Conto.

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A noite quase o abandonava. Ele sentia um desconforto nas costas, acreditava que o tapete da sala já foi bem mais aconchegante. Abriu os olhos lentamente e seus braços tremiam, o frio do amanhecer gelava todo o ambiente. Não queria acordar, tudo que gostaria era continuar sonhando.Ela estava no sonho. Apenas nele. Já era tarde demais, seu consciente já havia despertado e ela o abandonava mais uma vez.

Levantou do tapete fino e direcionou-se a janela, fechando-a. Sentia seu rosto inchado e os cabelos negros caírem sobre os cílios e se lembrou daquele sorriso que ela tinha nos lábios ao dizer que Henry ficava lindo quando acordava. 

As lágrimas voltaram a marejar os olhos castanhos esverdeados. Voltou sua atenção para dentro da casa bagunçada, as fotos dos dois estavam por todos os lados e todo o lugar tinha o cheiro enjoativo de álcool misturando-se ao sexo, encarou as próprias mãos e o peitoral nu sentindo-se sujo, havia transado com outras garotas. Mas, caralho! Ele precisava tentar esquecê-la e tudo que pensou era que se envolver com outras mulheres traria o velho Henry Marshall de volta,  pelo contrário, adquiriu um enorme peso na consciência. 

Já havia se passado nove meses desde que ela se foi e tudo porque não queria amar ninguém. Era como um pássaro incapaz de ficar preso em uma gaiola. Não queria ser de ninguém além dela mesma. Porém, Henry não possuía a mesma habilidade de não conseguir amar ninguém –Acreditava que sim antes de conhecê-la-, mas era quase impossível não se apaixonar por ela. Henry caminhou até a geladeira e pegou mais um litro de whisky e abriu, levou a garrafa aos lábios enquanto as lágrimas contornavam seu rosto relembrando quando a conheceu.

Era sábado à noite e solitário no cubículo que Henry Marshall chamava de bar. As prateleiras possuíam pó excessivo e o piso rangia, entretanto ele só buscava descanso  após uma semana agitada naquele escritório de advocacia. Tinha plena consciência que seu chefe ainda o perturbava por ser novo demais para o serviço, mas adorava ver a cara do velho James quando trazia mais uma causa ganha, era o melhor da cidade com apenas vinte e quatro anos.

 A pequena caixa de som espalhava a voz melodiosa de Bon Jovi por todo o ambiente enquanto Henry saboreava a sangria no pequeno copo. Sentia-se bem com seu ego alimentado quando reparou que estava sendo observado, era quase impossível não notar os olhares calorosos das três moças sobre ele. 

Henry sabia lidar com algumas mulheres, não poderia ser chamado de garanhão porque poucas iam realmente parar em sua cama, mas adorava sentir o assédio que era bem frequente por ser exageradamente bonito. Dono de uma pele pálida e bem cuidada, possuía cabelos negros e um físico de tirar o fôlego, mas nada disso chamava atenção mais do que os grandes olhos castanhos esverdeados e os cílios volumosos e invejados por muitas mulheres. 

Henry era a personificação de algum tipo de Deus e sabia muito bem disso. As risadas e os comentários das três garotas começaram a aumentar quando ele cumprimentou-as levantando o copo e lançando seu melhor sorriso.

 Era um filho da puta gostoso! Provocava as garotas alisando o copo com o dedo indicador e levando-os aos lábios, olhando por cima do objeto de vidro, em um gesto similar a um ato sexual. Divertia-se com as mentes das pobres coitadas que caiam no jogo de sedução. Era interessante por mais que sabia que ficaria com nenhuma delas. Deixou o copo sobre o balcão e seus lábios se curvaram em um sorriso mínimo voltando a atenção para  garrafas sobra a prateleira.

—Você não pretende levar nenhuma delas para casa, não é mesmo. — Uma voz feminina invadiu seus ouvidos em um tom divertido e irônico. 

Virou-se para mesa na lateral do balcão e se deparou com a bela imagem de uma morena. A pele parda era iluminada pela luz fraca acima da mesa, possuía cabelos negros e cacheados em volume selvagem. A linha fina da boca era pintada por um batom vermelho e um sorriso irônico fazendo par perfeito com os olhos castanhos que escorriam uma luxuria natural, e por mais que não quisesse parecer indecente foi traído pelos seus próprios olhos quando eles caíram sobre o decote do vestido preto marcava os seios pequenos e redondos.

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