Deixaria de me amar?

Briga

- Eu estou cansada de tudo isso Apollo.
- Você está querendo dizer que está cansada de mim, Hadassa?
- Sim. Eu estou cansada de você Apollo Otto Nunes. Estou cansada de nossos almoços em família aos domingos, estou cansada da suas reclamações do trabalho, por que não se demite já que não suporta seu chefe? Você não precisa estar naquele emprego. Absolutamente estou cansada dessa nossa vida pacata. A gente já não faz sexo como antes, me diz a última vez que decidimos fazer loucuras na cama? Falando no popular, nosso fogo acabou. Não sei se quero continuar com tudo isso, e se nos casarmos e nada disso mudar? Eu quero conhecer lugares novos, eu quero beijar outras bocas eu quero tranzar como você nunca quis, como leio nos meus livros eróticos. Eu quero que você e suas manias se explodam.

Despejo isso em cima do homem da minha vida, falo o que já venho guardando a um tempo. Vejo Apollo olhando pra mim como se não me conhecesse mais. Já não me seguro e começo a chorar.

- Então é isso Hadassa Meinerz Donnely? É por isso essa sua indiferença? Por que não veio conversar comigo? - vejo tristeza no seu semblante.
- Eu tentava conversar com você, você estava sempre ocupado tentando mostrar para seu chefe que podia ser maior que ele. Quantas vezes falei "amor, vamos mudar nossa rotina aos domingos" você simplesmente falava que estava tudo bem com nossa rotina aos domingos. E não, não estava. Quantas vezes eu me arrumei a noite, ou melhor, coloquei fantasias eróticas para brincarmos -coloco aspas com os dedos quando pronuncio a palavra brincarmos- e você falava que estava cansado demais para minhas loucuras. Eu só queria que você fizesse eu me sentir mulher, me sentir desejada pelo meu namorado e futuro marido. Mas você não ligava mais pra mim Apollo. Eu também tenho desejos. Eu lembro de como você era atencioso e carinhoso e isso mudou! O que aconteceu? Você arrumou outra? - eu pergunto com medo da resposta.
- Não Hadassa, eu não arrumei outra! Eu nunca faria algo assim com você, eu te amo. Achei que estava tudo bem. Me desculpe.

Sempre soube quando as desculpas de Apollo eram verdadeiras, e essa diferente de todas as outras que ele havia me pedido, havia medo e apreensão.

- Apollo eu não sei. Não sei se te amo como antes, se ainda quero casar com você. E tenho certeza que essa nossa briga não vai acabar na cama como todas as outras - ele olha fixamente no meu olho e me pergunta:
- Você está terminando comigo Hadassa Meinerz Donnely? Você não pode fazer isso. Você está louca? Você quer me deixar louco?

Nesse momento vejo que Apollo se alterou e começo a chorar como uma louca.

- Em Hadassa? Me responde! - vejo Apollo socar a parede com toda força, ele olha para sua mão ensanguentada e vou até ele, segurando sua mão para não fazer movimentos bruscos. Ele olha para mim e acaricia meus lábios com seu indicador.
- Eu não posso te deixar ir Hadassa, eu te amo demais.

Ele me puxa e me beija. Me beija como a muito tempo não fazia. Sua língua invade minha boca e eu o acompanho naquele beijo ardente e cheio de desejo. Lembro-me do nosso primeiro beijo assim. Paro o beijo e falo:
- Apollo, eu te amo. Não sei como posso pensar que não. Mas não da mais para mim.

Saio de sua casa sem pensar duas vezes batendo a porta com toda força que tinha. Pego meu carro e saio descontroladamente, vendo que já estava quase matando todo mundo na rua, estaciono meu carro a uns quatro quarteirões da casa de Apollo e tento me acalmar. Tudo que eu disse a ele vem a minha cabeça, nunca havíamos brigado de tal forma, eu não aguentava mais tudo aquilo. Depois de 20 minutos com o carro estacionado ali decido ir para casa. Chegando em casa minha mãe me recebe grintando e perguntando se está tudo bem.
- Não sei mãe, não sei.
- Apollo já ligou para cá umas 500 vezes - ela e seus exageros.
- Mãe se ele ligar de novo diga que está tudo bem.

Eu subo para meu quarto e ligo meu celular que por sinal era o motivo pelo qual Apollo ligava para minha casa. No mesmo instante chega uma mensagem dele. "Sim Hadassa, eu lhe entendo. Também estou cansado de você. Mas mesmo assim eu te amo, isso é muito contraditório. Estou aqui pensando em tudo que passamos, e vejo que você contínua sendo a mulher da minha vida e não haverá outra. Mas já que queres curtir, estou te dando passe livre de um ano. Isso mesmo, um ano. Nesse meio tempo quero que você faça tudo que tem vontade, tudo que não fez estando comigo. Eu farei o mesmo. Durante esse tempo não poderemos nos falar, não poderemos manter contato um com o outro, não poderemos nos ver, então, evite lugares que provavelmente estarei. Me bloqueei de todas as redes sociais, será férias de nós mesmos. Se nesse tempo sentir minha falta e perceber que ainda me ama estarei te esperando às 19 hrs, nessa mesma data, 14/05, com a diferença que será o ano de 2016. No lago perto da ponte onde nos beijamos pela primeira vez, ou melhor, onde ambos beijaram pela primeira vez. Se não formos, será ali que tudo realmente vai acabar, como começou."
Ao ler aquela mensagem fico paralisada, sem saber o que responder. Começo a andar de um lado para o outro. Depois de mais ou menos meia hora eu o respondo: "Okay Apollo. Estou concordando, talvez precisamos dessa distância." espero alguma resposta e nada. Nesse momento vejo que ele já colocou o plano em ação. Me bloqueou de todas as redes sociais.

Ω
Saio de meus pensamentos quando escuto uma enfermeira falar nos transmissores de som do hospital "Doutor Henrique Sanches comparecer à pediatria."
Resolvo sair da sala de espera e ir até Apollo. Como não posso entrar no quarto fico diante a janela lhe observando. Era algo mágico observá-lo, eu amava fazer isso. Pena que tenha que vê-lo naquela situação: respirando por aparelhos, se alimentado com a ajuda deles. Logo ele que era tão independente.