Capítulo único

3K 463 525
                                    

O frio na barriga característico da longa espera se instalava em Seungkwan neste momento. Após 2 anos de conversa, finalmente encontraria seu melhor amigo virtual. Namorado! Não havia se acostumado ainda. Que tipo de pessoa ainda acreditava em namoros virtuais? Seungkwan era uma delas, apenas esperava que Vernon também fosse.

Saíra de casa consideravelmente cedo para não correr o risco de chegar no aeroporto e ter deixado Vernon esperando. Praguejou ao perceber que quem esperaria muito seria ele, ainda demoraria cerca de 1 hora para o vôo de Nova Iorque aterrisar e a impaciência do mais velho o fazia suar frio.

Não sabia se apenas mexia ao celular ou se deveria comprar algo para comer, ou jogar em alguma das máquina da loja de crianças. O desconforto em sua barriga escolheu por ele, fazendo-o andar para longe do portão 13 em direção às lanchonetes. Havia esquecido de almoçar na ansiedade de sentir o mais novo em seus braços, passara a manhã inteira arrumando-se apenas para causar a boa primeira impressão pessoalmente, pois já se viram muitas vezes através de fotos. Até mesmo comprou um dos perfumes que ele sabia que o mais novo gostava, apenas para que quando Vernon o abraçasse pudesse sentir um cheiro agradável.

Já o mais novo cansara de exclamar nas redes sociais que queria Seungkwan com o que costumava usar, sabia que só por ser em Seungkwan aquele se tornaria um dos mais gostosos perfumes. Seria uma pena se Seungkwan fosse teimoso.

Ao término de sua refeição, decidiu vagar pelo espaço do aeroporto. Passou por uma vitrine que prendeu sua atenção por causa das cores, se sentia uma criança ao encarar uma das pelúcias que estavam à mostra, era um enorme cachorro marrom que tomava quase metade da vitrine, um daqueles que toda criança já sonhou em abraçar e dormir em cima, mas Seungkwan era alérgico. Nunca pôde ter pelúcias, mas Vernon podia. Não pensou duas vezes ao entrar na loja e perguntar o preço para a atendente magricela e sorridente que prontamente o atendeu. Só em pensar na possibilidade de tocar na pelúcia seu nariz coçava, mas era por Vernon, ele dizia. Saiu a espirrar com o bicho embaixo do braço, lembrando-se de todas as broncas que levara de Vernon ao tocar no assunto de comprar bichinhos de pelúcia para o namorado, apenas como um mimo. Seria uma pena se Seungkwan fosse teimoso.

Decidiu voltar ao portão 13 e sentar em um dos bancos que havia por perto. Aconchegou a pelúcia aos seus pés e puxou o celular do bolso, passando a abrir as incontáveis mensagens de Seokmin, com quem morava desde que começou a faculdade. Durante semanas o moreno parecia mais ansioso que o próprio Seungkwan, até mesmo ameaçou ligar para Vernon após ouvir do mais velho os choramingos incessantes do quanto queria ouvir a voz do loiro, que mesmo após tanto tempo nunca havia mandado um áudio sequer, alegando vergonha. Diferente de Seungkwan que, tagarela, enchia o mais novo de áudios enormes sobre nada.

Numa das conversas da madrugada com Seokmin, Seungkwan teve a ideia de pagar as passagens para o mais novo para que pudessem se ver e que ele pudesse ouvir a voz que tanto queria. Vernon havia comentado que Seungkwan apenas ouviria a voz dele quando se encontrassem pessoalmente, e para o mais velho era como a meta do ano que precisaria ser cumprida. Mal pôde conter a felicidade ao saber que a mãe do mais novo havia autorizado a viagem, fazendo Seungkwan matar quem quer que usasse fones de ouvido ao ouvir os seus áudios.
Seokmin mandara repetidas vezes

"Vernon-ah chegou?"
"Kwanie, já encontrou Vernon?"
"Seungkwan, me responda!"
"Não esqueça de tirar fotos com ele quando chegar"
"E me mande!"

