Oitavo Andar

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Isabela acordou com o insuportável barulho de despertador que, se o mesmo não fosse seu celular, ela já teria jogado pela janela.
Desligou aquele treco insuportável e fitou o teto por alguns minutos em um estado de inércia. Quando finalmente se deu conta de que tinha um longo dia pela frente, se levantou muito a contragosto de sua amada cama e arrastou-se até o banheiro.
Olhou-se no espelho, ela nunca ficava bonita como as moças das propagandas ao acordar, tinha olheiras enormes, cabelos embaraçados e sua expressão de revolta causada pelo mau-humor matinal não ajudavam em nada. Escovou seus dentes tomou um banho quente, que finalmente a despertou, penteou seus cabelos e vestiu a primeira roupa que viu no guarda-roupas. Correu para cozinha, comeu um pão com bastante manteiga, tomou Nescau e pegou um pedaço do pudim deixado por sua querida dona Maria do andar de cima. Não, ela definitivamente não tinha hábitos alimentares saudáveis, mas ela não se importava, não conseguia engordar mesmo. Desde novinha era meio alta e bem magra. Então Isabela pegou sua bolsa e saiu correndo pelas ruas do Leblon, pegou um táxi para a UFRJ. Desceu do veículo em disparada e foi para sua sala, por sorte Mestre (Ele não suportava que o chamassem de "professor") Guimarães ainda não havia chegado. Sentou um pouco e procurou respirar fundo pra relaxar. Ingressar em uma universidade com certeza é um grande passo, mas o difícil mesmo era a longa e exaustiva caminhada que vinha depois. São um mar de provas, trabalhos, seminários, projetos... Havia dias que Isabela se sentia sufocada; ela, que sempre foi espirituosa e um tanto respondona, teve que que aprender a engolir muito sapos. Além disso, a maioria da turma de Isabela era composta por mimadinhos sustentados pelos pais, em geral eram pessoas até simpáticas, mas suas futilidades davam nos nervos.
Finalmente o mestre entrou na sala, silenciosamente entregou as provas e voltou para o seu lugar diante da mesa.
Isabela achou a prova até moderadamente fácil, ela iria tirar uma boa nota.
Saiu da sala em direção a secretaria onde tinha algumas pendências para resolver. O vento forte castigava o seu rosto e bagunçava seu cabelo, que um dia fora longo, mas em um de seus ataques matinais, Isabela ligou o som bem alto e cortou o seu cabelo na altura dos ombros, fez até uma franja meia testa porque achou que ficaria legal. E ficou, pelo menos na opinião dela, o que era o bastante.
Mas (Isabela era cercada de contradições.) o forte vento não satisfeito em deixar Isabela toda descabelada, fez seus papéis voarem. Papéis importantes. Os que ela tinha até hoje pra levar a secretaria.
Isabela começou a correr e gritar feito uma louca.
- AI MEU DEUS, ALGUÉM ME AJUDA. PEGUEM AQUELES PAPÉIS.

Ela caiu no chão, ficou lá deitada por alguns minutos xingando mentalmente e pensando seriamente em abandonar tudo e fugir com o circo, virar cigana ou algo do tipo.
Foi interrompida por uma risada, uma risada espontânea de quem estava realmente se divertindo com as desgraças dela. Ela usou os braços para erguer um pouco o corpo e viu um all- Star preto cano longo. Levantou. Não queria que aquele idiota olhasse pra baixo para vê-la. Mas levantar não adiantou, o garoto era enorme, de modo que Isabela se sentia uma anã perto dele.
Ela o olhou nos olhos (Filho da mãe! Ele tinha olhos azuis. O mais lindo par de olhos que a garota já tinha visto.)
Ele continuava com um sorriso no rosto, baixou os olhos, entre seus braços (E que braços. Ai meu Deus, Isabela, foca.) Estavam seus papéis, uma série de documentos muito importantes que ela tinha um prazo curtíssimo pra entregar. Isabela fechou ainda mais a cara.
- Me devolve meus documentos.
- Oi pra você também, bom dia.
- Me dá. Agora.
- Sua mãe nunca te falou das palavrinhas mágicas? - disse ele com uma expressão tranquila e risonha.
- Caro, idiota. Por favor, me devolve a droga desses documentos agora. - Disse ela fazendo um falso tom doce.
- Como é o seu nome mesmo? - Perguntou ele.
- Não te interessa.
- Bom, se eu perguntei é porque estou interessado.
- Ha-ha. Cara, eu não tô te pedindo nada demais, só me devolve minhas coisas.
- Não antes de você dizer seu nome.
- Isabela. Meu nome é Isabela. - Disse ela vencida pelo cansaço.
- Hum... Bonito nome, vou te chamar de Bela.
Isabela revirou os olhos.
- a) Meu nome é Isabela, não me chame por apelidos. b) Você não vai me chamar de nada porque nós não nos veremos novamente. c) Pela última vez, me devolve minhas coisas agora se não eu faço um escândalo.
Ele riu.
Se conheciam a poucos minutos, mas ela já detestava essa mania dele de rir de tudo. Ele entregou os papéis, ela pegou bruscamente e foi embora. Ainda pôde ouvir ele dizendo.
- A gente se vê por aí. Até mais.

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