1. Matteo

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- Eles nunca saberão? - Questionei.

- Não, nunca saberão. Temos um acordo.

E, com um aperto de mãos, nós nos afastamos com um segredo que desgraçaria nossas vidas por completo se fosse revelado.


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- Meia calabresa e meia mussarela! - Gritei para meu pai e meus tios que estavam perto do forno à lenha. - Bianucci Pizzaria, boa noite.

Atendia mais uma ligação e anotava o pedido na máquina em minha frente, informando ao cliente o valor que ele devia pagar, perguntando a forma de pagamento e completando com quanto tempo demoraria. Gritei mais uma vez os outros sabores, mesmo sabendo que eles receberiam através do sistema, vendo os clientes novos olharem para mim como se eu fosse uma aberração.

A Bianucci Pizzaria tinha anos de tradição na região e era administrada pela minha família. Os mais novos - eu e meus primos, todos homens - ficávamos com a parte de atendimento do telefone, recepção de clientes, servir mesas enquanto os mais velhos - meus tios e meu pai, apenas homens também - tratavam de fazer as pizzas, esfihas, fogazzas e todo o resto.

Meu pai me dizia que eu e meus primos íamos à pizzaria desde muito novos, sempre no colo de nossas mães que antes ocuparam nossos lugares. Agora descansavam e gozavam da nossa fortuna que se fazia maior a cada dia. Elas mereciam isso, apesar de eu sempre achar que faltava um pouco de progesterona por ali.

Estava separando os pedidos atendidos, os clientes na casa e os a serem entregues quando eu a vi. Era como se algo nela me atraísse o olhar e não foi diferente. Levantei a cabeça de imediato, a tempo de vê-la entrando na pizzaria em companhia das outras primas. É claro que a gangue iria vir toda junta.

Aquelas eram as Pasini, filhas do dono da Pizzaria Pasini, nossa maior concorrente. Também tinham anos de tradição e nunca uma derrubara a outra - por mais que tentassem por anos. Cada uma era boa do seu modo, mas nunca deixamos de ter a nossa rivalidade. Crescemos ouvindo que deveríamos brigar entre si e era isso o que fazíamos por motivo nenhum. Quer dizer, sempre os Bianucci teriam um motivo para infernizar as Pasini, assim como as Pasini sempre teriam um motivo para implicar com os Bianucci. Sempre as garotas tinham as bonecas com a cabeça arrancada ou nós sempre tínhamos um belo castigo pelas dedo-duro-Pasini - que era como havíamos apelidado. 

Ao contrário daqui, lá tinha testosterona na medida certa. As garotas traziam equilíbrio e clientela masculina para a pizzaria. Nós atraíamos a clientela feminina também e de todas as idades, sempre muito satisfeitas com a nossa simpatia. Fomos muito bem educados para tratar bem à todas as mulheres, exceto as Pasini.

Quem liderava o grupo das três garotas descendentes de italianos, assim como nós, era Arabella Pasini, seguida por Paola e Perla - irmãs gêmeas univitelinas. Dei um sorriso de lado e me apoiei no balcão, esperando que elas se aproximassem os últimos passos. O olha furioso de Arabella me dizia que havíamos feito algo muito errado, só não sabia ainda o que era.

- OK engraçadinho, você vai agora buscar aquele cachorro pulguento que está comendo o meu estoque de bacon! - Gritou Arabella.

A garota tinha o cabelo loiro preso em uma trança como de praxe, o uniforme da pizzaria delineando muito bem suas curvas, mas sem o avental com o logo da empresa dessa vez. As primas vinham da mesma forma, só incluíam o avental que faltava na outra.

- Qual é, Pasini! Deixa o Nhoque em paz. Pelo menos ele gosta da comida de vocês. - Dei de ombros, indo lavar as mãos e ouvindo as risadas dos meus primos atrás de mim.

Entre Segredos e PizzasOnde histórias criam vida. Descubra agora