Doze riscos no calendário.
Doze gotas no copo d´água.
Doze lágrimas.
Doze minutos para a meia-noite.
Doze. Doze. Doze.
Ela contava tudo. Os dias. Os meses. Os segundos. Até mesmo sua respiração era realizada num intervalos de doze inspirações e expirações. Todo dia, ao meio-dia, ela fazia doze polichinelos. Nenhuma semana seria boa se ela não arrumasse o armário, dispondo em doze pilhas as doze variedades de roupas, cada uma com doze peças: doze casacos, doze saias, doze blusas, doze sapatos.
O doze estava em tudo.
Ela tinha doze anos quando perdeu os pais e ficou sozinha no mundo. Doze meses depois foi adotada e abusada pelo pai adotivo. Doze anos depois eles morreram sem explicação.
Ela sabia a explicação.
Era o doze.
Doze gotas de veneno.
Doze motivos para odiá-los.
Doze. Doze. Doze. Doze. Doze. Doze.
Ela teve doze amantes, mas não chegou ao orgasmo com nenhum. Ela dividia a comida em doze porções e tomava exatamente doze goles de água.
Nem a mais, nem a menos.
Ela pedia para cortar a pizza em doze pedaços e passava doze minutos no banho. Limpava a casa obsessivamente, doze vezes por semana. Tinha doze peixes no aquário e doze livros na estante.
Doze cicatrizes.
Doze picadas.
Doze...
Só havia uma coisa que não era doze.
O número de vezes que ela tentou se matar.
O relógio bateu meia-noite. O ponteiro apontava para o número doze.
Havia doze compridos dispostos sobre a mesa.
Um comprimido por minuto com um gole d’água.
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Sete.
Oito.
Nove.
Dez.
Onze.
Seu corpo levou doze segundos para cair ao chão.
Havia doze riscos em seus braços.
Doze gotas de sangue manchando o chão.
Doze.
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