Nantur entrou no ônibus com a mente distante, pagou ao trocador e pegou o troco sem sequer parar para conferir. Em seguida, passou os olhos no ônibus em busca de um lugar, e se surpreendeu não só com o fato raro de ter lugar pra sentar, mas se surpreendeu mesmo ao ver Beto.
Nesse momento, sua mente saiu daquele mundo distante da qual vagava e viajou rapidamente a outro, Nantur se viu lembrando de todos os momentos passados com Beto.
'' Parece que o destino resolveu brincar comigo.'' - Pensou ele, achando graça.
Beto não era só um amigo que Nantur não via há tempos, Beto era o responsável por mostrá-lo que ele não havia nascido para seguir o amor tradicional e que seu coração não era só vermelho, mas tinha todas as cores do arco íris.
Beto mostrou a verdade, mesmo que sem perceber, e fez Nantur notar que não adiantaria fingir que não percebera.
Beto mostrou a Nantur quem ele era mas Beto seguiu sua vida.
Agora ele estava ali, sentado no banco, distraído no celular. Nantur era grato a Beto porque mesmo que ele não soubesse ele mudara sua vida, ou pelo menos influenciou para que ele pudesse vivê-la da forma que queria, e agora, depois de tanto tempo, depois de tantas outras pessoas, Nantur pareceu ter voltado anos e seu coração multicolor bateu mais forte.
E então, fingindo procurar um banco vago, e ignorando todos os que não fossem o banco ao lado de Beto, ele se sentou.
- Eita.- Surpreendeu-se Beto ao reparar quem sentara ao seu lado.- Perdão, você parece muita uma pessoa que conheço!
- Mas sou eu- Disse Nantur.- Você sumiu.
- Sabe como é... depois que nos formamos perdemos o rumo, não tenho mais tempo pra nada.
- Pois é, estava com saudade... quer dizer, estávamos todos com saudades..
- Qualquer dia desses devíamos marcar qualquer coisa, chamar todo mundo.
- Seria ótimo, mas Beto tem algo que eu queria te contar.- Disse Nantur subitamente, talvez se falasse rápido a falta de coragem não atrapalharia.
Ele virou o rosto e sentiu o ônibus parar de tremer, o som das rodas no asfalto parar, até a estrada na janela parecia ter sumido.
Parecia que o universo havia parado para ouvir o que ele tinha a dizer.
Uma pena, foi que em meio a esse transe, Nantur ouvir os gritos mais desesperados e sinceros.
Os gritos de quem está prester a morrer.
Os gritos de pessoas dentro de um ônibus, caindo ladeira a baixo.
Os últimos gritos que ele iria ouvir.
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Oportunidades - Conto.
RomanceQuando entra no ônibus, Nantur vê alguém que não via há tempos.