*N/A: Para caso alguém tenha dúvida sobre a definição de "laranja": Indivíduo que se presta, consciente ou inconscientemente, a participar de golpes para outros indivíduos, normalmente poderosos em persuadir.*
Thomas nunca fora alguém responsável. Porque ele nunca precisara ser.
Seu pai sempre assumira a responsabilidade por toda a burocracia dos negócios da família enquanto ele rotulava-se simplesmente como um laranja de seu próprio império, o O'Brien mais jovem sempre fora o cara do trabalho sujo e nunca tivera problema algum com aquilo. Precisavam de alguém para dar uma surra em algum bastardo que devia ao seu pai? Thomas era o cara que resolvia este tipo de problema. Precisavam de alguém para vender drogas em festas universitárias? Thomas assumia o risco. Precisavam de alguém para garantir a segurança dos caminhões que carregavam as encomendas de seus clientes? Thomas o fazia sem delongas. Mas se tratando de lidar com os sócios das filias estrangeiras, em negociar com os fornecedores ou manter as empresas dentro das restrições jurídicas, Thomas não fazia ideia do que fazer.
Ele sentia-se próximo à insanidade e ainda não tivera que participar de nem uma reunião se quer. Se o garoto não enlouquecesse diante a pressão de não levar sua família á falência, ele com toda a certeza enlouqueceria em meio à tanto bandido engravatado e a burocracia em excesso.
Thomas odiava papeis, odiava cheques de pagamento, odiava seus mais novos funcionários, odiava os políticos corruptos com quem teria que aprender a lidar e odiava não poder mais ser o que sempre fora no meio de toda aquela hierarquia doentia estabelecida por seu pai. Ele só queria que o seu pai fosse solto e que tudo voltasse ao que era, mas infelizmente, as coisas não eram tão simples assim para ele, e mesmo que Julian fosse solto dentro de um mês ou dois ele se afastaria das empresas por no mínimo meio ano. Thomas teria que crescer, de uma forma ou de outra.
Ele era um homem agora, e para piorar, era a merda do homem mais rico e filho da puta de Las Vegas.
Os dedos do garoto suavam frio e vasculhavam inquietos toda a sua escrivaninha em busca de seu maço de cigarros quando duas batidas envergonhadas foram ouvidas através da porta.
- O que foi agora? - perguntou rabugento, não desviando o olhar das gavetas e bolsos nos quais procurava a droga legalizada.
- É o Gally. - uma voz vacilante pode ser ouvida e Thomas rolou os olhos, estava sem saco algum para aturar alguém que se julgava competente o suficiente para substituir Minho em sua vida, mas talvez, Gally tivesse alguns cigarros para lhe oferecer.
- Pode entrar. - declarou alto e assistiu a maçaneta girar e segundos depois a porta abrir, revelando um rapaz alto, musculoso e de cabelos loiros bagunçados através da mesma. As botinas pretas eram da mesma cor da camiseta simples e combinavam perfeitamente com a skinny vinho que vestia, nada mal, Thomas pensou. Ele poderia até fodê-lo, poderia, se Gally não usasse lápis de olho escuro e lentes vermelhas que o deixavam com um olhar de adorador do anti-cristo. Não que Thomas fosse religioso, longe disso, mas enquanto pudesse, ele preferia evitar qualquer contato com o mundo inferior.
Gally era definitivamente excêntrico, e aquilo fez Thomas sorrir genuinamente.
- Você tem cigarros, Gally? - Thomas indagou, assistindo o rapaz adentrar seu escritório de forma desconfortável.
- Tenho sim, eles devem estar aqui em... - ele começou a resmungar buscando por algo em seus bolsos antes de arregalar os olhos e voltar-se para Thomas assustado. - Eu.. e-eu não fumo, senhor.
E então Thomas gargalhou divertido, imaginando tudo o que Minho havia feito o outro rapaz passar antes de deixá-lo ir até seu sala.
- Minho lhe mandou dizer que não fumava? - o menor perguntou.
- Minho me mandou parar de fumar. - Gally confessou emburrado.
- Eu não vou contar a ele que você tem cigarros se você não contar. - Thomas deu de ombros e então pareceu se lembrar de algo que o amigo lhe dissera mais cedo - A não ser que você tenha maconha por ai. - encarou-o desconfiado.
- Eu estou limpo senhor. - comentou tateando os bolsos e apressou-se em tirar dali um maço de Black, entendendo-o na direção de Thomas, como se lhe oferecesse um dos cigarros. O moreno fez que sim com a cabeça, aceitando, e Gally arremessou o maço no ar em sua direção. - É tudo o que eu tenho aqui.
- Tudo bem, Gally. - ele agradeceu, retirando um dos cigarros da pequena caixinha e se levantando da cadeira, caminhando calmamente em direção à porta de seu escritório enquanto acendia o cigarro recém adquirido. - Eu estou de saída, - resmungou enquanto devolvia o maço para o outro e saía da sala, sendo seguido por Gally. - Se ver o Minho por ai diga que tirei o resto do dia de folga. Eu preciso de um tempo. - confessou caminhando apressado em direção à escada que o levaria ao primeiro andar do pequeno prédio dos funcionários em que estava e tragando o pequeno cigarro tranquilamente.
Não havia nada que ele pudesse fazer para mudar a atual situação em que vivia, mas ao menos, por aquele resto de dia Thomas podia simplesmente fingir que nada havia mudado.
- Senhor Thomas, você não pode ir embora. - Gally declarou desesperado. - Seu pai tinha duas reuniões programadas e você terá que substituí-lo.
- Remarque-as para amanhã, Gally. - o garoto ordenou. - Remarque tudo para amanhã. - disse sério apressando-se em descer as escadas e finalmente vendo o outro desistir de segui-lo.
Quando Thomas finalmente chegou ao primeiro andar do prédio em que trabalhava, ele correu até a porta de entrada e apressou-se em abri-la com força, e foi por fazê-lo de forma desastrosa e despreocupava que sentiu um corpo se chocar contra a porta pesada antes de ouvir um resmungo baixo.
O rapaz fechou a porta depressa e saiu do edifício, ele estava agora em uma das muitas calçadas do condomínio de seu pai, e à pouco menos de um metro à sua frente, estava o garoto do prédio C para quem ele batia uma punheta algumas horas atrás, sentado no chão com uma carranca nada feliz.
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BADLANDS //Newtmas
Fiksi PenggemarThomas assistia sua vida ruir diante de seus olhos, mas enquanto ele estivesse com Newt, tudo estaria bem.