Introdução: O evangelho de Deus e o anseio de Paulo por compartilhá-lo
Romanos 1:1-17
Paulo inicia sua carta com um toque bem pessoal. Os pronomes pessoais e
possessivos (eu, mim, meu) ocorrem, seja de forma implícita ou explicitamente, mais de
vinte vezes nos versículos de abertura. Desde o início é evidente o seu profundo desejo de
estabelecer uma relação pessoal com seus leitores. A introdução está dividida em três
partes, que eu chamarei de "Paulo e o evangelho" (1-6), "Paulo e os romanos" (7-13) e "Paulo e
a evangelização" (14-17).
1. Paulo e o evangelho (1:1-6)
O estilo das cartas e a forma de escrevê-las varia de cultura para cultura. Nós,
modernos, geralmente começamos com o destinatário ("Cara Joana") e só no final é que
nos identificamos ("Sinceramente, João"). No mundo antigo, entretanto, o costume era
outro: primeiro o remetente se identificava e em seguida indicava o destinatário ("João
para Joana, saudações!").
Paulo geralmente seguia as normas de seu tempo. Aqui, porém, ele se desvia delas,
apresentando sobre si mesmo, em relação ao evangelho, uma descrição mais elaborada do
que costumava fazer. A razão é, provavelmente, porque não foi ele quem fundou a igreja
de Roma. Além disso, nunca esteve lá. Sente, portanto, a necessidade de estabelecer suas
credenciais como apóstolo, bem como de resumir o seu evangelho. Ele começa: Paulo, servo
de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus.
"Servo" vem do grego doulos e deveria, na verdade, ser traduzido como "escravo". No
Antigo Testamento existia uma respeitável sucessão de indivíduos israelitas, a começar
por Moisés e Josué, que se autodenominavam "servos" ou "escravos" de Javé (por exemplo:
"Senhor, deveras sou teu servo");1 e Javé, por sua vez, chama Israel como um todo de "o
meu servo".2 No Novo Testamento, entretanto, é impressionante notar com que facilidade
o título "Senhor" é transferido de Javé para Jesus (ver, por exemplo, os versículos 4 e 7),
enquanto que os "servos" do Senhor não são mais Israel, mas todo o povo de Deus,
independente de serem judeus ou gentios.
Já "apóstolo" foi, desde o início, um nome especificamente cristão, sendo que o
próprio Jesus o escolheu para designar os doze,3 número ao qual Paulo diz ter sido
acrescentado.4 Havia algumas marcas que distinguiam os apóstolos: terem sido direta e
pessoalmente chamados e delegados por Jesus; terem sido testemunhas oculares do Jesus
histórico, pelo menos (e especialmente) de sua ressurreição;5 e terem sido enviados por ele
para pregar com sua autoridade. Os apóstolos do Novo Testamento, portanto, lembravam