Electi

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Meus pés estavam doloridos e já começava a pensar no quão ruim teria sido a minha brilhante ideia de viajar usando salto alto, principalmente com as pontes que tive de fazer.
O táxi parou em frente à casa pequena e acabada que eu moraria por algum tempo. Levei minhas malas para dentro verificando as fechaduras, ótimas, passei meu dedo indicador por cima dos móveis constatando que alguém já os tinha limpado, agradeci a ex dona da casa pelo favor e me joguei no pequeno sofá.
Quando aluguei essa casinha nunca pensei que seria mobiliada com móveis rústicos e bonitos, pensava em algo simples visto as imagens do exterior. Ainda bem que estava enganada.
Tratei de expulsar meu saltos e correr para o lado de fora, pés na grama úmida, sorriso na face e braços abertos. Se alguém passasse naquela rodovia diria que sou maluca o que realmente é verdade, agradeço a Deus por não ter nenhum vizinho.
Sorri para o céu e abri meus olhos, andando até os fundos da casa onde o clima pesava. Era muito escuro, árvores e mais árvores na imensidão, uma floresta magnífica e algo que ela adorava... Frio!
Coloquei um pé para dentro, mas logo recuei, acabei pisando em um galho repleto de espinhos. Droga. Pisar na grama era impossível, a solução foi sair pulando em cima de um só pé para dentro.
Joguei uma das minhas malas ao chão e procurei uma pinça, tirei um por um e fui lavar. Era doloroso e preciso.
Demorei um tempo para me levantar e desfazer as malas, arrumando tudo em seu devido lugar.
Meu estômago roncava de fome e não tinha nada ali para comer, a cidade ficava a 15 minutos(de carro) daqui e pelo que o taxista me informou tinha um pequeno barzinho em uma vila aqui perto, eu só tinha que atravessar a floresta... Ótimo!
Vou andando até a cidade durante a noite ou pela floresta? Dúvida mortal, prefiro ficar em casa morrendo de fome até lembrar das barrinhas dentro da bolsa.
Minha salvação.
Depois da refeição sinto uma enorme vontade de dormir, não tomo banho ou escovo os dentes, apenas durmo.
Na manhã seguinte sinto a necessidade de comprar um carro, jogo uma água no corpo e na boca, visto a primeira roupa que encontro e me obrigo a caminhar até a cidade que acabava de acordar.
Entro no primeiro restaurante que encontro e como maravilhosamente bem. Trato de procurar carros, carros e carros usados. Achei alguns mas não do meu interesse, acabei indo até uma concessionária e escolhendo um novinho em folha. Bastou um telefonema para meu pai e a compra foi efetuada, sai dirigindo o automóvel e em busca de um supermercado.
Compras e mais compras, do básico ao desnecessário, apenas comida e material de limpeza. Ao final do dia recebi uma ligação do meu pai, recusei.
Só procuro ele quando tenho pendências ao qual não posso resolver, isso foi uma decisão dele a partir do momento em que me deixou na portaria de um orfanato e continuou sua vida de luxos na Europa como se nada tivesse acontecido.
Não sei o que minha mãe significou para ele, só sei que ela se suicidou dois meses depois do meu nascimento. Cresci em um orfanato, fui criada por freiras severas e uma faxineira adorável que me ajudou a descobrir de onde vinha e porque estudava em uma escola renomada enquanto as outras crianças viviam ao relento.
Foi aquela faxineira velha e maltratada pelo tempo que me ajudou a descobrir meu pai e o quão imaturo é, ainda fez papel de mãe e um outro de psicóloga, dia após dia avaliava o meu estado psicológico... uma leve herança genética chamada depressão assolava meus dias.
E é por isso que sou uma viajante sem rumo, posso estar no Brasil e em outro momento China, apenas saio de um lugar quando começo a notar os sintomas.
Não culpo meu pai pela depressão, a culpa é da família da minha mãe... casos e mais casos de suicídio e realmente não quero o mesmo fim.
O dia foi exaustivo, andei muito e não aguentaria arrumar as compras... só capotei.

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