Hoje acordei diferente. Acordei cedo, decidida. Já tinha organizado tudo. Absolutamente tudo, exceto o meu discurso. Pra ser sincera, nem eu acredito nisso! Como assim, o que mais amo é escrever, e eu não preparei nada? É que não tem como preparar algo se eu não estou preparada. Nos últimos dias eu tenho recapitulado tudo na minha vida, e uma das coisas que eu observei é que antes a vida passava por mim e eu nem ligava. O foco sempre foram os estudos, e então o trabalho, e então formar família, ser o que esperavam que eu fosse. Mas a vida de verdade, a vida que Deus nos escolheu para aproveitar, escorria das minhas mãos como água. Portanto agora, ao invés de tentar escrever alguma coisa para a maldita hora que se aproxima, eu resolvo ir até a janela e observar, aproveitar aquilo que eu perdi, ou ao menos um pouco daquilo. Vejo os pássaros cantando sem parar, vejo o sol iluminando o espetáculo, vejo as formigas trabalhando sob a madeira da janela, vejo o vento embalando as folhas no ritmo da sinfonia harmonizada e grandiosa que chamamos humildemente de natureza. Vejo também um homem, meu vizinho rabugento, por acaso, fumando escondido da mulher no quintal de casa, e percebo que o ser humano é assim, ele vive numa bolha de preocupações e metas onde o centro é ele mesmo, ao ponto de esquecer do mais simples. Eu esqueci.
Esqueci que o perdão é mais importante que o orgulho, esqueci que as coisas passam e as pessoas mudam, fiquei na minha própria bolha, fugindo do momento em que teria que encará-lo novamente. A partir de hoje não poderei mais fugir, pois não terá do que fazê-lo. Ele já se foi, e eu perdi o seu calor, o seu carinho. Hoje quem pede perdão sou eu, aquele perdão que eu não soube dar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Veja como eu vejo
Short Story"Veja como eu vejo" se divide em pequenas crônicas que narram acontecimentos cotidianos, pelos quais todos já passaram ou passarão. Porém, estes fatos serão narrados pela bela Valentina, uma garota simples, que ultrapassa qualquer limite que você im...