Marie
Estava me levantando da cama em meu primeiro dia de férias, quando minha mãe entra no quarto gritando.
- FILHA TA PRONTA PRA SE MUDAR?!
Infelizmente, eu passei para uma escola em Nova York. Não sei lidar com cidade grande. Moro praticamente em uma fazenda e não sei onde vamos ficar lá. Não temos dinheiro para ficar aqui, quanto mais para se mudar para Nova York.
- Nem to.
- Pois fique. Encontrei uma pessoa para dividir o quarto com você.
- Mas em? E você?
- Tenho animais suficientes para cuidar aqui, não preciso me mudar para cuidar de outro.Minha mãe é muito delicada. Me despedi de toda família, um por um. Judite, a minha porca foi a última. Ia sentir minha falta com certeza. Tirei até foto com ela, pois tenho certeza que na primeira vez que eu voltar para casa, serei recebida com um banquete, no meio, Judite com uma maçã na boca. E então, lá estava eu, sentada em um banco de ônibus velho, com buracos em seu braço e falhas na costura das almofadas. Sim, almofadas. Ainda acho que esse ônibus foi feito pelo motorista com coisas que ele encontra no ferro velho ao lado se sua casa.
A noite caiu. E eu ainda estava no ônibus. Pensei em dormir mas estava morrendo de medo. Aliás, se minha mãe não tivesse comprado açaí para mim, eu morreria de fome. Gosto muito de açaí. Eu compro com minha mesada pela internet numa loja brasileira "OmegaAçaí.com". Então dormi.
Sonhei com um cara me entrevistando. Ele estava vestido com um casaco do super homem e tinha meio que um topete. Seus olhos eram castanhos e tinha uma boca mara... É só um sonho Marie. Melhore.- Gosta de fazer o que?
- Ahn?
- Responda.
- Cantar...?
- Então cante.Logo depois que ele me mandou cantar nada saía de minha boca. Só gaguejava e soltava uns gemidos desafinados.
- Sabia que não era capaz...
- Mas... - tentei de novo... e nada. - eu sei cantar! Eu juro!
- Sua hora chegou.Entrei em desespero. Tudo começou a sacudir. Tudo... Mas não era nada. Era só uma sala escura. Completamente preta. Só eu e o...
- Espera, qual é o seu nom...
- ACORDA!Então, estava no ônibus. Sentada com a cabeça apoiada na minha bolsa. Minhas costas e pescoço doendo pela noite mal dormida.
- Tenho mais o que fazer, garota. Chegamos.
Estávamos no meio do nada. Dava para ver algumas estrelas no céu. Amo as estrelas e... Espera, estrelas? Olhei o celular.
- Moço, são 4:00 da manhã. Você tá fumado? Eu não saio daqui nem que Inês Brasil venha da Alemanha me buscar.
- Quem...? Não, importa. Saia já. Siga essa rua. Só tem essa mesmo. Não tem como se perder.
- Mas...
- Boa sorte. Ah, e tomei o resto de seu açaí, para compensar o tempo que você me fez esperar.
- Ah não.Depois dessa eu peguei a minha bolsa e fui embora daquele ônibus velho, azul e enferrujado, e segui em direção à meu destino. Lascou.
Eu não sabia se corria, ou andava devagar por causa do sono. Só havia mato em volta de mim. Segui a rua até encontrar uma casinha abandonada.
Era um chalé pequeno, feito de madeira escura. Suas janelas estavam quebradas e a iluminação era a base de lampiões. Na varanda havia uma senhora sentada em uma cadeira de balanço com um pinscher marrom magricelo.
Quando me viu quase caindo na rua me chamou para dentro. Nem me preocupei por ser uma velhinha morando sozinha no meio do nada, só entrei mesmo. A casa era toda antiga. Tinham quadros de pessoas velhas que pareciam ser de sua família. Tudo velho. Até o pequeno pinscher parecia mais velho, visto de perto. Ela preparou uma xícara de café e me deu.- Nova York é para o outro lado, você sabe não é?
- Como assim? - Bebi um gole de café. Estava parecendo água suja. Deixei sobre a mesa - O homem do ônibus falou...
- Aquele estúpido sempre faz isso com esses jovens sonhadores. Recalque. Quer que se tornem motoristas de ônibus igual a ele. Mas vocês tem potencial. Não caiam nessa. Sejam mais.
- Vocês quem?Assim que perguntei, uma garota abriu uma porta. De algo que parecia ser um banheiro. Ela era alta, morena e tem cabelos lisos. Ela é muito magra. Tipo, muito mesmo.
- Quem é a nova?
- Essa é a... - a senhora olhou para mim - Sabe que eu não sei?
- Marie. Eu vim de...
- Oi eu sou Megan, e eu não quero saber, não. Foi só por edução a pergunta.A senhorinha riu.
- Ela me faz rir. Agora vão dormir. Amanhã podem ir juntas para a cidade.
E assim fomos.
- Então. Você ouve música brasileira?
- Só funk.
- Mas e MPB, rock nacional...
- Não cara. Só funk mesmo.
- Você ta aqui a quanto tem...
- Aaah ou, vamos parar com essa palhaçada. Não estou afim de conversar.Não consegui dormir. Fiquei pensando o resto da noite inteira sobre minha casa. E como seria tudo diferente. E como minha pobre Judite não estaria mais lá. É sério, ela não vai sobreviver. Acho nojento e triste. Sou vegetariana, mas tenho que comer carne uma vez por semana. Odeio ser anêmica.
Quando deu 6:00 da manhã, fui lá para fora. Havia uma árvore e um balanço. Me lembrei de minha infância. Quando sentava no balanço e meu pai me empurrava e dizia que se eu fosse um pouco mais alto alcançaria as estrelas...
Então eu caí.
Esse balanço era amarrado com uma corda, mas tinham vinhas enroladas nela. Com flores nascendo. Era lindo. O vento batendo em meu rosto, o som da grama e das folhas se mexendo no vento. Um pequeno pássaro pousou no galho da árvore mais próximo de mim. Sentei no balanço e ele voou. Então comecei a cantarolar.-"I can't sleep tonight, wide awake and so confused, everything's in line but I'm bruised..."
- Demi Lovato pagaria para te ouvir cantar.Olhei assustada para trás e a senhora estava em pé, sorrindo e com os olhos molhados.
- Por que choras?
- São lágrimas de emoção. Servem para flores como você. Podem lhe ajudar a crescer e florir. Podes chorar se tiver vontade. Mas tem de permanecer em pé. E vai crescer igual à uma bananeira!A senhorinha riu mais uma vez.
- Vá minha filha. Morgana te espera.
- Não era Megan?
- Era? - ela sorriu e deu as costas a mim - Quero te ver na telinha!Sorri. E fui ao encontro de Megan para que pudéssemos ir para Nova York.
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Sing It!
RomanceMarie se muda para Nova York e tenta se encaixar em sua escola. No fim de seu primeiro ano em Bluey High School, terá muito o que contar. Ou cantar...