Capítulo Único

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Eu sou um brinquedo antigo, poeirento e ranzinza, nada passa despercebido por mim dentro da loja de brinquedos, tudo eu via, tudo eu ouvia, tudo eu percebia.
Hoje é uma sexta-feira como qualquer outra, novos brinquedos chegam na sexta, novas jóias aos olhos das crianças, isso me entristecia, porque quanto mais brinquedos surgissem mais eu seria desprezado, afinal, sou um brinquedo velho.
Parecia que sempre havia novos brinquedos a serem lançados no mercado, mas todos eram iguais para mim, plástico que as crianças desprezariam com o tempo ou até o lançamento de um novo.
Os últimos pacotes eram a maior novidade do mês, o novo boneco era a promessa de venda garantida e muito dinheiro para o dono da loja de brinquedos. Os bonecos Kai's eram formidáveis, mas nada de mais, eram todos iguais como sempre.
Foi um dia longo, mas as19:00 horas a loja já estava fechada, então a partir desse horário nos, brinquedos, poderíamos caminhar livremente pelos corredores da loja sem sermos descobertos. Como sempre resolvi caminhar entre os outros brinquedos - caminhar faz bem para um boneco de corda como eu - mas uma algazarra me chamou a atenção na seção de brinquedos femininos. Vários brinquedos se juntaram para ver o que acontecia mas se afastaram com a minha chegada - afinal ser o mais velhos dos brinquedos me dava alguns direitos e respeito acima de tudo.
"O que está acontecendo aqui? - me dirigi a todos".
"Um dos novos exemplares Kai's não permaneceu na caixa Kyungsoo, isso quase o torna um brinquedo não comprável - disse o capitão dos soldados de lego com uma expressão de horror no rosto".
"Capitão Siwon, eu sou um brinquedo que não foi comprado, não é algo horrível - disse impassível - ao menos saberei que nunca serei deixado de lado por uma criança".
"Desculpa Kyungsoo, não quis te ofender, mas é melhor você arrumar essa bagunça, todos temem você afinal".
Olhei uma última fez para o capitão e me dirigi ao centro da algazarra, o boneco Kai fugitivo, ele parecia assustado e perdido ao mesmo tempo.
"Olá Sr. Kai, eu me chamo Kyungsoo - me apresentei ao boneco descontrolado - eu sou o responsável por manter essa loja organizada, e você está impedindo que tal organização continue, então por favor volte para sua caixa com os demais bonecos Kai".
"Hyung, woaw você é lindo, eu gostei muito - mesmo assustado o boneco ficou me observando com um sorriso no rosto - eu me chamo Jongin, e não Kai, eu sou diferente também, eu sou único - disse com convicção".
Acho que já seu qual era o problema daquele boneco, pseudo Jongin, ele é louco e muito narcisista por se achar único, eu nem mesmo sabia que bonecos podiam ser narcisista. E ainda me chamou de lindo, acho que essa foi a primeira vez que me disseram algo do gênero.
"Kai, ou Jongin, como preferir, me diga porque você é único? - questionei".
"Hyung, eu sou mais alto que os outros, tenho olhos castanhos e orientais, assim como os seus, e não azuis como os deles e tenho também a pele mais escura, mas não é isso o que realmente me diferencia deles, mas sim o fato de que eu posso sentir de verdade, como os humanos...".
Aquilo me intrigou, a muitos anos os brinquedos eram feitos com amor e podia realmente ter sentimentos humanos como amor, raiva, tristeza, e todos os outros, mas depois que começaram a serem feitos por máquinas passaram a não ter mais esses sentimentos.
Eu também tenho sentimentos humanos como o pseudo Jongin diz ter, será que ele é mesmo diferente dos outros? Teria que descobrir de qualquer forma.
"Todos os brinquedos retornem aos seus devidos lugares, hoje o passeio acaba mais cedo - falei para todos os brinquedos - quanto ao boneco Jongin, ele passará a noite no escritório ao meu lado até que eu decida se ele é ou não igual aos outros Kai's".
Acho que ele entendeu que deveria me seguir no momento em que eu comecei a andar pelos corredores que nos levariam até o escritório - era lá onde eu vivia desde que passei a ser um boneco sem utilidade.
"Hyung, você anda de forma engraçada, parece um pinguim".
"Não gosto que me chamem de pinguim, e também não gosto de você - fui grosso mesmo, ninguém me chama de pinguim sem sofrer retalhações - se quiser falar comigo me chame de Kyungsoo, esse é o meu nome".
"Hyung?"
"O que foi? - será que ele não consegue pronunciar o meu nome?".
" Você é a coisa mais fofa quando está corado e fazendo biquinho, você é um pinguim muito fofo".
"Talvez a sua estupidez não o deixe perceber mas é sou de madeira, não posso fazer bico ou corar - fui ríspido de novo, mas não era à minha intenção, realmente não gosto de toda essa intimidade que ele está tendo comigo".
"Desculpa Sr. Kyungsoo, eu não quis te irritar, e você realmente pode corar e fazer bico - foi a vez dele de fazer bico mas ele também tinha uma expressão de choro no rosto perfeito, não quero que ninguém chore perto de mim, não sou bom com consolos".
"Eu fui grosseiro, quem deve pedir desculpas sou eu, só não chore, eu deixo você até me chamar do que quiser, desde que não chore - tentei compra-lo, e por incrível que pareça ela aceitou abrindo um largo sorriso".
"Obrigado Hyung".
O sorriso dele é bonito, era verdadeiro e parecia acender o mundo, ele deveria sorrir sempre.

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