O Preço De Se Tornar Rodrigo

Capítulo XXV

Melissa e Salvador já estavam em viagem há quase uma semana desde que haviam saído do acampamento militar, pego a embarcação que os levou até Porto Alegre pelo rio Jacuí, feito uma pequena escala na capital da província – para que a moça arrumasse algumas coisas – e pego novamente a rota marítima para o Rio de Janeiro, onde chegavam agora.

– Sabe aonde e quando encontraremos meu pai, Salvador?

– Creio que não será difícil encontrá-lo, senhorinha. Seu pai está hospedado em um dos hotéis mais famosos da corte e hoje mesmo passaremos lá para lhe falar. Não se preocupe, tenho conhecimento de como chegar até ele.

– Ótimo, preciso pedir urgentemente para que me explique tudo sobre os últimos acontecimentos, tanto os que ocorreram aqui no Brasil como aqueles dos quais tomei conhecimento em Portugal.

– Posso perguntar se são mais notícias ruins, senhorinha?

– Ruins não são. Porém há a velha máxima de que notícia ruim nunca vem sozinha, Salvador. E de notícias ruins estamos cheios, temos estas ameaças de assassinato e o medo que anda ao nosso lado a todo momento; também meu pai entrando na política, esse campo que sabemos tão traiçoeiro; as inquietações e guerras no império que atingem a todas as províncias, entre outras coisas.

– Não há mal que dure para sempre, isso eu lhe garanto, e até aquele que parece ser o pior cenário de todos, um dia será revertido por graça do destino. Seja o fundo do poço ou o topo da montanha, o caminho reverso sempre há de ser feito. Imagine: Aquele que está lá no fundo, em um momento haverá de subir novamente, pois não há mais para aonde descer, já aquele que está no auge e desdenha os demais, que assim como ele um dia hoje não tem nada, deve ser cuidadoso, pois não tendo mais para onde escalar, o único caminho que lhe resta é para baixo. E nessa descida irá encontrar aquele que pisou e usou como impulso.

Melissa nada mais disse depois dessa incursão filosófica de Salvador. Assim como ela ficou espantada, qualquer um que visse o porte e aparência deste homem ficaria igualmente surpreso ao ouvir tais palavras saírem de sua boca. Se a poesia tivesse face, com certeza, não seria este o seu rosto.

Em silêncio fizeram um desembarque sem alarde. E da mesma forma, sem chamar a atenção, cuidando ao máximo para não serem notados, permaneceram até que chegassem ao destino final: o hotel onde se encontrava hospedado o Capitão Rui de Alvarez, o Hotel do Viajante. No percurso com a carroça alugada por Salvador no porto, Melissa acabou pegando no sono e ele não a despertou antes do necessário. Tinha certeza de como a garota estava exausta e ansiando por um descanso. Assim que chegaram, gentilmente, ele se empenho na missão de despertá-la sem chateá-la.

– Senhorinha, por favor – disse chacoalhando de leve seu ombro esquerdo, já que ela dormia de alfo, – acorde. Depois de semanas, finalmente chegamos ao seu pai.

Abrindo os olhos com vagar, Melissa observou despretensiosamente pela mudança angular do sol que haviam ficado mais de uma hora no trajeto porto-hotel.

– Perfeito. Vamos Salvador, rápido – disse como se tivesse tomado uma injeção de adrenalina. – Sinto que não vou aguentar por muito tempo mais a ansiedade de ver meu pai; nossos sentimentos são realmente traiçoeiros, pois à medida em que chegamos cada vez mais perto do que estamos buscando, é que o aperto no peito se torna cada vez mais forte.

– Apenas mais uma das coisas sem explicação feitas pelo coração, senhorinha; apenas mais uma. Por favor, vá depressa, eu me encarrego das maletas. Pergunte na recepção por um homem de nome Castro Bandeira.

– Castro Bandeira, como assim? Meu pai está aqui com um nome falso? Oh Deus, quantos perigos mais nos rondam na corte?

– Por favor, não questione a mim ou ao nosso senhor coisas que somente seu pai, em pessoa, poderá responder-lhe. Apresse-se, a agonia da espera está por terminar em breve.