Mark abre os olhos lentamente e percebe que ainda sangra. Os ferimentos da última noite haviam se aprofundado além do que esperava. Lembrou-se dos fatos e mais uma vez pôs-se a chorar, mas agora estava em silêncio. Suas palavras não valeriam de nada. Atentou-se ao defunto em seu corpo e beijou-o lentamente, sentindo a pele fria e perfumada da Lucy em seus lábios. Agora é só uma questão de tempo até que encontrem-os jogados no campo de batalha sem vida. As esperanças há pouco ressuscitadas, novamente foram massacradas com tamanha brutalidade por conta de seu amor. Estava apenas esperando sua hora chegar, quando ouviu uma voz familiar. Era a Jhen, estava cantando uma música que trazia recordações indignas de serem lembradas enquanto caminha lentamente na direção do Mark. Ele fecha os olhos e tenta se esquecer dessas memórias, mas Jhen se aproxima e sussurra em seu ouvido algo que o faz voltar à tona: "você não se livra de mim tão cedo." Essa é a única frase que consegue alterar completamente o falso equilíbrio emocional de Markus e Jhen sabe muito bem disso. Ela sorri ironicamente e fixa seu olhar no corpo morto. Suspira com perceptível ódio e ironiza a situação:
-- Não é capaz nem de proteger o "amor" da sua vida... Como pretende livrar-se dessa, meu caro mentiroso?
-- Sabe que não menti pra você, sabe que foi tudo uma ilusão. Éramos jovens demais pra perceber nossos erros -- respondeu o garoto, que ofegava com as dores.
-- Eu fui um erro? Foi um erro eu ter te amado verdadeiramente? Não percebe sua ingenuidade? Você teve medo de ser feliz comigo mas não perdeu a primeira oportunidade com ela. Você é um hipócrita -- disse Jhen com raiva em seus olhos.
-- Não sou o único errado nessa história, você também se iludiu com conspirações sem fundamentos -- respondeu, enquanto arrancava um fragmento de bala da sua perna.
-- Sabe por que eu vim até aqui? Há muito tempo atrás, você prometeu que daria sua vida por ela e olha só... Mais uma promessa que não cumpriu. Eu vou apenas te fazer um favor, meu caro -- Jhenny pega a arma que está em seu bolso e aponta na direção do jovem --. Quais são suas últimas palavras?
-- Mais uma vez na mira de uma arma. Já passamos por isso, lembra-se? Na época em que eu acreditei em você...
-- Não me venha com seus joguinhos mentais, não vou mais cair neles tão fácil assim -- Ela engatilha a arma.
-- Acha que me matar vai resolver a situação? Sou apenas mais um corpo nesse hospício global, mas minha jornada já está registrada nas veias da história.
-- Odeio quando fala assim. Odeio mesmo, não é esse ódio que você diz estar disfarçado de amor. Pois bem, me conte sua história. Se me comover, posso pensar em te matar mais tarde -- ri ironicamente e abaixa a arma.
-- Estou muito debilitado, vou morrer logo. Você só está adiando o inevitável.
-- Escolha bem suas palavras. Nós dois sabemos que quem morre sou eu e você sobrevive, é assim que acontece na profecia, mas estou disposta a desafiá-la -- diz Jhenny irritada.
-- Eu mudei nosso final, pelo nosso bem. Estamos livres agora. Tudo depende de você fazer a escolha certa.
-- Vá direto ao assunto -- diz ela, reflexiva com o que acabara de ouvir.
-- Lembra-se de quando nos conhecemos? Daquele fatídico dia em que assinamos nossa sentença de morte?
-- Você e suas falas irritantemente formais... Sabe que odeio isso, não é?
-- Sei, como sei... Mas adoro te deixar irritada...
-- Não apele para o passado. Eu tenho a sua vida em minha mãos -- Jhenny começa a ficar sem jeito.