Sombras do Mundo

Capítulo 6

Quantas perguntas sem respostas, eu estava ficando ainda mais nervosa agora que Will se fora. De que diabo se tratava tudo aquilo, seria mesmo possível que fosse verdade? Sempre pensei que havia algo mais no mundo do que aquilo que estava visível, mas isso já era demais. Minha melhor amiga me escondia mais segredos do que o Vaticano escondia do mundo, meu amigo podia ler mentes e não era muito humano ao que parecia. Que droga, isso tudo não fazia o menor sentido!

Comecei outra sessão de lembranças e não cheguei a nenhuma conclusão sobre o Will e o que ele poderia ser.

Quanto mais eu pensava sobre o assunto, mais estranhamente intrigada eu ficava. Curiosa e com sede de informação sentei na cama e fiquei pensando: o bar bizarro, a briga estranha, todos me impedindo de ver o que acontecia lá dentro, a bela Alamanda e sua energia manipuladora, Will sendo atirado pela janela e levantando-se normalmente e até a garota com os cabelos brancos.

Subitamente senti um arrepio percorrendo meu corpo e lembrei-me daquele homem bizarro parado no meio fio. Pude rever a imagem dele me observando e agora sim, eu estava ficando com medo. A história toda me parecia apavorante quando associada à figura assustadora daquele sujeito, que parecia me perseguir, aparecendo nos meus sonhos e agora na rua bem na minha frente. Me dei conta de que essa pessoa, ou seja lá o que ele for, era real e não mais um personagem dos meus sonhos apavorantes.

O que eu faria agora? Não conseguiria trabalhar, nem estudar, nem viver com aquela ansiedade. Eu queria sair e procurar respostas, mas não sabia aonde ir, ainda mais às quatro da manhã.

Acabei pegando no sono em meio a tantos pensamentos e só acordei quando ouvi um sussurro chamar meu nome, meus olhos não queriam abrir, estavam pesados e tive de forçá-los. Quando finalmente consegui abri-los o que vi foi um par de olhos me encarando, tão perto do meu rosto, que pude sentir sua respiração em minha boca. A figura estava tão perto que sua imagem ficou desfocada, principalmente na penumbra.

Um sorriso leve se formou no rosto que me observava. Os olhos eram negros e grandes, tinham cílios enormes e a pele clara. Observando melhor pude ver aquele sorriso leve e dissimulado pendendo para o lado. Não precisei ver mais nada para saber quem estava ali, no meu quarto, na minha cama e quase sobre mim. Com certeza mais perto do que o necessário. Tentei gritar, mas senti uma mão grande e forte sobre a minha boca.

— Shi! Antes de qualquer coisa quero que pense na melhor coisa a fazer, o que pode ser mais sábio? Gritar definitivamente não me parece muito inteligente. Entendo perfeitamente o quanto deve ser complicado pra você confiar em mim, mas a verdade irrefutável é que não vou te fazer mal. Já tive muitas oportunidades pra isso, mas esse nunca foi meu objetivo. Tenho certeza que quer saber por que estou aqui e é o que pretendo te dizer, se prometer me ouvir.

O homem se afastou um pouco e pude ver melhor seu rosto. Era jovem e até bonito, mas apesar de um visual clássico tipo anos trinta, ainda assim, era assustador; com aqueles olhos fundos e sombrios era difícil parecer amistoso.

Por mais estranho que fosse ele realmente estava dizendo a verdade. Sua vibração era forte, densa e obscura, no entanto, não era ruim, era ambígua e imprecisa.

Assenti com a cabeça. O que eu tinha a perder? Além do que, eu jamais gritaria, quem iria me ouvir? Eu nem sabia se aquilo tudo era real, ou se eu estava finalmente enlouquecendo. A única coisa que eu sabia era que estava morrendo de medo.

Tirando a mão da minha boca ele se afastou um pouco, se colocando sentado na beira da minha cama. O impressionante era que ele estava sempre sorrindo. Era estranho o jeito como ele me olhava, parecia curioso com alguma coisa. Cerrando os olhos e com um tom bastante condescendente ele disse.