Seungkwan apenas bloqueou novamente a tela e brincou com as orelhas da pelúcia sentada à sua frente, espirrando mais uma vez. Era um desastre mesmo, sempre soube. O castanho tentava há muitos meses espantar os pensamentos negativos de sua cabeça e as perguntas que sempre fizera em relação ao mais novo.
"Eu não mereço alguém como Vernon"
"Por que ele ainda fala comigo?"
"Como Vernon gosta de alguém como eu?"
"Será que ele vai gostar do que vê?"
"E se eu for muito bobo pessoalmente?"
"E se ele se arrepender de ter vindo?"
"O que ele vai sentir quando perceber que perdeu 2 anos da vida dele conversando com alguém como eu?"
"Será que ele vai aceitar minhas declarações pessoalmente também?"
"Eu poderei beijá-lo?"
Uma onda de antecipação o atingiu ao olhar mais uma vez uma das fotos que o namorado o mandara. O sorriso que raramente aparecia nas fotos o fazia sorrir involuntariamente, mas além do sorriso, Seungkwan amava os lábios de Vernon. Os lábios que tinham aquela forma que parecia ter sido desenhada levando em consideração os do mais velho. Seungkwan não podia evitar em pensar o quanto queria beijá-lo, o quanto pareciam encaixar bem e que deviam ter um gostinho bom. Às vezes parecia que Vernon usava gloss de tão rosinha que era sua boca, Seungkwan não via a hora de poder beijá-la.

Sentiu uma pontada na região do tórax, a mesma que sentia desde que comprara as passagens. Há uma semana tentava se acalmar, julgando apenas ser ansiedade, apesar de muitas pessoas o terem dito para não trazer o mais novo para Jeju, que daria errado, que seria perigoso, que ele era de menor. Seria uma pena se Seungkwan fosse teimoso.

Avião era um dos meios de transporte mais seguros do mundo. Era.

Não soube em exato quando as lágrimas começaram a molhar suas bochechas, mas o grito estridente de uma mãe inconsolada o atingiu fortemente, trazendo-o de volta ao atordoado aeroporto, onde pessoas se acumulavam próximos aos 'letreiros' com o cenho franzido.
Seungkwan não sabia dizer se era pela dificuldade de ler ou pela preocupação, mas logo entendeu o porquê do choro da mãe e do seu próprio choro.

Vôo 223 de Nova Iorque com destino a Seul teve o sinal perdido pelos radares após passar por uma turbulência.

Neste momento seu maior pesadelo se tornou real. Sentindo o coração apertado, Seungkwan arrastou a pelúcia até o portão 13 e sentou lá, bem ao lado da porta, abraçado com o bichinho que ainda o fazia espirrar.

Foram necessários 4 seguranças para mover Seungkwan do lugar. O mesmo se debatia e gritava, ele não podia sair de perto do portão 13, ele não podia sair porque quando Vernon chegasse ele ficaria sozinho esperando Seungkwan aparecer pra levar eles naquela cafeteria que tanto haviam falado sobre e que Vernon tanto queria conhecer.
Ele não podia sair porque precisava tirar fotos de Vernon e com ele pra mandar pro amigo Seokmin que estava até mais ansioso do que Seungkwan.
Ele não podia sair porque tinha que entregar a pelúcia que o fazia espirrar pra Vernon, pois ele sabia que o menino mais novo ficaria feliz em receber um presente como aquele.
Ele não podia sair porque Vernon precisava abraçá-lo e sentir o cheiro do perfume que gosta.
Ele não podia sair porque precisava ouvir a voz de Vernon. Voz esta que continha respostas. Presença esta que continha respostas. Ele precisava de respostas que só Vernon podia dar, mas levou consigo pro fundo do mar.

⛦⛧

Oi, tudo bem? Estou com esta oneshot escrita há meses e nunca tomei coragem de postar, já estava na hora! Eu não sei muito sobre aeroportos então se alguma coisa ficar confusa apenas finjam que faz realmente parte do universo que tentei retratar (é o nosso, mas ninguém precisa saber). E não esqueçam de votar no capítulo, nessa estrela aí, caso tenham gostado. Isso me deixaria muito feliz.
Espero que tenham gostado! ♡

verkwan; stubbornOnde histórias criam vida. Descubra agora