra, não contou a seus pais que tinha tirado as peças do armário de seu irmão mais velho, Alexander.

Isabelle sacudiu a cabeça, tentando distrair os pensamentos do irmão; não devia estar pensando em Alexander, muito menos suas roupas antigas, muito menos estar cavalgando como um homem faria. Ainda menos estar voltando do jardim de rosas, que era estritamente permitido apenas para duas pessoas: sua mãe e Meliorn, o jardineiro.

Encontre-me nas roseiras quando o Sol se anunciar.

A morena sempre gostara do fato que, quando amanhecesse e ela acordasse, o bilhete estaria ali entre as rosas recém colhidas em cima de sua penteadeira. Não importava que a caligrafia de Meliorn fosse infantil demais ainda, reconfortava-a e animava-a naquela manhã apressada. Fora que aquecia-lhe o coração o jardineiro continuar tentando escrever, ela que o ensinara.

Ficou triste quando teve que se despedir dele, não que amasse Meliorn, mas se sentia muito menos pressionada quando estava com ele. Meliorn a fazia se sentir livre.

Infelizmente era hora de voltar para sua prisão.

De longe, ainda cavalgando em Hunter, podia ver a série de funcionários entrando em fila para a mansão Lightwood carregando uma série de artefatos como a prataria, arranjos de flores e os músicos também. Vigiando e coordenando todos estava Robert Lightwood. Isabelle praguejou baixinho, já prevendo que não passaria despercebida.

E já que não passaria despercebida, chegaria deixando sua presença bem clara.

Esporou Hunter nas costelas e o cavalo acelerou, fazendo os cabelos soltos de Isabelle voarem em suas costas e a sensação de velocidade a deixando ainda mais animada.

Quando já estava perto suficiente, ela puxou as rédeas de Hunter, o fazendo parar bruscamente e assustando os funcionários e seu pai. Só não contava com uma coisa.

O músico que passava na hora carregava uma caixa grande, quase de seu tamanho, e o susto fez com que ele soltasse a caixa, que caiu em cima de um funcionário que estava com uma caixa de cristais. A caixa, obviamente, caiu no chão e fez um grande estardalhaço quando os cristais se todos partiram. O músico arregalou os olhos por trás dos óculos que usava, mas antes que pudesse fazer algo, Robert se adiantara:

― Olhe o que fez, seu imbecil! ― pegou o músico pelo braço. O homem era magro, um pouco mais alto que Isabelle (que era uma menina alta), tinha cabelos castanhos e não penteados e a morena podia ver seus olhos castanhos assustados por baixo dos óculos.

Liberta-meOnde histórias criam vida. Descubra agora