Capítulo 10 (parte 02)

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Por Mariana

Não queria ir para casa, ainda não tinha anoitecido e mesmo cansada, havia algumas coisas que eu queria resolver. Peguei o metrô, de novo, dessa vez até a casa de Valentina. Chega um certo horário do dia que se instaura um verdadeiro caos no Rio de Janeiro onde o fim de expediente é desesperador e o trânsito enlouquecedor. Ainda não estava nesse horário, mas daqui trinta minutos a desordem começaria. Na segunda parada, cedi meu lugar para uma moça com uma menininha linda no colo. Ela era moreninha com cabelos castanhos e sorria quando comecei a fazer careta. Devia ter quase dois anos e se distraía fácil. Sempre gostei de crianças e uma família sempre esteve nos meus planos, mas agora com Thomaz, eu realmente não sabia como seria meu futuro. Somos crescidos e criados em diferentes extremos. Não tinha ideia se ele gostava de crianças, não sabia o que ele pensava sobre casamento. Pensar nisso seria colocar a carroça na frente dos bois, caso não fosse algo que dizia muito sobre como enxergávamos a vida. Sou daquele tipo que planeja e organiza. E é claro que a vida aconteceu, sei que imprevistos surgem nos obrigando a improvisar ou mudar de caminho, de ideia e de pensamento. Mas sou metódica. Já Thomaz, sempre vi levando a vida sem se importar com o depois. Talvez ele esteja certo em viver assim. Só não parece se adequar para mim.

_ Oi, princesinha! _ Bá me recebeu num abraço carinhoso que me fez sorrir. Segurou minhas mãos e abriu meus braços. _ Como você está linda!

_ São seus olhos, Bá... _ ela segurou meu rosto e me olhou, analisando.

_ Hum... Não é só isso. Você está com um aspecto diferente. Está apaixonada?

_ Cadê a Valentina? _ tentei desconversar e ela entortou a boca, se divertindo.

_ Lá na varanda. _ sorri e abaixei a cabeça, saindo. Vi Valentina no sofá largo perto da piscina, aninhada a Gustavo. Ele olhava para longe, penteando os cabelos dela entre os dedos. Pareciam tão em paz que deu dó de interromper.

Fui me aproximando devagar. Era final de tarde e o vento estava gelado, o céu tomando uma tonalidade diferente de azul, o sol entre o laranja e o vermelho se escondendo pelo mar. Os dois estavam coberto por uma manta e só me perceberam quando parei ao lado.

_ Oi, gente.

_ Marianinha? _ Valentina abriu os olhos levantando a cabeça do peito de Gustavo, que sorriu para mim. Minha amiga estava com o canto dos olhos vermelhos e um pouco abatida. Pareciam cansados. Ela levantou e me abraçou, longamente. Por seu ombro, Gustavo estava em pé e me dava um sorriso triste. Olhar de quem está dolorido e fraco, de quem precisa de ajuda e não sabe pedir. Olhar que sofria e se aliviava por enxergar uma valvula de escape. Era eu? O que estava acontecendo ali começava a me deixar aflita e o que eu tinha ido fazer, acabou indo para segundo plano. Abracei Gustavo, que me deu um beijo no topo da cabeça e sentei na poltrona de frente para eles. _ Tudo bem?

_ Eu que pergunto. _juntei minhas mãos no colo e senti as palmas suadas.

_ Uns dias são melhores, outros são piores. Tenho feito acompanhamento. _ entrelaçou seus dedos nos de Gustavo e eu a olhei sem entender, esperando. Suspirou e soltou o que eu não podia imaginar, me deixando sem chão. _ Fui diagnosticada com depressão.

Levei a mão a boca, chocada. Minha expressão deve ter sido terrivelmente chorosa porque ironicamente Valentina começou a me consolar e explicar que já vinha tendo variações bruscas de humor. Desde o aborto nada foi como antes, ela sentia corpo e mente desconexos, mas se recusava a tomar remédios. À minha frente, Valentina parecia ter envelhecido anos. O jeito de falar e de olhar para lugar nenhum entre as pausas despertava toda minha compaixão. E a forma como Gustavo a olhava era com amor, cuidado e tristeza. Conversamos tanto durante as semanas seguintes após o aborto e depois só nos vimos no casamento. Achei que tudo tinha se resolvido, mas na verdade ele estava tendo que lidar com Valentina. O trabalho acontecendo, casa nova acontecendo, Thomaz acontecendo que nem me passou pela cabeça procurá-los para saber como estavam. Não percebi que estava chorando até Valentina pedir para eu não ficar daquele jeito. Limpei os rosto com as costas das mãos. Ela queria que eu ficasse como? Sei o quão silenciosa e perigosa pode ser essa doença.

Doce Surpresa, livro 02Onde histórias criam vida. Descubra agora