Não consegui dormir.
Tantas coisas pairavam por minha mente que, creio eu, o sono estava com medo de aproximar-se.
A escuridão do quarto também não contribuía para que me acalmasse. O clima pesado da sede do Caos parecia propagar-se mais facilmente no escuro.
Eu estava sentada na cama, encolhida e recostada na cabeceira. Algumas lágrimas escorriam contra minha vontade.
Meu corpo tremia.
_ Clara, controle-se! – exclamei a mim mesma.
Neste momento, um ruído fez-me sair de meu mundo, livrando-me de um desespero agonizante.
Toc toc toc
Levantei-me e fui abrir a porta.
Era madrugada, portanto não fazia ideia de quem poderia estar a minha procura.
_ Oi! – exclamou Jake, parado em frente a meu quarto, com uma lâmpada nas mãos.
_ Ahn... Olá!
_ Creio que o escuro não esteja te ajudando a pensar. – murmurou ele, invadindo o cômodo sem pedir licença.
De repente, algo me ocorreu. Não era a escuridão que me deixava confusa, era o Caos! O fato de estar na sede do Caos fazia com que meu coração pesasse de forma inevitável.
Segurei num dos braços de Jake e exclamei:
_ Tire-me daqui?
Sua expressão tornou-se confusa.
_ Por que você...?
_ Por favor, Jake! – implorei, interrompendo-o.
Ele assentiu. Colocou a lâmpada sobre minha cama, segurou minha mão com ternura e começou a caminhar, forçando-me a segui-lo.
Caminhamos rapidamente por toda a sede, até deixá-la para trás. Seguimos por uma estrada de terra. Andamos, andamos e andamos.
Ficamos em silêncio por todo o tempo. Jake só falou comigo quando avistamos um vilarejo.
_ Vamos até a praça. Já é bem tarde, portanto, provavelmente não vamos encontrar uma alva viva nas ruas.
Passamos por algumas casas, até que uma simples pracinha surgiu em meu campo de visão. Sentamo-nos num banco e permanecemos em silêncio.
Jake me observava.
O lugar tinha uma árvore no centro, a seu lado, postava-se uma fonte que jorrava água de forma discreta. Uma leve brisa soprava, brincando com meus cabelos.
Tudo ia bem até que, sem querer, algo tocou meu nariz com leveza, fazendo-me espirrar.
_ Saúde. – disse Jake. – Na verdade, saúde duas vezes.
_ Ahn... Saúde duas vezes? – perguntei confusa.
_ Sim. Hoje mais cedo, quando você estava dentro do armário, não pude desejar-lhe saúde no momento de seu espirro.
Corei imediatamente.
Meu coração acelerou de forma descontrolada e comecei a tremer.
Jake riu.
_ Tudo bem, Clara. Da próxima vez, tome mais cuidado, pois se fosse Andrew a ouvir um ruído como aquele vindo de um armário, não teria ignorado como eu fiz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasyClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...