O que há de errado comigo!?

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Depois de dizer aquilo, Shun voltou às pressas para a sala de aula. Meu rosto estava tão vermelho que não pensei duas vezes antes de correr para a enfermaria.

Entrei e fechei a porta com tudo, empurrando-a com as minhas costas, como se temesse que alguém entrasse. "Droga! Como ele conseguiu ser tão fofo de repente? Espera... por que eu achei ele fofo?" era o que eu me perguntava quando me dei conta de que havia mais alguém na enfermaria.

Gina estava sentada, organizando alguns vidros de remédios em uma gaveta, próxima à sua mesa. Ela se virou para mim preocupada e, depois de dar uma boa olhada, sorriu.

- Problemas com garotos? - perguntou maliciosamente.

- G-garotos!? Não me faça rir. - disse bastante irritada. - Só um idiota e seus insultos. Do tipo que pensa que pedir desculpas vai resolver alguma coisa?

- Se ele pediu desculpas deve ter se arrependido, não é mesmo? - cutucou Gina e meu rosto corou mais ainda. Por que estou corando?

- Claro que não! Ele é um babaca que não mede suas palavras. Mas... - lembrei do rosto envergonhado de Shun. Ele parecia mais perdido do que eu naquele momento.

- Viu? Parece que ele pediu desculpas apropriadamente.

- Não importa! - disse levantando a voz - Essa sou um homem e quero voltar a ser como eu era antes. Essas... emoções ou sei lá o que vão me deixar maluca! Por que isso está acontecendo comigo? Por que me sinto tão fraca e indefesa? Ele merecia pelo menos um tapa, isso sim! - lágrimas escorriam de meus olhos. Sentia muita raiva, mas não dele. Raiva de mim por ser uma inútil, por não ser forte e por essas coisas que eu sinto às vezes.

Gina levantou-se e veio até mim, abraçando-me carinhosamente.

- Calma, calma. Vai ficar tudo bem! É normal se sentir assim. Ninguém vai te julgar por isso.

- Diga isso para os meus colegas de classe. - gritei com força, como se quisesse que todos ouvissem.

Ela olhou abismada. Ela sabia que minha situação não era nenhum pouco fácil. Já era difícil me aceitar como eu estava agora, imagina ser aceita pela sociedade?

- Não tem nada de errado com você. Você é linda e tem um coração maravilhoso. Sei que é difícil, mas você precisa superar isso.

- Mas por que tinha que ser justo comigo? E essas coisas estranhas que tenho sentido... eu não sei como lidar com elas. - sussurrei a última parte.

- Grandes coisas acontecem a pessoas destinadas à grandeza. - disse Gina enquanto acariciava meus cabelos - Suas emoções são o resultado do que se tornou: uma mulher. Aliás, Isso me lembra de uma história muito antiga. É claro, não tem nada tão louco quanto o que aconteceu com você, mas acho que é incrível o bastante.

- Uma história? De que tipo? - perguntei um pouco mais calma. Gina parece ter essa influência positiva nas pessoas.

- A história de como a guerra entre nós, seres místicos, e os humanos terminou.

- Guerra!? - me afastei um pouco. - Vocês estavam em guerra?

- Infelizmente sim, mas esta história vai muito antes da criação dos seres humanos. No começo de tudo, nós éramos monstros horrendos que atacavam as pessoas sem misericórdia, devorando-as. Diversas pessoas e monstros morriam todos os dias, em uma luta constante pela sobrevivência. Mas não podíamos mudar este comportamento. Era a forma como nos alimentávamos.

- Então o que os fez mudar?

- Tudo o que somos é graças à influência de quem nos governa. Basicamente, somos a imagem de nossos líderes. Naquele tempo, um demônio muito poderoso chamado Salazar era o nosso "Lorde das Trevas", como os humanos o chamavam. Ele governava soberano, aterrorizando e devastando vilas inteiras. Mas um dia, uma Succubus muito poderosa juntou forças com as poucas Deusas que ainda acreditavam em nós e derrotou Salazar, tomando seu lugar como nossa soberana.

Metamorfose: A Outra FaceOnde histórias criam vida. Descubra agora